Por: Simone Kafruni
Correio Braziliense
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A
publicação do balanço da Petrobras teve repercussão positiva no Palácio do
Planalto e deve agradar ao mercado, na opinião dos especialistas, mas não reduz
os grandes desafios que a empresa tem pela frente. A estatal precisa retomar a
rentabilidade e enfrentar as ações judiciais nas quais é ré, nos Estados
Unidos, que pedem indenizações bilionárias, além de apresentar o novo plano de
negócios.
“O
Planalto avalia que é a superação de uma fase, e que a Petrobras terá todas as
condições de retomar seus projetos”, afirmou um porta-voz do governo. Para os
analistas, o valor das perdas com a corrupção, de R$ 6,2 bilhões, não foi tão
assustador quanto se cogitava. “Os números vão dar uma certa tranquilidade ao
mercado. Não foi um valor muito alto, apesar da subjetividade dos critérios de
apuração”, analisou o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie),
Adriano Pires.
ESTRAGO ENORME
Contudo,
o especialista ressaltou que o balanço deu a dimensão do estrago que foi feito
na empresa. “O prejuízo de 2014 foi do tamanho do lucro de 2013. Houve uma
queda brutal nos investimentos. Se a companhia quiser retomar a lucratividade,
tem um muito trabalho pela frente”, afirmou.
Na
avaliação de Alex Agostini, analista da Austin Rating, como o valor das perdas
com corrupção veio mais baixo do que se esperava — a estimativa chegou a R$ 20
bilhões —, o mercado deve reagir de forma positiva a partir de hoje. “O temor
que permanece é se a empresa vai conseguir se financiar. Se conseguirá fazer as
captações necessárias. Se isso não ocorrer, ela terá que recorrer ao Tesouro
Nacional, o que pode colocar em xeque a classificação de risco do país”,
alertou.
PREJUÍZO DE R$ 21,6 BILHÕES
No
balanço, a Petrobras anunciou um prejuízo de R$ 21,6 bilhões no ano passado, o
primeiro resultado negativo anual desde 1991. A companhia contabilizou uma
desvalorização de ativos no valor de R$ 44,6 bilhões e perdas de R$ 6,2 bilhões
com o esquema de corrupção investigado na Operação Lava-Jato. Os resultados do
balanços do terceiro trimestre e do ano de 2014 foram anunciados na noite de
ontem, com meses de atraso. As informações financeiras foram finalmente
auditadas pela empresa PricewaterhouseCooper (PwC), que, anteriormente havia,
se recusado a assinar os documentos sem que as perdas contábeis com a corrupção
fossem explicitadas.
Os
ajustes no balanço eram aguardados com expectativa pelo mercado. A empresa
explicou que a baixa de R$ 44 bilhões no valor dos ativos foi causada por
diversos fatores: a postergação de projetos em curso, a queda do preço do
petróleo, além da redução de demanda e das margens de ganho de produtos
petroquímicos. Apenas o atraso nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de
Janeiro (Comperj) foi responsável por desvalorização de R$ 21,8 bilhões.
O
provisionamento com perdas de recebíveis do setor elétrico, de R$ 4,5 bilhões,
as baixas de R$ 2,8 bilhões de valores relacionados à construção das refinarias
Premium, que foram paralisadas, e o provisionamento do programa de demissões
voluntárias, de R$ 2,4 bilhões, completam a justificativa para o prejuízo de R$
21,6 bilhões da maior empresa brasileira.