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Os guardiões do céu de Brasília

"Ao todo, são 500 pessoas envolvidas e 130 aeronaves. A aviação representa, primeiramente, uma atividade esportiva, mas a sensação de sair do chão e se tornar pássaro é indescritível"  (Everardo Albes Ribeiro, juiz aposentado)

Pilotos de ultraleve fazem do hobby um trabalho de fiscalização. Com uma visão privilegiada da capital, eles costumam denunciar invasões de terra, danos ambientais e focos de incêndio

Em meio a pousos e decolagens, Brasília é acolhida entre as asas das aeronaves que levantam voos todos os dias na Associação dos Pilotos de Ultraleve de Brasília (Apub). Da janela dos monomotores, pilotos contemplam os traços da cidade a 10 mil pés de altura. Mas, do alto, não é apenas a diversão que prevalece. O grupo de aviadores da entidade vai além do prazer em sobrevoar a capital: eles ajudam no monitoramento de incêndios e novas invasões de áreas públicas do Distrito Federal. De pilotos, passam a ser guardiões. Fiscalizam, sem nenhuma obrigação, as anormalidades no centro do poder. 


Ao todo, cerca de 200 amantes da aviação ligados à entidade ajudam a manter Brasília em ordem. Cada piloto, quando identifica uma irregularidade, aciona imediatamente órgãos do governo responsáveis pela área. A comunicação é feita por uma frequência de rádio ou em grupos compartilhados em redes sociais. São repassadas informações a respeito da localização da ocorrência, como latitude, posição da área e proximidade do local com regiões administrativas. A observação do alto é considerada privilegiada, uma vez que, por terra, a identificação nem sempre é possível. Com a atuação, aeroviários já ajudaram no combate a incêndio, na coibição de grilagem e de agressões ao meio ambiente.



O empresário e piloto há cerca de 15 anos Edimar Araújo Filho, 58, contou que há aproximadamente três anos existe a integração do grupo da Apub com as forças de segurança pública. Além de fiscalizar irregularidades no céu, a estrutura do aeroclube é ofertada às corporações do DF. Durante a Copa do Mundo, em junho do ano passado, o aeródromo foi usado como base de apoio da Polícia Militar do DF. “Antes de começar a integração, nós víamos agressões ao meio ambiente, construções em áreas de proteção ambiental, invasões, incêndios e não sabíamos o que fazer. Foi quando unimos o lazer a um objetivo social com custo zero para o Estado”, destacou.


Segundo Edimar, em épocas de seca, os pilotos chegam a notificar 30 focos de incêndio por dia ao Corpo de Bombeiros. “Geralmente, os locais onde acontecem as ocorrências são remotos. Criamos uma grande plataforma de observação ambiental. Estamos ajudando os órgãos fiscalizadores e temos um compromisso maior com a cidade”, ressaltou.

Há 28 anos o juiz aposentado Everardo Albes Ribeiro, 60, faz parte do grupo da Apub. Em janeiro, ele assumiu a presidência da entidade, criada em 1987. Para o piloto, o lado social é uma das ferramentas mais valiosas entre os aeroviários. “Ao todo, são 500 pessoas envolvidas e 130 aeronaves. A aviação representa, primeiramente, uma atividade esportiva, mas a sensação de sair do chão e se tornar pássaro é indescritível. O desafio de voar é atingir o impossível. As asas da aeronave são o prolongamento dos braços do piloto e, a cada reação da máquina, o comandante reage com ela”, destacou.

Cada ultraleve tem capacidade apenas para duas pessoas, o piloto e um acompanhante, e pesa aproximadamente 700kg. Eles atingem uma velocidade entre 70km a 315km. Além disso, podem voar a uma altitude de até 10 mil pés. O chefe da comunicação social do Corpo de Bombeiros, tenente-coronel Mauro Kaiser, confirmou que pilotos avisam à corporação sobre focos de incêndio identificados, mas, segundo ele, não há um acordo formal firmado entre bombeiros e aviadores da Apub. 

Com os estudantes


Além do trabalho social, a Apub tem um projeto de levar conhecimento a alunos da rede pública de ensino. Estudantes que visitam a entidade têm a oportunidade de aprender sobre técnicas e história da aviação. “Muitos saem daqui com o sonho de serem pilotos depois de conhecer a arte de voar. Eles ainda perguntam se é possível ser médico e, ao mesmo tempo, comandar um avião”, contou Everardo Albes Ribeiro. “Começamos com a visita de alunos da rede pública. Depois, ampliamos o projeto para grupos de escoteiros, orfanatos, casas de abrigo e, no fim do ano, oferecemos a chegada do Papai Noel de avião. É uma vocação que o grupo faz há pelo menos 12 anos”, acrescentou Edimar Araújo Filho.


Estudantes do Serviço Social do Transporte (Sest) e do Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat) também aprimoram os conhecimentos práticos nos laboratórios de peças da associação. Eles aprendem sobre a sequência de montagens e a construção de um ultraleve. Na última semana, 37 alunos começaram a montagem de um monomotor a partir de peças de aviões antigos. A cada seis meses, os pilotos recebem uma turma. 

Quer ser piloto?

A Apub oferece curso de aviação para quem tiver interesse. Anualmente, são ministrados três cursos e os alunos que participam das aulas terminam a experiência com a carteira de habilitação para piloto. A parte teórica dura cerca de três meses e é dividida em cinco disciplinas. Além disso, os estudantes precisam cumprir o mínimo de aulas práticas, referente a 40 horas. Os instrutores são capacitados pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A entidade fica no Setor Recreativo Público Norte Camping Área nº 4, na Asa Norte, ao lado do depósito do Departamento de Trânsito (Detran). Mais informações nos telefones (61) 3342-2639 / 3201-7487 e no e-mail secretaria@apub.com.br.



Fonte: Isa Stacciarini – Correio Braziliense 

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