Por Carlos Chagas
Os
senadores não tiveram coragem de vetar a indicação de Luiz Fachin para ministro
do Supremo Tribunal Federal, assim como os deputados aprovaram as medidas
provisórias que reduzem direitos trabalhistas e previdenciários. Quer dizer,
curvaram-se aos desejos da presidente Dilma, mesmo dando a impressão de
independência, demonstrando serem uma coisa só. Para não se desmoralizar por
completo, sortearam uma votação rotineira e desimportante para tentar
evidenciar um falso sentimento de confronto. Impediram a designação do
diplomata Guilherme Patriota para representante do Brasil na Organização dos
Estados Americanos, lugar vago há quatro anos.
Além
da evidência de fraqueza, nossos parlamentares deixaram clara sua submissão ao
palácio do Planalto, apesar de certas aparências retóricas. Não se deve
estranhar a postura do Congresso, de resto um dos mais conservadores dos últimos
tempos, perfeitamente afinado com o ajuste fiscal que pune os trabalhadores e
privilegia as elites. Aumento de impostos é com Suas Excelências mesmo. Se
alguém mudou foi Madame, não o Legislativo. Caíram as máscaras dela e do PT,
porque o PMDB está onde sempre esteve faz muito, ou seja, apoiando o governo.
Qualquer governo. Os demais partidos fizeram o dever de casa, alguns colando,
outros gazeteando.
O
rumor estridente dos panelaços parece não haver sido ouvido na Praça dos Três
Poderes, inexistindo sinais de que a indignação popular venha a aumentar. Pelo
contrário, a impressão é de que Dilma continuará praticando contradições e
espalhando a versão de que não mudou de time. Mudou sim, tornou-se neoliberal,
como a maioria de seus ministros e parlamentares da base oficial.
SEM REAÇÕES
Sendo
assim, não haverá que esperar grandes reações da esquerda posta em frangalhos,
a menos que sobrevenham inusitados. Acomodaram-se as centrais sindicais,
negando ao trabalhador meios para expor sua indignação. As elites venderam para
eles a falsa verdade de que é preferível manter os empregos. Cada um que se
vire e se aperte, quando o caminho natural seria aumentar o ritmo de protestos
e manifestações. Isso em meio a demissões em massa, estimuladas por um governo
que já foi dos trabalhadores. Hoje, é dos empreiteiros, das montadoras
estrangeiras e dos bancos.
Decepcionaram-se
outra vez quantos imaginaram os políticos, ou seja, os partidos, o Congresso e
os governadores, insurgindo-se diante do fato de a fatura ser outra vez enviada
aos menos favorecidos. As previsões são de dias piores frente a crise econômica
tratada com os mesmos remédios de sempre, aviados nos laboratórios das elites.