Com a prisão de importantes dirigentes da Fifa em hotel em
Zurique, entre eles o ex-presidente da CBF José Maria Marin, tem início o
desmonte de mais de 20 anos de histórias de fraudes, extorsões e lavagem de
dinheiro em esquema que as autoridades suspeitam possa ter movimentado, pelo
menos, US$ 100 milhões.
A notícia
das prisões interessa muito ao contribuinte torcedor de Brasília por pequena
particularidade: aqui foi erguida a mais cara arena construída para a
realização de evento da Fifa, o Estádio Mané Garrincha. Depois de torrar R$ 1,8
bilhão do dinheiro do cidadão, o estádio continua subutilizado, com o gramado
em péssimas condições, cadeiras quebradas, elevadores enguiçados, pisos
soltando e outros defeitos visíveis — prova do enorme prejuízo para a economia
da capital.
Somente
para a manutenção do prédio, o GDF terá que desembolsar R$ 600 mil mensais, o
que, convenhamos, é fortuna para um ente da Federação que se diz sem condições
de bancar o funcionamento básico de escolas e hospitais.
As
investigações foram feitas pela polícia americana, FBI, Receita e outras
instituições e contou com a ajuda fundamental do jornalista britânico Andrew
Jennings, considerado o inimigo número um da Fifa, proibido de frequentar
qualquer evento da entidade. Em depoimento dado ao Roda Viva, da TV Cultura,
Jennings afirmou com todas as letras que o descarrilamento da Fifa rumo ao
abismo da corrupção foi inaugurado com a entrada de João Havelange no comando
da entidade.
À prisão
desses dirigentes deve se seguir a de outros espalhados pelos quatro cantos do
mundo, colocando em xeque a própria existência da Fifa, o que pode levar na
enxurrada outras confederações pelos cinco continentes. Para o chamado país do
futebol, ainda estão reservados os desdobramentos de sérias investigações
feitas nos EUA que podem levar ao esclarecimento, inclusive da discutida
escolha do Brasil para sediar o Mundial de 2014.
Apontada
por muitos como pré-negociada, a escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo
de Futebol resultou não só na construção de elefantes brancos espalhados pelo
país, mas também envolveu o mundo político brasileiro, o que por si já é
indício de maracutaias (estão todos lá, bem sorridentes na foto oficial).
Para a
capital fica o mausoléu, com suas colunas em forma de prisão, símbolo de uma
era sombria quando futebol e política se cruzaram no meio de campo. De bom,
fica a oportunidade de livramento do futebol brasileiro da tutela criminosa da
CBF e da Fifa.
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A frase
que foi pronunciada
“Entre os
acusados de má conduta e insubordinação, não ficamos com nenhum.” - (Gerente
de Recursos Humanos em curso na Dale Carnegie contando da paz que é trabalhar
com alguém em que se pode confiar.)
Por: Circe Cunha – Coluna: “Visto, lido e ouvido” - Ari Cunha
– Correio Braziliense