O governador Rodrigo Rollemberg e o novo secretário de Saúde do Distrito Federal, Fábio Gondim (Foto: Tony Winston/Agência Brasília)
Ex-consultor do Senado assumiu após médico
pedir demissão do cargo. Área vive
'emergência'; Gondim determinou agenda aberta em postos
O novo secretário de Saúde do Distrito Federal, Fábio Gondim, afirmou ao G1 que
entre 80% e 90% dos problemas da pasta se resolvem com gestão. O ex-consultor
do Senado e ex-assessor de Roseana Sarney (PMDB) assumiu o cargo no lugar do
médico João Batista de Sousa, que pediu demissão na quinta-feira (23) após sete
meses de trabalho.
"Há desperdício, há desvio, há falta de medicamento,
há sobra de equipamento a ponto de ele ser perdido por perda do prazo de
validade. Os equipamentos são adquiridos sem uma sistematização"
(Fábio Gondim, secretário de Saúde)
Entre os problemas da área – que segue em estado de emergência até
janeiro do próximo ano – estão o desabastecimento de remédios,
baixa manutenção de equipamentos e déficit de servidores. Para o novo
secretário, também há falta de comunicação e outras falhas que culminam, por
exemplo, com compras duplicadas.
“Há desperdício, há desvio, há falta de medicamento, há sobra de
equipamento a ponto de ele ser perdido por perda do prazo de validade. Os
equipamentos são adquiridos sem uma sistematização. Mandei fazer uma norma
ontem, para que seja feita já a partir de hoje: todo processo de aquisição de
equipamento tem de ser acompanhado de um parecer por escrito da área de infraestrutura
e logística dizendo que há espaço físico e instalação adequada para recebê-lo”,
afirmou.
De acordo com Gondim, os sete meses de gestão do antecessor já
representaram uma mudança em relação a práticas do tipo. Ele também citou haver
investigações em andamento para apurar a conduta de servidores e possíveis
irregularidades cometidas na pasta, incluindo processos de improbidade.
“Sabe quem é a pessoa mais importante do sistema de saúde? O paciente.
Essa que é a nossa visão. Quando entrar um paciente lá, eu quero que as pessoas
que trabalham nos postos de saúde olhem o paciente como se fossem o secretário.
Cada usuário ali tem que ser o secretário, ele é que manda, ele é que precisa,
ele que precisa ser bem cuidado. Quando a gente começar a ter esse tipo de
visão, tudo vai mudando naturalmente. Porque é muito probleminha que pode ser
resolvido com cuidado. É uma gestão simples, não é nem muito avançada, não”,
afirmou.
Diferentemente dos antecessores, o novo secretário não é médico. Ele tem
47 anos e foi secretário de Gestão e Previdência do governo de Roseana Sarney
(PMDB) de 2011 a abril de 2014 no Maranhão. O gestor se desincompatibilizou
para se candidatar a uma vaga de deputado federal pelo PT, mas não se elegeu.
Gondim disse não ter um prazo determinado para ficar à frente da
Secretaria de Saúde e não descartou a possibilidade de deixar a pasta antes de
2018 – quando termina o governo de Rollemberg.
"Vou me dedicar muito. Eu não me sinto nem no
direito de folga enquanto não tiver resolvido minimamente, não tenho coragem de
estar no clube com a família enquanto houver gente morrendo no hospital"
(Fábio Gondim)
"Vou me dedicar muito. Eu não me sinto nem no direito de folga
enquanto não tiver resolvido minimamente, não tenho coragem de estar no clube
com a família enquanto houver gente morrendo no hospital", declarou.
"É um cargo que as pessoas não aguentam ficar muito tempo."
"Tenho algumas metas a cumprir que estou criando ainda na minha
cabeça. Assim que eu tiver definido o que dá para fazer, eu sei como funciona
minha cabeça. Quando eu estiver com isso pronto, eu vou me desobrigar. Quando
isso vai acontecer eu não sei. [...] Acho que 2018 está longe. Quero ver se
arrumo o que dá [antes]. Prefiro não dizer, não há nada combinado
previamente", completou.
Respondendo a um processo por improbidade administrativa, Gondim diz ter
sido alvo de "questões políticas" da nova gestão do Maranhão,
adversária da família Sarney no estado. Ele foi acusado de negar informações ao
portal da transparência do estado.
"Houve um processo administrativo disciplinar no qual eu não tive
nem oportunidade de me defender. Quando eu soube, é um processo de cunho muito
político", declarou no dia da posse. "Não tenho dúvidas de que isso
vai se mostrar um equívoco."
Mudanças
Entre as novidades já determinadas por Gondim está a abertura das agendas dos postos de saúde, para desafogar as emergências a partir de esta segunda. “Estou com dor de ouvido agora, eu não tenho que agendar para cuidar da minha dor de ouvido, eu não preciso ir para emergência porque estou com ouvido doendo.”
Entre as novidades já determinadas por Gondim está a abertura das agendas dos postos de saúde, para desafogar as emergências a partir de esta segunda. “Estou com dor de ouvido agora, eu não tenho que agendar para cuidar da minha dor de ouvido, eu não preciso ir para emergência porque estou com ouvido doendo.”
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É muito probleminha que pode ser resolvido com
cuidado. É uma gestão simples, não é nem muito avançada, não"
(Fábio Gondim, secretário de Saúde)
Ele também citou a importância de renovar as instalações físicas e
deixar os hospitais apresentáveis. A ideia é que a população se sinta melhor
acolhida nas unidades de saúde.
“Ninguém está feliz de ir ao hospital. Todo mundo vai triste, chateado.
E chega lá, a ambiência está ruim, a pessoa te atende de cara feia, chateada,
porque também já está mal humorada. Espera, porque você tem que dar prioridade
para os pacientes vermelhos, e às vezes tem que priorizar mesmo. A porta de
entrada da rede de saúde tem sido quase que exclusivamente as emergências”,
declarou.
Ao deixar o cargo, João Batista de Sousa informou que faltavam 71 dos
850 medicamentos preconizados pelo SUS – incluindo antibióticos usados para
combater sífilis, toxoplasmose e inflamações no coração – e havia 50 leitos de
UTI fechados. Ele também citou "vulnerabilidades" na radioterapia,
saúde mental, tratamento intensivo e emergências.
Entre as principais dificuldades enfrentadas pelo ex-secretário está a
infecção de nove pacientes por superbactérias, o que motivou a criação de
um plano que pedia reforço na higiene de hospitais públicos. Sete deles
morreram. Além disso, imagens feitas na primeira metade do ano mostraram
funcionários atendendo pacientes vestidos com sacos plásticos, por falta de
avental, e lençóis sendo lavados em casa.
Fonte: Raquel Morais
Do G1 DF