O
Brasil pode parar na próxima década. Transitar nas grandes cidades será tarefa
árdua para os que preferem o transporte rodoviário. O grande desafio dos
governantes, neste momento, é estabelecer uma política de mobilidade urbana
adequada para evitar o colapso no trânsito. O império do pneu não pode mais
adiar a decisão em favor do transporte de pessoas e carga sobre trilhos — opção
estratégica adotada há muitos anos pela maioria dos países, principalmente os
de melhores índices de desenvolvimento humano (IDH).
As soluções no Brasil
são efêmeras porque, na maioria das vezes, não se pensa em projetos
estruturantes de Estado, mas em ações de governo limitadas a uma gestão
temporal de quatro anos e motivadas pelo calendário político-eleitoral. Nenhuma
mobilidade é comparável à alta capacidade de transporte do metrô — 90 mil
passageiros por hora — ou dos trens urbanos, semiurbanos e regionais de
superfície, marca registrada de transporte eficiente em muitos países.
Brasília poderá ser
referência nessa área, por meio de um sistema metroviário integrado com outros
modais para atender à demanda cada vez mais crescente pelo transporte público.
É isso o que pretende fazer a Companhia do Metropolitano do DF (Metrô-DF). Com
o compromisso consignado no programa de gestão pública do governador Rodrigo
Rollemberg, a prioridade estratégica é investir nos trilhos. Queremos colocar
ordem no trânsito e ampliar o número de usuários para meio milhão de pessoas
por dia. Hoje, são transportadas 210 mil pessoas.
A partir de agosto
deste ano, serão lançados os editais de licitação para as obras de expansão do
metrô para a Asa Norte, a criação de novas estações em Ceilândia e Samambaia, a
conclusão das estações na 104, na 106 e na 110 Sul, a compra de novos trens e a
modernização do sistema operacional. Também teremos a contratação de estudos e
projetos para implantação da Rede Integrada de VLTs (trens leves), em
Taguatinga/Ceilândia, Eixo Monumental e W3 Sul/Norte, a partir de 2016. Queremos
que cada vez mais brasilienses deixem seus carros em casa e possam ir de trem
ao trabalho, estudo e lazer.
A dependência do
carro é uma realidade dos moradores de Brasília, impulsionada pelo transporte
coletivo de baixa qualidade. A frota, com mais de 1,5 milhão de veículos,
cresce continuamente e boa parte deles leva apenas o motorista. Em
contrapartida, os trens transportam 1.400 pessoas de uma vez e têm vantagens
ambientais incomparáveis — elétricos, sustentáveis e menos poluentes, são mais
eficientes. A ausência de obstáculos no trajeto faz com que cheguem mais rápido
ao destino, com um ganho precioso de tempo.
Não dá mais para um
trabalhador de Luziânia (GO), por exemplo, demorar mais de duas horas para
chegar ao seu local de trabalho, em Brasília, por absoluta falta de uma rede de
trens regionais. Ou um morador da Asa Sul demorar até uma hora para ir da
Esplanada dos Ministérios, em horário de rush, até a sua residência, por falta
de um sistema público de mobilidade eficiente. Os trilhos são a solução para a
mobilidade urbana e semiurbana no DF. Só assim teremos condições de eliminar o
gargalo logístico da infraestrutura de transporte de pessoas e cargas com um
mínimo de competência.
Talvez tenhamos o
único centro urbano do país com amplas vias, capazes de provocar essa mudança.
Isso sem falar no combustível fóssil poluente, grande vilão do aquecimento
global, que deixará de ser jogado na atmosfera das cidades, melhorando
consideravelmente a qualidade do ar que respiramos. Trazer o VLT, expandir o
metrô e tornar realidade os trens regionais Brasília/Luziânia e
Brasília/Goiânia para o cotidiano do brasiliense é dar dignidade aos milhares
de moradores da região metropolitana de Brasília.
O Metrô-DF quer fazer
uma revolução no sistema de transporte público sustentável da capital, como os
metrôs em diversas cidades no mundo. Quer fazer a integração intermodal
principalmente com o sistema cicloviário, sem esquecer ônibus e carros (quem
sabe elétricos, em um futuro próximo). Temos capacidade para isso, com o apoio
da população, recursos necessários contratados junto ao Governo Federal, por
meio do Ministério das Cidades/Caixa Econômica Federal, e definição clara de
prioridades elencadas pelo Governo de Brasília e pela Secretaria de Mobilidade.
Centenas de milhares
de pessoas já fizeram a opção de andar nos trilhos para se locomover no DF. É
nelas e nos milhares de outros futuros usuários que precisam e reivindicam, com
razão, um sistema público com um mínimo de eficiência, eficácia e efetividade,
que vamos focar o nosso trabalho. Como diz um pensador: “A mobilidade é a alma
e a vida de uma cidade. Se ela parar, entra em colapso e morre”. Vamos tirar
nossas cidades da UTI. Vamos colocar Brasília nos trilhos.
Por:
Marcelo Dourado – Presidente do Metrô-DF