Por: Eliane Cantanhêde - Estadão
A pesquisa Ibope teve
um efeito desolador no PT, que se esforça para ser guardião de uma presidente
da República que não queria e para fingir que acredita em Lula como boia de
salvação. A sensação é de fim de festa, com o salão desarrumado, copos quebrados,
guardanapos pelo chão e bêbados vagando sem rumo, enquanto o Titanic aderna.
A aprovação de Dilma
Rousseff despencou para um só dígito e a rejeição é a maior em 29 anos, pior
mesmo do que as de Collor e de Sarney, os excampeões de impopularidade. O campo
da pesquisa, curiosamente dez dias antes da divulgação, não pegou os 15 minutos
de glória de Dilma com Barack Obama nem captou, do outro lado, as revelações de
Ricardo Pessoa envolvendo campanhas de Lula e Dilma e, de uma tacada só, dois
ministros com assento no Planalto. Soma daqui, subtrai dali, o resultado é
atual.
Chocado, o PT vê a
presidente serelepe, curtindo a dieta da moda e pedalando sua bike ribanceira
abaixo, enquanto leva uma bola nas costas atrás da outra no Congresso, ora com
um novo fator previdenciário, ora com o aumento de até 78% dos funcionários do
Judiciário. E, assustado, descobre que Lula está sem rumo, sem vontade e sem
tantos seguidores assim que estejam dispostos a afundar com ele e Dilma em toda
essa lambança.
A proposta que Lula
levou para as bancadas do PT no Congresso e para os líderes ainda aliados do
PMDB é, em si mesma, um sinal de desespero: um pacto de governabilidade entre
os três Poderes para “tirar o País da crise”. Leiase: ele sonha numa “união
republicana” do Legislativo e do Judiciário em torno do Executivo para tentar
salvar o mandato periclitante da pupila Dilma.
Como pensar em “pacto”
entre Poderes, justamente num ambiente de desconfiança entre eles e de críticas
generalizadas à presidente? O Executivo perdeu o controle e ficou a reboque do
Congresso e da Justiça. O Legislativo está nas mãos de Renan Calheiros e
Eduardo Cunha, que impõem uma derrota atrás da outra ao Planalto e estão no
foco do Judiciário. E o Judiciário não apenas investiga os presidentes da Câmara
e do Senado e boa parte dos congressistas, como pode se ver na iminência de
julgar ministros da antessala de Dilma.
Deputados e senadores
petistas ouviram a ideia de Lula com reverência, como fazem há mais de 35 anos,
antes mesmo da criação do PT, mas saíram dali envoltos em profundo desânimo. Se
isso é tudo o que o gênio da política tupiniquim tem a oferecer, é porque a
coisa está para lá de ruim.
Já os caciques do PMDB
nem fizeram questão de esconder o ceticismo com a solução improvisada – aliás,
com tudo. Octogenário e vivendo o ocaso da carreira política, José Sarney foi
além e disse o que todos ali pensavam, mas não ousavam admitir: a esta altura,
com o governo desmoronando, a economia idem e Dilma autista, pode ser tarde
demais para qualquer reação. Segundo relatos, Sarney avaliou, sem subterfúgios,
que a possibilidade de Dilma cair é cada vez mais real.
Se as conversas de Lula
com o PT e o PMDB amigo já foram nesse ambiente desolador, imaginem se, em vez
de terem sido na segunda e na terça, tivessem sido na quartafeira, dia da
divulgação do Ibope? Os próprios petistas começam a dar sinal de cansaço. Eles
se ressentem do erro fatal que foi chegar alegremente ao paraíso das benesses e
das maracutaias e, como tiveram de engolir a imposição do nome de Dilma para a
Presidência, não encontram argumentos – e, na verdade, nem têm vontade – para
defendêla agora. Pior: muitos não botam mais fé em Lula, que também demonstra
frustração, medo, impotência.
“Lula não manda mais
nada”, atesta um velho amigo, repetindo literalmente o que a senadora Marta
Suplicy diz há tempos e revelando que achou o expresidente deprimido, sem
encanto, incapaz de apontar caminhos e de convencer como précandidato em 2018.
Como todos os demais, Lula está vendo o desastre chegar sem saber como impedi-lo.
Nem como sobreviver a ele.