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Entrevista: “Posso ser independente e ser crítica a qualquer governo”, afirma Liliane Roriz



O ex-governador Joaquim Roriz, com a filha Liliane...
“Embora pense que o momento é difícil, não é um momento que a gente tenha que deixar o governador isolado”
Apesar de reconhecer as diferenças ideológicas entre o atual governo e sua história política, a deputada distrital Liliane Roriz (PRTB) diz que o momento é de apoio para superar a crise. A parlamentar acredita que a gestão passada tenha deixado uma herança muito ruim para o atual governo.

Liliane exalta o trabalho de seu pai, Joaquim Roriz, e reconhece que tomaria decisões diferentes do atual governo no que diz respeito às ações da AGEFIS. “Meu pai nunca fez essas ações traumáticas, eu também não faria se estivesse no lugar do governador”.

A deputada se diz muito satisfeita com a realização de um acordo costurado em seu mandato para a viabilização de ferrovias no setor de transportes do Distrito Federal, que contará com o capital de um grupo de investidores italianos.

Segundo Liliane, o transporte público precisa melhorar e a saída seria justamente o investimento em veículos sobre trilhos. “Sou muito a favor de transporte sobre trilhos. Acho que é a alternativa do mundo. O mundo mostra que esta é a grande solução. Não tem mais espaço físico na cidade para abrigar mais carros e ônibus”. Ela defende ainda a regulamentação do aplicativo UBER, como “acompanhamento das expectativas da população”.

Na visão da deputada, as melhorias na saúde passam pelo caminho da melhor gestão do orçamento do fundo constitucional, na prevenção e na criação de novos hospitais. “Queremos melhorar a questão da saúde da nossa cidade, que ainda é um problema muito grande, a população aumentou muito. O meu pai foi o que fez os últimos hospitais da cidade, o do Paranoá e o de Santa Maria, de lá pra cá não se fez nenhum hospital. A população cresceu e os atendimentos de UPA não são suficientes, aumentou muito pouco o número de leitos de UTI”.

Qual foi o foco do seu mandato neste primeiro semestre?
Criamos algumas boas expectativas neste primeiro semestre do meu segundo mandato como deputada distrital. Sabemos que o governo está passando por muitas crises, uma herança muito ruim que foi deixada pelo governo passado para este governo. Contudo, tentamos criar algumas leis que pudessem ao menos diminuir este sofrimento das pessoas. Consegui aprovar aqui na Câmara, pendente ainda a sanção do governador, dois projetos importantes que são a isenção do ICMS de 7% dos medicamentos e também 7% dos produtos que compõem a cesta básica. Embora a gente saiba que isso não vai muito de encontro com aquilo que o governador prega que é conseguir mais orçamento para gastar nas prioridades da cidade, para pagar as dívidas que estão aí do governo passado. Mas acredito serem importantes estes dois projetos que isentam a população de pagar este quantitativo de ICMS. Neste semestre foram muitos projetos, pois estamos sempre preocupados em dar melhores condições de vida para as pessoas. Mas o que tenho como umas das coisas mais importantes que consegui, foi realizar a parceria com um grupo italiano para criação de uma ferrovia. Conseguimos convencê-los a investir na cidade, tanto no Distrito Federal quanto no Goiás, que foi a questão da construção da ferrovia de Luziânia a Brasília e de Brasília a Goiânia. Foi uma luta muito grande no que toca o convencimento a estes empresários italianos a investir na cidade, e também conseguir vender praticamente esta ideia para o governador de Goiás e do Distrito Federal, e depois para o ministro dos transportes. Foi muita alegria, tivemos um encontro com o governador e ele ficou muito entusiasmado e o governador de Goiás também. Na semana passada fizemos uma agenda junto com os governadores e o presidente da ANTT para fecharmos um lançamento desse estudo das ferrovias, que será agora no dia 17 de setembro. Isso também sempre foi um grande sonho do meu pai. Entendemos que a população é muito sacrificada, uma pessoa sai de casa e para chegar no horário hoje em Brasília, especialmente quem vem de Luziânia, Cidade Ocidental ou Valparaíso, ela gasta muito tempo e a pessoa já chega cansada para o trabalho. Então, acho que com essa alternativa de transporte de passageiros, e de cargas também, vai ser muito importante para esta região e para Brasília, principalmente para os trabalhadores. Então foi uma coisa que aconteceu recentemente que nosso mandato buscou e que a gente agora está torcendo para que tudo dê certo.

Quais os detalhes que ainda faltam para dar certo?
Praticamente os investidores italianos já deram certeza de que vão investir. Agora estão concretizando os estudos de viabilidade na questão das ferrovias. Acho, Deus queira, que mais tardar estas obras já começam no próximo ano.

A senhora, por ter citado seu pai, acredita ter herdado dele este espírito por grandes empreendimentos?
Acho que sim, meu pai foi muito vibrante. Acho que foi desde pequena convivendo com meu pai, buscando soluções bem avançadas, fora do tempo, como o metrô. Quem diria, naquela época, quando ele falava em metrô e muita gente criticava que Brasília não tinha necessidade de ter metrô. Então a gente ve aí o homem visionário que ele é. Já imaginou Brasília sem metrô? E falando também da questão mais polêmica hoje que se chama água. Quem imaginaria que o Brasil passaria por esta crise hídrica que está passando. E ele com muito esforço, com muita rapidez de raciocínio, pensou que seria muito importante para o abastecimento de toda esta região que se construísse uma represa. E não só pensando na questão hídrica, mas na questão energética também. Acho que isso trouxe pra gente uma visão diferente dentro de casa, a tomada de decisão que é muito importante. Porque se ele não tivesse tomado decisão de fazer Corumbá IV, acho que Brasília aos poucos teria crise como estão tendo outros estados. Então a tomada de decisão é o mais difícil. Como ele também tomou a decisão de fazer a ponte JK. Teve o projeto do hoje senador Cristovam Buarque, ele fez o projeto, mas e a decisão de fazer? Depois dele, ninguém mais fez um quilômetro de metrô.

Como a senhora avalia os primeiros meses da gestão do novo governador e como está sendo construída a relação do executivo com a Câmara?
O governo passado foi muito traumático, por ter sido oposição do último governo , a gente participou muito pouco das decisões da cidade. Mesmo assim estive atenta, entendendo que acima de questões partidárias, teríamos de priorizar a população do DF. Então não fui uma adversária que pudesse pôr o dedo em riste para as pessoas, agredir as políticas do governador passado. Embora muito crítica, cobrando muito a questão de gestão. Este governo eu me propus a não ser uma adversária. Propus-me a ajudar, sabendo de toda crise que Brasília está passando, das dificuldades que estão aí. Então me coloquei a disposição do governador Rollemberg para que ele entendesse que nós, embora com uma distância ideológica muito grande, estaríamos dispostos a colaborar com este desafio que ele também pegou. Fui eleita como vice-presidente da Casa nesta tratativa de sempre ajudar a cidade, de votar a favor dos projetos que beneficiam a cidade e assim o fiz até agora. Não tenho participação no governo, então eu posso ser muito crítica também, como uma pessoa que tem o discernimento para colocar meu posicionamento. E o governador respeita muito isso, ele se fez uma pessoa muito diferente do que sempre foi. Tem sido uma pessoa que tem uma tratativa muito decente com a história política do meu pai. Ele inclusive recentemente foi à sessão de recebimento do título de cidadão honorário que meu pai recebeu no memorial JK. Foi uma deferência muito grande da pessoa do governador Rodrigo Rollemberg. E também em outras ocasiões, onde ele foi fazer uma visita para o meu pai em sua residência. Então estes gestos de aproximação eu não vejo o menor problema nisso. Porque ele é da cidade, do começo da cidade. Ele veio para cá muito jovem, e eu estou na cidade há 48 anos, então a gente sabe da responsabilidade para quem está aqui desde o começo. E sabendo também que essa região toda daqui pertencia às famílias tanto da minha mãe quanto do meu pai. Então a gente começa a entender que isso é um laço afetivo muito grande. Portanto não queremos que a cidade agonize como ela ficou recentemente. Queremos melhorar a questão da saúde da nossa cidade, que ainda é um problema muito grande, a população aumentou muito. O meu pai foi o que fez os últimos hospitais da cidade, o do Paranoá e o de Santa Maria, de lá pra cá não se fez nenhum hospital. A população cresceu e os atendimentos de UPA não são suficientes, aumentou muito pouco o número de leitos de UTI. Temos que entender que estas são situações inerentes ao que o Brasil também está vivendo, não só Brasília. Então estou tentando encontrar soluções com o governador para os problemas da cidade, colaborando com aquilo que é importante para a cidade aqui na Câmara Legislativa, votando projetos que são importantes e cruciais para a cidade. Esse é o gesto de amor que temos pela cidade e espero que o governador a partir de agora, para estes próximos meses, possa iniciar obras importantes. Enfim, são situações do dia a dia que fazem com que a gente avalie muito bem a posição de ser ou não oposição. Ser oposição numa situação crítica que ele está passando hoje é muito fácil, é fácil criticar, é fácil jogar pedra, porque a pessoa não precisa ter compromisso. Tenho compromisso com a cidade, eu não estava com o governador na campanha, não fiz parte da coligação dele, como eu também não fiz parte da coligação do PT. Que seja o PT ou mesmo esta atual gestão do governador Rodrigo Rollemberg, é preciso se atentar a isso, porque eu posso ser independente e ser crítica a qualquer governo. Posso fazer isso, pois tenho esta prerrogativa. Embora pense que o momento é difícil, não é um momento que a gente tenha que deixar o governador isolado. É tentar ajudar o governador no que for possível. Isto é ser responsável com a cidade. Devemos apontar o que está certo e o que está errado. Esta é minha linha.

Quais os caminhos que a senhora aponta para esta melhoria na saúde do DF?
Saúde: “devemos buscar uma solução imediata”.
O Brasil vive um problema muito ruim com a falta de médicos. Teria que lá atrás ter estimulado mais isso, porque isto é um problema que vem lá atrás, não é de agora. É um problema que já vem se arrastando, esta falta de médicos no Distrito Federal. Então foi criado pelo governo do meu pai, não tem como falar de agora se não voltarmos lá atrás, a faculdade de medicina. Isto seria como um crédito ofertado aos estudantes, para estimular o estudo de jovens de Brasília ou aqueles que viessem de fora, que em contrapartida trabalhassem nos hospitais. Então este é um problema que teria de ser resolvido na base, que o Governo Federal tem de tomar atitudes que também possam repercutir na cidade. A gente sabe que falta medicamento, falta UTI, até mesmo porque a população cresceu muito. Sabemos que a necessidade é muito grande nos atendimentos de saúde da família, atendimento ambulatorial que seria os primeiro atendimentos, para que as pessoas não tenham como única opção buscar os hospitais e sim passar por postos de saúde que meu pai também construiu muitos, pensando nesta questão de que não se precise recorrer a intervenções, mas a uma saúde profilática. Tem que se pensar, fazer um estudo. Em outros estados se fala muito em privatizar a saúde, fazer OSS na questão da saúde, mas ainda não tive oportunidade de estar num hospital onde funcionassem as OSS para saber se pode ser implantando aqui. Mas acho que devemos buscar uma solução imediata, não pode perder muito tempo. Porque as pessoas estão sofrendo nas filas dos hospitais, buscando medicamentos e cirurgias. Acho que é uma decisão que tem que ser em conjunto com a população, porque aqui na Casa nós já fizemos diversas audiências para saber se a alternativa de privatizar a saúde seria a melhor. Então é uma discussão que toda população precisa entrar. Estou muito disposta a entrar neste debate para achar uma solução para saúde.

Quanto a este momento conturbado entre a AGEFIS e os moradores de condomínios juntamente com as ações na orla do lago Paranoá, qual sua avaliação?
Demolição das moradias: “foi muito traumático, a pessoa vive numa casa sabendo que amanhã ela não terá onde morar.Isso é cruel”. A AGEFIS tem um papel muito importante para a cidade. Eu não participava do governo do meu pai, mas naquela época era importante que se criasse um setor de fiscalização. A AGEFIS desempenha bem o papel dela de fiscalizar, e é prerrogativa dela. Existe também o desafio de colocar a cidade numa legalidade. O que não pode é estimular a invasão sem ao menos entender se aquele local tem possível regularização no futuro, ou se o governo vai fazer alguma construção que beneficie a população lá. Estas ações da AGEFIS, sendo elas muito traumáticas para a população, talvez fosse necessário ter um cuidado maior e que o governador entrasse nesta discussão com a população. Embora ele sempre dissesse que foi uma decisão da justiça que ele tinha de remover estas construções, porque senão ele perderia a garantia do empréstimo do BIRD. Então ele teria que construir ali alguns aparelhos públicos, onde havia algumas casas, residências instaladas sem licença. Enfim, isso foi muito traumático porque acho que a pessoa que vive numa casa sabendo que amanhã ela não terá onde morar, isso é cruel. Teria que ser dado uma oportunidade para estas pessoas, mesmo que fosse um financiamento para que pudessem se instalar em outro lugar. Tudo bem que já havia o aviso, a notificação, mas que fosse dado um prazo para que estas pessoas pudessem reconstruir suas casas em lugares que pudessem ter escrituras definitivas. Portanto, todas estas ações são traumáticas, mas a gente espera que o governador dê resultado prático nisso. Tanto as derrubadas aqui no Lago Sul venham dar resultado, e este resultado vai ser bom no sentido de viabilizar para que as pessoas tenham acesso ao lago. Isso é importante. Mas existem alguns acessos ao lago que não estão recuperados, não seria o caso de recuperar primeiro estes lugares que já têm acesso e depois então partir para uma operação dessas? É importante não só o acesso, mas também a preservação do lago, das margens do lago. Acho que tudo tem que ser muito pensado. Meu pai nunca fez essas ações traumáticas, eu também não faria se estivesse no lugar do governador. Não tomaria esta decisão, embora eu pudesse ser muito criticada, mas eu colocaria outra solução, especialmente para estas pessoas que estavam vivendo na Vicente Pires, e também uma opção para os moradores do lago sul, encontraria uma justificativa para que convencesse as pessoas envolvidas nestas operações para que não fossem tão radicais. Gostaria que isto tivesse sido de outra forma, menos trágica, menos sangrenta do que foi.

Existe muita polêmica e discussão em torno do transporte público com insistentes cobranças de melhorias neste serviço, qual sua visão deste setor?
 Na verdade, o transporte público sempre tem que melhorar. Sou muito a favor de transporte sobre trilhos. Acho que é a alternativa do mundo. O mundo mostra que esta é a grande solução. Não tem mais espaço físico na cidade para abrigar mais carros e ônibus. Veja que todos os estacionamentos estão lotados, então não seria esta a solução. A gente sabe que tem que ter um transporte complementar. Os ônibus seriam uma alternativa complementar destes outros meios, tanto de metrô quanto um VLT. O governo tem que se atualizar, e acho que o atual governador esta fazendo esta tentativa. O que não podemos é ficar refém de grupos empresariais que comandam a cidade, fazem da cidade o que querem, param o transporte público na hora que quer, até mesmo sem avisar da paralisação, isto é um crime contra a população. Eles não têm um posicionamento com as pessoas, que ainda precisam pagar caro por um transporte que não satisfaz. Isto é muito cruel, é desumano, as pessoas terem de usar o transporte público de Brasília desta forma, com tanto ônibus lotado. É preciso haver um planejamento, porque sempre abre crédito para pagar mais as empresas, subsidiar mais o transporte público e não melhora nada. Tem que se fazer uma revolução no transporte público.

Esta revolução nos transportes seria compatível com a discussão em torno do UBER?
Taxis x Uber, Percebo que temos de acompanhar as expectativas da população, e se isto é um desejo da cidade, vamos aceitar isso como uma obrigação nossa de regulamentar. Porque o importante é regulamentar o UBER, regulamentando, qual o problema de existir o UBER? Até mesmo porque sou seguidora da frase do meu pai de que governar é definir prioridades depois de ouvir o povo.

Na segurança pública é preciso uma revolução bem como no transporte?
Creio que além de uma revolução, podemos aproveitar também o que já existe. Por exemplo, a Secretaria de Segurança Pública ela tem disponível hoje câmeras de segurança espalhadas em todas as cidades. Porque que muitas destas câmeras não estão funcionando ainda? O Agnelo comprou não sei quantas câmeras, elas foram instaladas? Por exemplo, vou promover uma audiência pública aqui para discutir a questão da linha 190 que sempre foi operacionalizada pela Polícia Militar e agora está sob o comando de pessoas contra quem a gente recebe muita reclamação. Pessoas que não sabem operar o sistema. Então estamos abrindo a discussão aqui para saber se a população ganhou ou deixou de ganhar, como está sendo feita esta operação do 190 e se está dando resultado, se não seria melhor voltar ao controle do comando da Polícia Militar. Acredito que o comandante da Polícia Militar está fazendo um esforço absoluto para melhorar a segurança do DF. Ele tirou muita gente do setor burocrático administrativo e colocou nas ruas. Isto foi uma coragem muito grande, uma decisão muito forte dele, e sabemos que existe recurso para isso, o fundo constitucional que foi meu pai quem deixou como mais uma herança, para que Brasília nunca estivesse de pires na mão no Governo Federal em áreas importantes como saúde, educação e segurança. Basta entender que é preciso fazer uma melhor gestão destes recursos, deste fundo.

É possível que estas revoluções aconteçam em um futuro próximo?
Meu desejo é que todas estas transformações fossem rápidas, que as pessoas não pudessem mais ter problema nos hospitais, nem problema com transporte público, com segurança, educação. Acredito nisto, que Brasília tem condição de ter uma qualidade de vida, como já teve no passado o melhor IDH do Brasil. Então tenho muita esperança e acredito que os bons tempos possam voltar. Acredito que temos em Brasília pessoas que têm muita vontade que a gente supere esta crise e que Brasília volte aos seus tempos melhores.

Por: Eliezer Lacerda, Blog Edgar Lisboa – Compartilhado do Blog Edson Sombra


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