Na
campanha publicitária institucional (hotsite), veiculada pelas redes de
televisão, os Correios utilizam imagens dos jogos Rio 2016 , que patrocina,
destacando a força e a garra de muitos atletas brasileiros para chegar ao
pódio, com a frase de efeito: “Isso é entrega”.
Nos
bastidores do mundo real, onde a propaganda não alcança, a situação é outra. O
fundo de pensão dos Correios, Postalis, administra o patrimônio de
contribuições dos quase 200 mil trabalhadores da empresa e tem como missão
principal garantir rendas e pecúlios futuros. Dentro da chamada previdência
complementar, o Postalis, há pelo menos uma década, vem fazendo água.
Ainda em
março deste ano, o noticiário geral dava conta de que o fundo havia perdido 25%
do patrimônio, num rombo calculado em R$ 5,5 bilhões. A conta do desastre seria
debitada, lógico, entre os associados e a empresa, ao longo de 15 anos. Naquela
mesma época, a disputa acirrada, de quase uma década entre PT e PMDB pelo
controle do Postalis, foi apontada como a causa principal do prejuízo
bilionário.
O
aparelhamento político na gestão dos fundos, com a alocação de prepostos dos
partidos no comando de recursos tão abundantes, nunca foi visto com bons olhos.
Exemplo da intromissão política no Postalis ocorreu na última campanha à
Presidência da República. Naquela data, os Correios, em Minas Gerais, foram
acusados de boicotar a entrega dos santinhos do candidato Aécio Neves e
facilitar, ao mesmo tempo, a distribuição do material de campanha de Dilma
Rousseff, mesmo sem o selo correspondente obrigatório. O fato foi gravado e é
público. Disse o deputado Durval Ângelo, do PT mineiro: “Se hoje nós temos a
capilaridade da campanha do (Fernando) Pimentel e da Dilma em toda Minas
Gerais, isso é graças a essa equipe dos Correios”.
Relatório
de auditoria do Tribunal de Contas da União afirmou que os Correios
descumpriram as próprias normas. O envio de propaganda eleitoral sem chancela
ou comprovante da postagem foi ilegal. Uma nota do partido explica que o
pagamento feito à vista, na modalidade sem contrato, é comumente utilizado por
pessoas físicas e jurídicas e está disponível na internet. O imbróglio continua
quando o tribunal acusa os Correios de fornecerem informações inverídicas e
insuficientes à equipe que fez a auditoria. Por enquanto ficou tudo como está.
Chama a
atenção também o direcionamento suspeitíssimo de parte dos recursos do Fundo na
compra de papéis podres de governos falidos como da Argentina e da Venezuela e
de investimentos em bancos quebrados como o BVA em 2013. Trata-se, antes de
tudo, de uma questão delicada envolvendo o futuro de milhares de
aposentadorias. Também não causa espanto que os sindicatos da categoria,
fortemente aparelhados, não tenham se posicionado em defesa desses
trabalhadores de quem recolhem impostos milionários.
Agora,
chega a notícia de que finalmente o Ministério Público Federal do Distrito
Federal abriu investigação criminal para apurar indícios de malversação de
recursos no Postalis, que vão desde erros na contabilização de provisionamentos,
aquisição de ativos em desacordo com CMN até pagamento em cascata de taxas de
administração dos fundos de investimentos. A determinação do bloqueio de bens
dos controladores, além de ficar muito aquém dos valores dos prejuízos, não
resolve o caso e esconde os verdadeiros culpados pela dilapidação do Postalis.
“Isso é entrega”, entrega ilícita do patrimônio dos trabalhadores.
A frase
que foi pronunciada
“Estamos
torrando o país dos nossos netos.”
(Mercedes,
que desfilava em Taguatinga)
Por:
Circe Cunha - Coluna: “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense
– Foto: Google