Enquanto a presidente Dilma Rousseff e sua equipe palaciana
se dedicam com total intensidade a negociar cargos com quem tem votos no
Congresso para impedir seu impeachment (o ajuste fiscal virou pretexto para a
reforma ministerial), a economia despenca e os trabalhadores perdem empregos.
O Banco
Central (BC) divulgou ontem seu mais importante documento de análise sobre a
situação da economia brasileira — o Relatório Trimestral de Inflação — e não há
nele praticamente nada que sinalize melhoras. Pelo contrário. Não apenas 2015
está mesmo perdido, como as melhores expectativas para 2016 parecem cada vez
mais distantes de serem alcançadas. São especialmente preocupantes a velocidade
que a derrocada da economia tomou nos últimos meses e, pior ainda, a deterioração
do cenário que órgãos do próprio governo, como o Banco Central (BC), já admitem
para o ano que vem.
Uma boa
medida da rapidez com que a deterioração ocorre está na previsão de crescimento
do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano. No relatório sobre o segundo
trimestre, a autoridade monetária tinha sido considerada pessimista ao prever
um recuo de 1,1% da economia em 2015. No texto divulgado ontem, referente ao
terceiro trimestre, o BC aumentou a retração prevista para 2,7%. Representa um
aumento de nada menos do que 146% na taxa negativa, em apenas três meses.
Ou seja,
não houve melhora significativa alguma de julho para cá. Pelo contrário, até
mesmo a sazonalidade do segundo semestre foi atropelada pela corrida em direção
à estagnação, que, desta vez, ocorre ao mesmo tempo em que a inflação é mais do
que o dobro da meta de 4,5% prometida para este ano.
Nos
cálculos do Banco Central, órgão que precisa acompanhar o dia a dia da
conjuntura para definir os parâmetros da política monetária, pesou a expectativa
de continuidade da recessão na indústria, que deve ter queda de 5,6% até o fim
do ano (a previsão anterior era de recuo de 3%). Mesmo o setor de serviços, que
tem o maior peso na formação do PIB brasileiro, vai mal, devendo fechar o ano
com queda de 1,6%. Só o agropecuário continuará salvando a pátria, com
crescimento de 2,6%.
A
recessão de 2015 deverá contaminar boa parte da atividade econômica no ano que
vem, pelo menos nos dois primeiros trimestres. O BC prevê que o PIB terá queda
de 2,2% no segundo trimestre de 2016. Com isso, a autoridade monetária
demonstra estar mais pessimista que os agentes do setor privado, já que o
boletim Focus, montado pelo BC com a média das projeções de 100 analistas do
mercado financeiro, espera recuo de 2,70% este ano e de 0,80% em 2016.
Essa
diferença de projeções ajuda a desmontar o falso argumento de economistas
ligados ao partido da presidente de que o mercado exagera na análise da
situação para provocar clima favorável aos rentistas. Deveria também ajudar o
governo a perceber que a urgência da agenda econômica não pode ser suplantada
pela jogatina da política. O preço a pagar pode ser caro demais.
Fonte: “Visão" do Correio Braziliense – Foto/Ilustração:
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