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Ana Dubeux:O Sherlock da Esplanada

“Nunca tivemos tanto prestígio, mas a ONG nunca teve tão pouco dinheiro. Não troco um pelo outro.” Não é sem emoção que Gil Castello Branco fala sobre a organização não governamental chamada Contas Abertas. 

Depois de uma década fiscalizando as contas públicas, a crise financeira a atingiu em cheio, a ponto de Gil ter de entregar a sala onde funcionava a entidade, que já recebeu inúmeros prêmios e reconhecimento, inclusive internacional. Hoje, quatro pessoas seguem trabalhando num esquema de home office, pagas por poucos contratos feitos com a iniciativa privada. A ONG não recebe, pelo estatuto, verba pública.

A frase de Gil, extraída da entrevista que você lê hoje nas páginas do Correio, corrobora sua trajetória. Hoje com 63 anos, completados em 7 de setembro, já passou por praticamente toda a Esplanada dos Ministérios, ocupando as mais diversas funções e cargos, chegou a ser ministro interino, mas nunca esquentou cadeira na burocracia. Ficava pouco tempo no lugar e já se sentia sufocado por pressões políticas e outras tão próprias da máquina estatal.

Filho de um promotor de justiça extremamente combativo, que chegou a sofrer um atentado, descobriu com a experiência que não tem espírito para o setor público. Prefere escarafunchá-lo a serviço da sociedade. Ele foi o primeiro a identificar as exageradas pedaladas do governo Dilma. Também apontou inúmeros equívocos do governo FHC. Ao longo desta década, foi o que fez. Sem levar em conta a coloração partidária ou a ideologia do dono do poder, Gil conquistou respeito e credibilidade. E fez seu ofício tão bem que recebeu do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, depois de tentar por anos a fio, as senhas das contas do governo. Uma espécie de chave do cofre para a transparência. É a primeira vez que isso acontece na história. É ou não é uma vitória importante? E não é sem esforço.

O trabalho de Gil Castello Branco e da ONG Contas Abertas não pode se perder jamais, e deve servir de exemplo. É uma prova de algo que funciona. Quando a sociedade assume o papel de fiscalizar e de denunciar, o país fica melhor. Quando essas funções transcendem cargos, mandatos e dinheiro, o país ganha maturidade e consciência do que é o verdadeiro serviço público. Vida longa ao Contas Abertas. E ao Sherlock Holmes da Esplanada.


Por: Ana Dubeux – Editora Chefe do Correio Braziliense

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