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Brasília, capital do cinema


Mais de 700 pessoas estiveram no Cine Brasília para prestigiar a sessão de estreia. Os irmãos Vladimir (acima com o troféu) e Walter Carvalho (ao lado dele) foram as estrelas da noite, que contou com performers, cineastas e amantes da sétima arte


Com a exibição do longa Um filme de cinema, de Walter Carvalho, o festival mais tradicional do país deu início, ontem à noite, à 48ª edição

Em sua 48ª edição, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro não é reverenciado apenas por sua história. A prova disso foi a sala lotada de amantes da sétima arte durante a abertura, ontem à noite, no Cine Brasília. Afinal, todos estavam lá também para homenagear o diretor do filme que abriu a noite, Walter Carvalho. Antes da exibição do seu longa, Um filme de cinema, o cineasta fez um discurso emocionado para mais de 700 pessoas. “Isso aqui é uma catedral”, disse, sobre o local do evento.

O evento também contou com a presença do cineasta Cláudio Assis, um dos entrevistados no documentário de Carvalho, que traz depoimentos de 14 profissionais que deram a vida pelo cinema. “Fiz questão de vir hoje para ver esse filme, porque o Walter é um irmão”, disse Assis, filmado há 15 anos para a película exibida ontem. Walter Carvalho já teve muitas passagens vitoriosas pelo evento. Conhecido pelo trabalho na fotografia, o diretor paraibano tornou-se um dos mais prestigiados nomes do cinema nacional por conta de filmes como Central do Brasil, Carandiru e Abril despedaçado.

Ele fez questão de lembrar, por exemplo,  que o primeiro prêmio de fotografia que recebeu foi aqui: “Eu estava filmando o festival para um programa da Cinemateca. Anunciaram meu nome, deixei a câmera com o assistente e fui lá receber”. Apesar da intimidade com o Cine Brasília, Walter ressaltou que sempre “treme as pernas” durante a exibição de um trabalho seu: “É o festival mais sério do país, onde temos uma plateia tradicionalmente expressiva. Vaias e aplausos estão na história desse evento. Fico sempre ansioso pela reação do público”.

Além do filme, Walter marca presença este ano por conta da homenagem ao irmão, o documentarista brasiliense paraibano, Vladimir Carvalho. “O Vlad é responsável por minha vida no cinema. Ele que me colocou nessa. Já tomei todos os remédios e não tem cura, não”, brincou. O irmão mais velho retribuiu o carinho e disse se sentir “pai” de Walter.

Prestigiado
Os irmãos não eram os únicos animados antes da sessão. O coordenador-geral do festival, Sergio Fidalgo, estava confiante de que esta edição seria memorável. “Mesmo com cortes no orçamento,  estamos felizes com o resultado. O festival segue prestigiado e traz uma seleção expressiva este ano.” Entre as novidades da 48ª edição, Sergio destacou a mostra Continente compartilhado, que traz trabalhos de cineastas estrangeiros para dialogar com o cinema nacional.

Esse prestígio é reforçado pelos participantes. O diretor do filme Depois de você, Marcus Ligocki, que comanda uma mesa redonda hoje, apontou que o festival, apesar da idade, representa ainda uma nova fase nas produções brasileiras. “Esta edição, especificamente, está em um momento especial, do ponto de vista das proposições, como o debate sobre coproduções internacionais.” E todo o crédito do Festival de Brasília deixou Vladimir Carvalho sem receio em solicitar: “Só faço um pedido: gostem do filme!” Diante das grandes trajetórias compartilhadas — do cineasta e do evento brasiliense —, não resta dúvida: todos gostarão.

Um homem que vive a 7ª arte
Vladimir Carvalho, o grande homenageado da 48ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, completou 80 anos em 2015. Em entrevista ao Correio, comentou sobre a emoção de ser reverenciado pelo evento: “Vamos parar com hipocrisia. É muito bom ser homenageado pelo festival. Na minha idade, isso representa uma injeção de cânfora na veia. Dá um tremendo estímulo para continuar lutando e fazendo cinema”.

O cineasta paraibano pisou, pela primeira vez, em solo brasiliense precisamente na edição do festival de 1969, para exibir o documentário A bolandeira. Deparou-se com uma cidade que parecia uma paisagem onírica pintada pelo surrealista De Chirico. Mas, logo, ele enveredou pelas cidades-satélites, reencontrou o Nordeste e entrou em sintonia com a capital modernista.

Vladimir considera o festival brasiliense o mais relevante evento cinematográfico do país por vários motivos. O primeiro é o fato de estar na capital e permitir que as grandes questões cinematográficas brasileiras alcancem ressonância nacional: “Lembro-me que, em uma das edições, o Ivan Cardoso promoveu um encontro com o presidente Fernando Henrique Cardoso, de quem era primo. Ivan convidou Zé do Caixão e, durante o encontro, aparece Zé do Caixão vestido de vampiro. Saiu com destaque em todos os jornais”. O segundo motivo da importância do festival é a tradição de fórum de debates plantada por Paulo Emílio Salles Gomes nos anos 1960 e que se desdobrou ao longo do tempo.

Na verdade, com a capacidade de articulação e o espírito de luta, Vladimir contribuiu para que o festival sobrevivesse em vários instantes difíceis, durante o período do regime militar, que insistia em sabotar o evento e até impedi-lo de ser realizado: “Eu me recordo que estava no Rio montando um filme e fazia um cerco a Glauber, Cacá Diegues, Luiz Carlos Barreto e outros para pegar assinaturas em apoio ao festival”. Mas o grande momento para Vladimir foi a retomada, em 1975: “O festival estava morto, mas ressuscitou e está vivo até hoje”.

Fonte: Diego Ponce de Leon – Correio Braziliense – Foto: Rodrigo Nunes/CB/D.A. Press – Especial para o Correio

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