A notícia que ocupou a mídia no fim de semana
foi a reunião ministerial que traçaria os rumos a serem tomados pela economia.
O decidido nos encontros de sábado e domingo seria anunciado, como foi, na
segunda-feira. É preocupante. Não se tratava de decidir o destino de uma viagem
de férias ou o prato a ser servido na festa de aniversário de um membro da
família. Tratava-se de dar respostas eficazes para a crise político-econômica
que vem sendo tratada de forma errática.
É
conhecida a ojeriza nacional ao planejamento. O brasileiro confia mais na
criatividade que na ponderação de fatores aptos a levar à melhor escolha. Deixa
para amanhã o que podia ter sido feito há semanas ou meses. Se possível, para
depois de amanhã. Chegada a 25ª hora, a urgência impõe uma decisão. Aí, como
diz o Gato em Alice no país das maravilhas, “para quem não sabe aonde vai
qualquer caminho serve”.
A frase
caracteriza o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Nove meses se
passaram sem que tenha sido apresentado plano de governo consistente. O exibido
na campanha eleitoral mirava outra nação. Mostrou país cuja tônica era a
prosperidade, com os indicadores aptos a servir de modelo para Dinamarca,
Suécia ou Alemanha. Educação, saúde, segurança, mobilidade — tudo atendia a
expectativa do povo. O irrealismo, embalado para presente, perdeu o encanto
antes da posse.
Despida
da falsidade marqueteira, a verdade se apresentou, não mais como farsa, mas
como tragédia. O Produto Interno Bruto (PIB) encolhe, a inflação se aproxima
dos dois dígitos, o desemprego se acelera, a renda despenca, o dólar dispara, a
dívida pública avança para 70% do PIB, o apoio parlamentar do Planalto se
corrói, a corrupção toma dimensões jamais vistas, o pessimismo se amplia entre
empresários, investidores e consumidores. A resposta ao quadro devastador — que
se agravava (e se agrava) dia após dia — pode ser caracterizada com a expressão
popular “perdido como cego em tiroteio”.
Irresponsabilidade
talvez seja a palavra mais adequada. A falta de seriedade atingiu nível
inaceitável no envio ao Congresso do projeto do Orçamento com deficit. Embora
com conhecimento do risco que corria, o Executivo não hesitou em encaminhar a
medida com o rombo de R$ 30,5 bilhões. A consequência, prevista pelo ministro
Levy, não tardou. A Standard and Poor’s rebaixou o Brasil. De país sério, digno
da confiança dos investidores, passou a integrar o time dos irresponsáveis.
As
medidas anunciadas ontem pela equipe econômica para aumentar a receita dependem,
em grande parte, de aprovação no Congresso. Será que, com o minguado apoio do
governo no Legislativo, as propostas serão aprovadas? Vale lembrar que criação
de imposto exige obediência à anualidade. Para a cobrança ser efetuada em 2016,
precisa da aprovação em 2015. Há pouco tempo para negociar. Sem combinar com os
russos, como diria Garrincha, as iniciativas contam com o ovo ainda na barriga
da galinha.
Fonte: “Visão” do Correio Braziliense – Foto/Ilustração-Google-Blog