Servidores e especialistas opinam sobre o dress code formal e informal
observado nos prédios públicos dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário
Decotes, roupas transparentes, vestidos apertados e
minissaias de um lado. Do outro, camisas de times, bermudas, blusas para fora
da calça, gravata torta e até chapéu. Os itens descritos parecem informais, no
entanto, compõem o vestuário do centro do poder local da capital da República.
Se, no Congresso Nacional, a tentativa é de formalizar cada vez mais o
guarda-roupa; no Distrito Federal (DF), a realidade é bem diferente. Entrar de
bermuda na Câmara Legislativa do DF, por exemplo, que era uma das únicas restrições,
agora é permitido. A medida foi revogada pela presidência da Casa. Se não há
regras para quem visita, muito menos para quem trabalha. De deputados,
secretários a servidores, o dress code que prevalece é o do bom-senso.
No início
do mês, as atenções e os olhos se voltaram para os decotes das mulheres na
Câmara dos Deputados. Brasil, clima quente, época de seca em Brasília, ou seja,
cenário propício para pouca roupa. Incomodada, a deputada federal Cristiane
Brasil (PTB-RJ) apresentou a proposta de criar um código de vestimenta na Casa.
Pelo projeto, seria vetado o uso de saias acima do joelho ou decotes
acentuados. Camisas de clubes de futebol e chapéus também seriam proibidos.
"Acho isso uma política de aparências. Hipócrita. Quer usar saia curta,
usa. Cada um sabe o ambiente em que trabalha. Aqui, não podia entrar de
bermuda, mas eu mandei revogar", rebateu a presidente da Câmara
Legislativa, Celina Leão (PDT).
Formalidade
não é o forte da distrital. No dia a dia, ela adota a dupla calça jeans e tênis.
Às vezes, botas de cano curto compõem o look. O despojamento da presidente da
Casa contrasta com a produção de alguns colegas. Agaciel Maia (PTC), por
exemplo, é conhecido pelos ternos bem cortados. Na última semana, desfilou de
Ricardo Almeida, grife na qual um conjunto de blazer e calça não sai por menos
de R$ 2.800. "Roupa é aquela que a pessoa se sente bem", justificou
Agaciel, destacando que as peças mais caras foram presentes.
Muitos
servidores da Câmara criticam a "falta de noção" nos trajes.
"Aqui, as mulheres exageram. Parecem umas periguetes. E os homens vêm de
camisa do Flamengo, do Vasco", ironiza um funcionário. "Na CPI dos
Transportes, é um desfile de saia curta e decote", outro diz à reportagem.
As amigas e servidoras Mari Assis Alves, 39 anos, Natália Lagreca, 31, e
Monique Taborda, 28, têm uma opinião bastante crítica sobre o assunto.
"Acho inaceitável tomara que caia, por exemplo. Fica puxando o tempo todo.
Assim como as saias muito curtas", comenta Mari, provocando Monique, que
responde: "Mas eu sempre ponho um blazer e não fica ruim".
Segundo
Natália, seja homem, seja mulher, é importante prestar atenção nas opções que
existem no armário. "Tem gente que vem de tudo quanto é jeito. Impor um
traje não é discriminação. Advogado tem roupa específica. Precisamos ter
regras, porque senão as pessoas fazem o que querem", pondera a servidora.
Durante a visita da reportagem, uma funcionária e um deputado chamavam atenção.
A moça, pelo vestido azul curto, que valorizava o corpo, e o parlamentar, o
distrital Julio César (PRB), pelo desprendimento. Ele estava no plenário antes
mesmo de a sessão começar, mas ainda não estava pronto. Terminou de colocar a
camisa e a gravata na frente dos colegas. No gabinete do parlamentar, que é da
bancada evangélica, não há qualquer restrição de vestimenta, informou a
assessoria dele.
Fonte: Camila Costa – Correio Braziliense – Foto: Marcelo
Ferreira/CB/D.A.Press