Mais uma semana de busca desesperada do governo por saídas
para evitar que o país tenha, em 2016, seu terceiro ano seguido de deficit
fiscal. Essa será, se não for evitada, uma sinalização desastrosa para a
credibilidade do Brasil nos mercados internacionais. O país perderá de vez a
possibilidade de recuperar o grau de investimento pelo menos nos próximos
quatro ou cinco anos, e isso será um obstáculo ao dia a dia de nosso comércio
exterior (importações e exportações são, em geral, feitas a crédito e garantidas
por contratos internacionais de seguros) e à obtenção de financiamento para
nossos projetos de infraestrutura.
A
recessão econômica a que o país foi lançado pelos erros da política econômica
tocada nos últimos dois anos do governo Lula e nos quatro primeiros da
presidente Dilma era um desastre anunciado, que teria como consequência a queda
na arrecadação de impostos. Seria, então, prudente que o governo acelerasse as
reformas iniciadas no governo de Fernando Henrique Cardoso, enquanto o país
surfava no aquecimento da economia mundial e na demanda das commodities.
Em vez
disso, primeiro Lula e depois Dilma — ela com mais intensidade — patrocinaram a
felicidade do consumo com desonerações fiscais, rebaixamento descabido e
congelamento perigoso de tarifas públicas. O ex-presidente Lula fez de conta
que levaria a sério a reforma da Previdência, mantendo em funcionamento um
fórum criado para debatê-la. Mas, quando as propostas começaram a tomar forma,
ele dissolveu o grupo e nunca mais tratou do assunto. Foi assim com tudo que
pudesse arranhar sua popularidade e esse mesmo marketing foi transmitido à sua
sucessora.
Especialistas
já haviam alertado para o fato de que as despesas públicas obrigatórias estavam
crescendo mais rápido do que o Produto Interno Bruto (PIB) desde 2011. Mas os
recordes sucessivos da arrecadação anestesiavam a percepção do problema. O
mesmo passou a ocorrer com as contas externas: o fim do boom das commodities
desnudou a farra das importações, que, animadas pela valorização da moeda,
traziam a felicidade temerária do consumidor e, ao mesmo tempo, a derrocada da
indústria nacional.
Foi assim
que, nos últimos anos, as receitas do governo despencaram, enquanto as despesas
se mantinham, tornando inevitável o deficit. Em vez de enfrentá-lo, o governo
Dilma passou a usar truques para maquiar as contas públicas, dando origem às
“pedaladas fiscais”, especialmente no ano eleitoral de 2014. Agora, quando a
verdade se tornou inescondível, o que se vê é uma enorme pobreza técnica e a
falta de coragem da presidente para fazer os cortes necessários e de liderança
para aprovar medidas de ajuste.
É
melancólico saber que só restou à presidente empurrar para a sociedade mais um
aumento de impostos com a recriação da CPMF. Temendo não contar nem com isso,
seu governo já chegou a cogitar o restabelecimento de outros males, como
cassinos, pingos e caça-níqueis.
É uma pena.
Tivesse descido de sua arrogância, a presidente teria levado a sério os que lhe
disseram que os gastos com pessoal e com a Previdência caminhavam para engolir
70% do Orçamento e que a receita não bateria recordes para sempre. Mesmo agora,
em vez de perder tempo com remendos, o país poderia ser chamado a discutir sem
partidarismo questões como a da Previdência, a das indexações na economia, o
tamanho e o custo do Estado, só para começar a cumprir compromisso com as
próximas gerações. Interessa?
Fonte: “Visão” do Correio Braziliense – Foto/Ilustração:
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