De um fato ninguém duvida. O século 21 é de
protagonismo da Ásia. Ali está a China, cujo crescimento planejado — com
urbanização controlada e aplicação contínua em educação — a situa como segunda
potência do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Ali também está o Japão,
que, além de produtor de tecnologia, tem o terceiro PIB nominal do planeta.
Dar as costas para esse cenário é sinal de
cegueira. Talvez pela localização, sem saída para o Pacífico, o Brasil se
excluiu da Parceira Transpacífico (PTP) — maior acordo regional de comércio da
história. Formado por Estados Unidos, Japão e mais 10 países, o bloco detém
cerca de 40% da riqueza mundial.
A relevância do acerto vai além da fatia do PIB
global. Abrange outras dimensões. Em primeiro lugar, vem a geopolítica. Ao
deixar de fora a China, Tóquio e Washington esperam pôr freio no desenvolto
avanço de Pequim na América Latina e em países que hoje fazem parte da área de
influência da potência amarela.
Em segundo, sobressaem novos paradigmas para o
comércio global. Não mais se discutem tarifas, etapa superada, mas padrões que
se situam em patamar mais sofisticado. Deixando mercadorias em segundo plano,
ganham destaque serviços, propriedade intelectual, solução de controvérsias,
meio ambiente, competição, mercado de trabalho. Em suma: o filé-mignon da
economia contemporânea.
Vale lembrar que os serviços representam importante
parcela do comércio internacional. Hoje, abocanham 54% das transações. Daqui a
10 anos, estima-se, o percentual baterá em 75%. Com a liberação do setor, os
Estados Unidos — maior exportador mundial de serviços — deve dar importante
salto qualitativo, com impulso significativo para o crescimento e a criação de
postos de trabalho.
Claro que o pacto, negociado durante anos com idas
e vindas próprias das grandes guinadas, precisa do aval do Congresso americano.
Barack Obama, que desempenhou papel-chave no processo, encontra resistência até
no próprio partido e, sobretudo, nos sindicatos. Sem comprometer a essência, o
texto deve sofrer alterações na redação final.
Autoexcluído do tratado, o Brasil se aliena cada
vez mais dos avanços do século 21. As consequências baterão à porta em breve.
Economistas preveem cenário pessimista para o país: encolhimento de 2,7% das
exportações nacionais. É lamentável. O dia que acordar para a nova realidade, o
governo terá de se submeter às regras traçadas por outros. Pior: sem educação
de excelência, dificilmente se incluirá na economia do conhecimento.
Fonte: “Visão” do Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google