"O
momento político originado pelo PT acabou"
O ator e dramaturgo, diz que Lula é uma comédia, que o País só irá
avançar com novas lideranças e faz severas críticas ao socialismo
Por: Gisele Vitória
Aos 80 anos, o
ator e dramaturgo Juca de Oliveira carrega a convicção de que depois da crise o
Brasil terá um recomeço, com novas esperanças e novas lideranças. Para ele, o
atual momento político, que teve início com a chegada de o PT ao poder, acabou.
Na entrevista que concedeu a ISTOÉ, Juca diz que é na força de suas peças que
ele descarrega tudo que o irrita.
RECOMEÇO
A mudança nascerá na esteira do judiciário e da Lava Jato' diz Juca
A mudança nascerá na esteira do judiciário e da Lava Jato' diz Juca
Enquanto
grava a novela das seis “Além do Tempo”, na Globo, o autor de espetáculos
consagrados como “Caixa 2”, “Às Favas com os escrúpulos” e “Meno Male”, escreve
a peça “O Ministro”, uma ficção que trará muito da realidade da política atual.
O ator, que encerrou o espetáculo “Rei Lear”, de William Shakespeare
(1564-1616), dirigida por Elias Andreato numa versão criada por Geraldo
Carneiro especialmente para ele, é um apaixonado pela construção dramática da
Tragédia e da Comédia.
"Acho a Dilma triste....
Ela não é plausível nem verossímil... Até os
paralelepípedos acham que ela deveria renunciar"
É
nela que se apóia para dar a sua próxima peça a estrutura de uma comédia. É
nela também que Juca se apóia para formular suas críticas ao PT, ao
ex-presidente Lula e ao governo da presidente Dilma Rousseff. O ator cita
Aristóteles e a obra “A poética”, lembrando que o filósofo foi o primeiro
pensador a teorizar a tragédia e construção dramática do teatro. Aristóteles
acreditava que a comédia imitaria os homens piores e a tragédia os seres
humanos melhores. Passeando por essas teorias, o ator conclui que “Lula é uma
comédia”.
"Eu fui stalinista. Aí
descobriu-se que Stalin era um genocida tão grande ou maior do que Hitler. Eu me
dei conta: 'E agora o que eu faço?'"
ISTOÉ -
O sr. sempre teve um olhar aguçado para a política. Como avalia o
momento brasileiro?
JUCA DE OLIVEIRA -
Vejo como todo mundo sabe: acabou. Esse momento político originado
pelo PT acabou. Nós temos que partir para um outro momento para salvarmos o
País. O Brasil tem necessidade de avançar. É preciso uma nova liderança,
um novo movimento político. É isso que deve surgir no epicentro de uma crise. A
história nos demonstrou que na crise nascem soluções. E uma solução que vem do
que? De novas lideranças insuspeitas.
ISTOÉ -
Vê algum recomeço possível neste momento?
JUCA DE OLIVEIRA -
Não tenho ideia. Mas Eu acho que vai nascer... E tudo que nascer
agora, nasce na esteira do Judiciário. Na esteira da operação Lava-Jato, na
esteira dos juízes, desses promotores, procuradores que estão trabalhando pela
integridade e pela honra, pela dignidade e pelo caráter dos brasileiros. Essa é
exatamente a necessidade do povo brasileiro.
ISTOÉ -
O sr. acredita na possibilidade de renuncia da presidente Dilma?
JUCA DE OLIVEIRA -
Até as pedras e os paralelepípedos acham que Dilma deveria
renunciar. Todo mundo acha que ela devia renunciar.
ISTOÉ -
E o ex-presidente Lula ....
JUCA DE OLIVEIRA -
Ele é muito fluido nas suas posições. Ele muda muito. A
cada instante o Lula diz uma coisa. É curioso o seguinte: Eu escrevo peças de
teatro e minhas peças geralmente são análises críticas sobre a política. Porque
eu escrevo muito sobre coisas que me irritam. Ou você escreve sobre coisas
pelas quais você se apaixona, ou coisas que te humilham e te indignam. E eu
escrevo também sobre as coisas que me indignam. Uma coisa que me indigna muito
é exatamente a falta de integridade e de caráter. Essas minhas peças, embora eu
não tenha o objetivo de escrever sobre comédia, elas acabam se tornando
comédias. Elas têm um caráter político.
ISTOÉ -
E por que elas se tornam comédias?
JUCA DE OLIVEIRA -
Isso você aprende em Aristóteles, em A Poética, você aprende
técnicas de construção dramática. Como se fosse um how to write a play (como
escrever uma peça). E você aprende que a tragédia é a história de um homem tão
excepcionalmente cumulado de virtudes que ele prefere a morte a viver sem
honra. Essa é a tragédia. E aí você vai descobrir também que a comédia é o
oposto. É a história de um homem tão defeituoso e tão cheio de vícios que ele
prefere qualquer coisa, exceto a morte. Ele prefere a falcatrua, a grana, a
propina, ele prefere qualquer coisa. Então, sempre que você fala sobre um homem
defeituoso, é uma comédia.
ISTOÉ -
Que exemplos você daria?
JUCA DE OLIVEIRA -
Édipo é muito interessante para exemplificar. Gosto de dar esse
exemplo porque ele é sintomático. O Édipo é um chefe de Estado na Grécia, em Atenas,
e de repente se surpreende com uma peste que está dizimando o povo de Tebas.
Todos estão morrendo. E ele descobre por que está acontecendo isso. Vem um
oráculo e lhe diz: um crime foi cometido. Um homem matou o pai e casou com a
mãe. Enquanto esse homem não for castigado, não for punido, a peste continuará.
Então ele, como chefe de estado, começa a investigar onde está este homem. À
medida em que vai investigando, ele vai chegando próximo dele mesmo.
ISTOÉ -
E ele repassa sua vida...
JUCA DE OLIVEIRA -
E aí vem à mente toda a vida dele: vem um homem que pegou uma
criança deixada num cestinho, etc... Então o que ele poderia fazer: poderia
interromper a investigação. Não aconteceu nada disso, é um erro, isso aconteceu
em outro lugar, vamos desistir. Mas Édipo avança: Vou fazer a investigação. Por
que parar? Não vou parar. Ele vai até o final da investigação e descobre que o
homem que cometeu o crime é ele mesmo. Ele arranca os próprios olhos e
morre.
ISTOÉ -
E onde entra Lula nessa comparação?
JUCA DE OLIVEIRA -
Pense o Lula, chefe de Estado. De repente, se descobre que
no governo dele há um crime. Assessores, ministros dele estão roubando. Estão
metendo a mão na grana: primeiro, acontece o Mensalão. O que restava a ele?
Vamos supor: se ele seguisse o exemplo do Édipo, que é um homem cumulado de
virtudes, que prefere a morte a viver sem honra, ele ia até o fim investigando
e pegaria todos eles: José Dirceu e companhia limitada, todos os membros do
partido. Teria-os denunciado publicamente. Esses não eram os petistas que ele
considerava. Ele pensava que eram homens honrados, mas não eram. No entanto, o
que ele faz? Ele diz: não, eles são heróis da pátria. E são perseguidos pela
mídia golpista. Pela direita extremada.
ISTOÉ -
Por esse raciocínio da teoria dramática, como ele deveria agir no
palco da tragédia?
JUCA DE OLIVEIRA -
No que ele exerce essa função, ele passa exatamente para o campo
da comédia. Então, hoje quando você fala em Lula, é uma comédia. Não é
raciocínio, estou citando teoria da comunicação, teoria da literatura. Teoria
da construção dramática. Estou falando de teatro. Estou falando de
tragédia e comédia. Lula, portanto, é uma comédia. Não precisa falar mais nada.
Essa teoria não é original. É verdade.
ISTOÉ -
E a presidente Dilma?
JUCA DE OLIVEIRA -
A Dilma... o problema dela não é a comédia. Entra na internet e
veja as frases dela. Na comédia, ou em qualquer obra de caráter dramático, há
uma coisa muito importante que é a plausibilidade e verossimilhança. Tem que
ser plausível e verossímel. A Dilma não é nenhuma das duas coisas. Ela é
presidente, mas não pode falar essas coisas que ela fala de uma forma
absolutamente destituída de conexão cerebral. Então não dá. Talvez fosse um
drama. Mas ela entraria numa fase onde você já tivesse um pouco de comiseração.
Não é engraçado. Eu não acho a presidente Dilma engraçada. Acho triste. Outro
dia ela falou da banana casca. E ela queria dizer skin, banana skin. Ela queria
falar inglês, mas não ocorreu a palavra.
ISTOÉ -
Sua história de vida guarda ligações com o PT?
JUCA DE OLIVEIRA -
Eu fui atuante contra a ditadura. Fui várias vezes preso, fui
exilado. Eu fui comunista. Eu com o PT, não tive uma história. Mesmo na
formação do PT não tive uma história. Eu fui stanilista.
ISTOÉ -
Stalinista?
JUCA DE OLIVEIRA -
Quando houve a desistalinização, descobriu-se que o Stalin era um
genocida tão grande ou até maior que o próprio Hitler. Ai eu me dei conta:
“Pera aí, eu sou stanilista. E agora, o que eu faço? Como fica minha vida?” Aí
a desestalinização destrói a União Soviética. E eu pensei que todos os Estados
que se esfacelaram optariam pelo socialismo, cada um particularmente. A
Iuguslávia, a Romênia.etc, Mas não, todos optaram pela democracia. E eu
pensava: meu Deus! eles odiavam o socialismo! E eu percebi que talvez aquela
ânsia pelo Stalin era mais ou menos uma ligação religiosa. As pessoas o amavam
como se fosse um Deus. Eu era religioso. Eu sou místico, sou do teatro, da
mitologia, do teatro da religiosidade, a religiosidade está impregnada em mim,
eu não tenho (ou não tinha) um Deus Stalin. Meu Deus era um Deus. Então vou
cair fora, não vou atrás do Stalin. E aí eu descobri o seguinte: se até
os 25 anos você não for comunista, você não tem coração, porque você não tem
piedade. Se depois dos 25 anos, você continuar comunista, você não tem cérebro.
ISTOÉ -
Quantos anos o sr. tinha...
JUCA DE OLIVEIRA -
Eu devia ter uns 32 quando eu larguei essa coisa. Acho que o
socialismo foi um enorme equívoco. A minha função é uma função apaixonada,
trabalho por paixão. Eu estou sempre procurando alguma coisa, resolvendo um
problema: quero escrever, fazer uma peça, fazer um filme, enquanto que a idéia
do socialismo é de que você seja absolutamente igual. Eles são contra o PHD, o
PHD em Harvard é um perigo para os socialistas. A qualificação pressupõe
integridade. E a integridade pressupõe independência. Então o pior perigo para
o socialismo é um PHD, porque ele é independente.