Nas
Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio
Braziliense - 13/10/2015
Cunha prometeu rejeitar ainda hoje
os oito pedidos de impeachment que restavam na sua gaveta, mas insinuou que
pode aceitar o de Bicudo
Em pleno feriadão, quando a maioria das pessoas aproveita a oportunidade para descansar ou viajar (nem sempre são a mesma coisa), a presidente Dilma Rousseff imprimiu um ritmo frenético às nomeações de cargos de segundo e terceiro escalões do governo para reorganizar a sua base na Câmara e conseguir barrar o pedido de impeachment de autoria dos juristas Hélio Bicudo, ex-deputado fundador do PT, e Miguel Reale Júnior, que foi encampado pela oposição.
O Palácio do Planalto teme que o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aceite o pedido, depois do
aditamento pela oposição de uma auditoria feita pelo Ministério Público do
Tribunal de Contas da União (TCU), em que foram constatadas novas “pedaladas
fiscais” no atual mandato de Dilma, no montante de R$ 40 bilhões.
Para neutralizar um possível
acordo com a oposição, o Palácio do Planalto chegou a oferecer blindagem a
Cunha no Conselho de Ética, contra um pedido de cassação do presidente da
Câmara apresentado pelo PSol. Cunha negou ter contas bancárias na Suíça ao depor
na CPI da Petrobras, razão pela qual pode perder o mandato por quebra de decoro
parlamentar.
Depois de manter conversas com os
ministros Edinho Silva (Comunicação Social) e Jaques Wagner (Defesa), em
Brasília, e de receber os deputados de oposição Carlos Sampaio (PSDB-SP) e
Rodrigo Maia (DEM-RJ), no Rio de Janeiro, o presidente da Câmara mantém o
suspense sobre a sua decisão.
Alfred Hitchcock, mestre do cinema
(Janela indiscreta, Psicose e Os Passáros), descreve o suspense como a
expectativa de que algo ruim que está prestes a acontecer (ou que os
expectadores acreditam que possa acontecer), uma perspectiva construída através
de eventos sucessivos, aos quais eles não têm o poder de interferir de forma a
prevenir os acontecimentos.
Três cenários
Cunha prometeu rejeitar ainda hoje
os oito pedidos de impeachment que restavam na sua gaveta, mas insinuou que
pode aceitar o de Bicudo. Se isso ocorrer, a oposição não precisará recorrer ao
plenário para abrir um processo de cassação da presidente Dilma Rousseff, o que
exigiria metade mais um dos votos dos presentes, com quórum mínimo de 257
deputados. Essa será uma tarefa do governo.
Dilma reuniu-se ontem, novamente,
com os ministros da Casa Civil, Jaques Wagner; da Secretaria de Governo,
Ricardo Berzoini; e com o assessor especial Giles Azevedo para avaliar a
situação. São eles que negociam o apoio dos partidos da base em troca de
nomeações nos ministérios. Todos os ministros estão mobilizados para enquadrar
suas respectivas bancadas de deputados, tão logo saiam as nomeações de seus
indicados no Diário Oficial da União.
Há também grande expectativa
quanto ao Ministério Público Federal. O procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, é o grande algoz de Cunha, pois comanda pessoalmente as investigações
sobre o envolvimento do presidente da Câmara com os desvios na Petrobras. Janot
sofre pressões do PT para que peça o afastamento do presidente da Câmara ao
presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski.
Há três cenários possíveis:
primeiro, Cunha pode rejeitar o pedido e a oposição recorrer ao plenário,
situação para a qual o Palácio do Planalto se preparou no fim de semana com
objetivo de barrar o impeachment na Câmara; segundo, aceitar o pedido e dar
início ao processo de impeachment, o que levará o governo a recorrer ao Supremo
Tribunal Federal (STF); terceiro, adiar o parecer e prolongar o suspense, o que
fará aumentar as pressões da opinião pública sobre a oposição pela cassação
imediata do presidente da Câmara.