Reck depôs por quase 6h e terá de se reapresentar em 15 de
outubro
O advogado que atuou como consultor no processo de
licitação para a reformulação do sistema de transporte público do DF escapa de
contradições e revolta deputados. Os parlamentares pediram a quebra do sigilo
telefônico de 19 pessoas
O advogado Sacha Reck, dono do depoimento mais
esperado da CPI do Transporte e pivô das investigações do Ministério Público do
DF e Territórios (MPDFT) sobre a renovação da frota de ônibus no governo
anterior (leia Entenda o caso), se esquivou dos distritais. Munido de farta
documentação, fez os deputados se exaltarem, não entrou no jogo para cair em
contradição e, após cerca de 6 horas, viu a sessão ser encerrada a pedido dos
parlamentares. Cansados, eles votaram a quebra de sigilo telefônico de 19 pessoas
e marcaram uma nova sabatina com Reck para 15 de outubro. Para a próxima
semana, está prevista a presença do ex-diretor do DFTrans Marco Antônio
Campanella (PPL).
Os cinco titulares da CPI tocaram a sessão: o
presidente, Bispo Renato (PR); o relator, Raimundo Ribeiro (PSDB); Sandra Faraj
(SD); Ricardo Vale (PT); e Rafael Prudente (PMDB). A surpresa ficou por conta
da participação da presidente da Câmara Legislativa, Celina Leão (PDT), que
propôs a CPI. Couberam a ela, que no mandato anterior questionou a licitação do
sistema de transporte público e se opôs ao ex-governador Agnelo Queiroz, os
principais embates com Reck. Logo no começo, a pedetista disse que seria o dia
para “elucidar os diversos depoimentos contraditórios. É um processo já
constatado como criminoso.”
Celina questionou o advogado sobre a acusação de
ele advogar para empresas envolvidas na licitação. Reck afirmou ter como
cliente o Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana
(Setransp) desde 2005. A entidade é composta por 26 empresas, uma delas a
Viação Marechal, que roda no DF. “A OAB proíbe um advogado de representar os
dois lados em um mesmo processo. E eu nunca fui o advogado da Marechal, apenas
defendi os interesses em ações coletivas”, esquivou-se. Em 2012, quando Reck
prestava consultoria à Secretaria de Transportes, o presidente do sindicato era
Délfio José Gulin, sócio da Marechal.
O deputado Ricardo Vale (PT) citou a denúncia feita
na semana passada pelo empresário Wagner Canhedo, que afirmou que quem não
contratasse o escritório de Reck estava inabilitado na licitação. “Se soubesse
que isso era preciso, eu contrataria”, afirmou Canhedo, na ocasião. O advogado
disse ter eliminado a Viplan por falha na documentação. “Houve erro em sete
certidões. Eram falhas graves nas empresas que entraram no processo e acabaram
eliminadas”, explicou.
Contradições
Para Raimundo Ribeiro, a participação de Reck foi
“intensa e até determinante” no processo de licitação. O tucano afirmou que,
após o depoimento de Campanella, será o momento de fazer acareações. “Na
segunda fase, vamos mostrar eventuais contradições, mas que Sacha Reck foi
fundamental na concorrência, disso não tenho dúvidas”, disse.
Em depoimento à CPI, o presidente da Comissão de
Licitação, Galeno Furtado Monte, tinha dito que ele apenas assinava os
pareceres de Sacha Reck. Mas o advogado afirmou que Galeno teve “participação
ativa no processo”. Além disso, os deputados votaram o pedido para a quebra do
sigilo telefônico, entre outros, do próprio Sacha Reck; do ex-secretário de
Transportes José Walter Vazquez; de Campanella; e de Galeno.
Entenda o caso - Consultor questionado
Entenda o caso - Consultor questionado
A licitação que renovou a frota de ônibus do DF
custou R$ 7,8 bilhões e representou uma das bandeiras do governo Agnelo Queiroz
(PT). O advogado Sacha Reck, especializado na área de transporte, atuou como
consultor. A ele eram passados diversos questionamentos para avaliação e
posterior emissão de pareceres. O Ministério Público do Distrito Federal e
Territórios (MPDFT) questiona, em ação civil pública, o porquê de ter sido
contratado alguém de fora da capital — ele é do Paraná —, quando o trabalho
deveria ser feito pela Procuradoria-Geral do Distrito Federal (PGDF), além do
fato de Reck supostamente advogar para a empresa Marechal, vencedora de um dos
cinco lotes. Durante os depoimentos à CPI do Transporte, Sacha Reck foi um dos
nomes mais citados pelos depoentes — entre eles, o ex-secretário de Transporte
José Walter Vazquez e o presidente da Comissão de Licitação feita para o
certame, Galeno Furtado Monte.
Fonte: Guilherme Pera – Foto: André
Violatti/Esp/CB/D.A.Press