Com quantas agressões se desfaz um
tombamento? Eis aí questão que ninguém conhece o total. Todavia, o que todos
sabem muito bem é que se continuar o lento e sistemático processo de
desfiguração da cidade, Brasília, no caso da área tombada, perderá a condição
de permanecer como Patrimônio Cultural da Humanidade. Muito mais do que simples
título honorífico, o grau outorgado pela Unesco, em dezembro de 1987, inseriu a
capital dos brasileiros no seleto rol dos sítios dignos de serem visitados e
preservados no planeta, como símbolo da força e da engenhosidade de um povo e
de um momento particular de sua trajetória histórica.
Não se trata aqui de preservar e engessar um tipo
particular de dinossauro, para que a carcaça imponente seja apreciada pela
posteridade. No nosso caso, a perda desse reconhecimento universal afetaria
muito mais a capital do país do que a redução do rating da nota de investimento
do Brasil, feito pelas agências de avaliação de risco e que nos coloca hoje
como nação de caloteiros.
A retirada do grau cultural afetaria não só a
imagem de cidade modernista e singular levada a termo, como teria reflexos
extremamente negativos no turismo e na economia da cidade. O que faz de
Brasília um cartão-postal do Brasil é justamente a consecução de uma ideia
revolucionária e sui generis e que, infelizmente, poucas pessoas se dão conta.
Um ex-governador do Amazonas, cujo único bicho que admirava era o jogo do
bicho, costumava indagar os ambientalistas com uma questão: “Se os dinossauros
fossem preservados vivos, para que serviriam hoje?”
Definitivamente, Brasília não é um dinossauro. É
uma cidade viva que, obviamente, está submetida aos processos do ciclo natural.
Mas, a bem da verdade, não são os brasilienses natos e que viram a cidade se
formar aos poucos e onde criaram os filhos que temem o status concedido pela
Unesco.
Aqueles que mais temem e refutam o título de
patrimônio são aquela minoria que aqui se estabeleceu em busca de oportunidades
— qualquer uma — e que ainda enxerga na cidade um jeito fácil de ganhar
dinheiro apondo remendos e puxadinhos em todo canto, fazendo em plena área
pública aquilo que fazem na privada. Nesse filme, em câmera lenta, que vamos
assistindo a cada dia, ainda não nos demos conta de que a cada tijolo assentado
fora do lugar, vai, aos poucos, se erguendo o muro que poderá nos separar do
restante do mundo civilizado.
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A frase que não foi pronunciada
"Cuidado em quem você confia.
Lembre-se que o diabo era um anjo."
(Alguém do governo repetindo Dean Winchester)
Por: Circe Cunha – Coluna”Visto, lido e ouvido” –
Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog-Google
Para mim o que importa é preservar a identidade original de Brasília!!! Ser ou não ser considerada Patrimônio da Humanidade.... tanto faz!
ResponderExcluirPrecisamos de muitos "CHIQUINHO DORNAS" a escrever da importância de sermos um país, uma cidade, um povo que idealizou um Conjunto Urbanístico considerado arte ter honraria do título de PATRIMÔNIO CULTURAL DA HUMANIDADE. Brasília foi inventada para ser diferente.
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