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#ARTE » No limite do design e da arte --- (Athos Bulcão)

             Objetos inspirados na obra de Athos Bulcão: arte funcional no cotidiano

Baralho feito por 54 artistas brasileiros e calendário com obras de Athos Bulcão são exemplos de iniciativas de intersecção

As interrelações entre design e artes visuais têm limite tênue e sutil — e cada vez menos definido. Recentemente, o lançamento do baralho El Cabriton (ideia concebida por um site homônimo), que conta com ilustrações autorais de 54 artistas brasileiros, comprova que há bons resultados quando as duas vertentes artísticas se interseccionam. O projeto, em sua sexta edição, foi limitado a 1.500 exemplares e explora a potencialidade criativa de ilustradores nacionais. Foram mais de seis meses até chegar aos mais de 50 artistas que assinam as cartas do baralho, dentre os quais, o brasiliense Julio Lapagesse, responsável pelo J de paus.

O objeto serve tanto para ser jogado (para isso, ele foi feito em parceria com a maior produtora brasileira de baralhos) quanto para apreciação. Ou seja, tem uma utilidade prática, mas também uma poética conceitual. A proposta é semelhante a uma iniciativa brasiliense que esbarra na mesma dualidade: o calendário em homenagem a Athos Bulcão. A ideia existe desde 1998 e apresenta 12 obras de arte por ano. Para realizar o de 2016, a Fundação Athos Bulcão está fazendo um financiamento coletivo no Catarse.

Além de menção ao artista por meio de pinturas, gravura, estudos e colagens, o calendário trará desenhos de crianças da cidade que façam menção aos traços e azulejos de Athos. Serão 6 mil cópias de tiragem caso o valor de R$ 30 mil seja alcançado. A depender montante doado, quem contribuir pode ganhar também um baralho inspirado no trabalho do artista mais importante de Brasília. Outros mimos, como caderno, conjunto para imã e colar de prata, estão entre as recompensas.

“Investimos no conceito múltiplo de arte. Aplicamos o padrão dele no produto sem alterar a obra, com exceção dos pratos e do jogo americano, em que são feitas releituras por outros artistas. Isso se aplica bem à obra do Athos, porque grande parte do trabalho de azulejaria feito por ele está em espaços públicos. Democratizar a arte sempre foi uma ideia dele. Além do mais, esses produtos, como as canecas, têm o aval dele, que viu alguns quando estava vivo”, comenta Rafaela Tamm, coordenadora de Pesquisa e Projetos da Fundação Athos Bulcão. Segundo ela, não há um propósito de lucrar com esses produtos, apenas manter vivo o trabalho da fundação, que é uma entidade privada.



Colagens, ilustrações e gravuras fazem parte do repertório dos ilustradores escalados no baralho El Cabriton

Identidade
Recentemente, o Salão Brasil Criativo — evento de economia criativa realizado em 31 de outubro e 1º de novembro em Brasília — explorou esse casamento entre artes visuais e produtos utilitários, como artigos de decoração, móveis, artesanato e design com assinatura de artistas visuais. “A assinatura traz identidade ao produto. É uma resposta a esse momento de industrializarmos tudo”, comenta Cristina Malheiros, coordenadora do evento e consultora do Instituto Brasil de Economia Criativa.

Muitos criticam esse tipo de iniciativa por ser uma forma de mercantilizar a arte. Mas ela não enxerga dessa forma. “Estamos dando uma amplitude a ela em objetos utilitários, deixando-a mais próxima das pessoas, não vejo como uma mercantilização. A questão é como fazer, não deixar que isso se massifique em método de produção nem para o consumidor. O artista não pode ser superexposto, senão perde esse quesito de exclusividade”, avalia.

Um exemplo de massificação excessiva seriam os produtos licenciados com os traços multicoloridos de Romero Britto. “Ele preferiu massificar a arte dele, colocá-la em várias camadas sociais, do que ser alguém restrito. Foi uma opção dele. Há quem critique, tanto que ele não é mais tão cotado no âmbito das galerias, mas há também quem valorize”, analisa a consultora criativa. Como bons exemplos, Cristina cita a relação entre os artistas Pedro Sangeon (criador do personagem Gurulino), Thales Fernando (artista urbano que responde pelo codenome Pomb) e o Coletivo Transverso. Além de serem artistas visuais, eles se apropriam de produtos como quadros e garrafas utilitárias, objetos em que a arte visual vira design.



Por: Rebeca Oliveira – Fotos: Gustavo Moreno/CB/D.A.Press – El Cabriton/Divulgação – Correio Braziliense


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