Rollemberg encontra-se com Adna Santos de Araújo,
responsável pelo centro: pedido pela cultura da paz
Governador visita terreiro incendiado e promete
criação de núcleo voltado para crimes de racismo. Promotor público pede para
"exaurir todas as linhas de investigação"
O governador do Distrito Federal, Rodrigo
Rollemberg (PSB), disse que criará uma delegacia especial para investigar
crimes de racismo e de intolerância religiosa no Distrito Federal. O anúncio
foi feito em visita ao terreiro Axé Oyá Bagan, que fica em uma chácara entre o
Lago Norte e o Paranoá, no Núcleo Rural do Tamanduá, e pegou fogo na madrugada
de sexta-feira. O clima entre a comunidade local é de medo e há suspeitas de
que o incêndio foi criminoso. Os ataques a outros cinco templos de religiões de
matrizes africanas no Entorno do DF nos últimos quatro meses reforçam o temor.
“Vou determinar a criação de uma delegacia contra delitos de intolerância. Não
podemos admitir que a capital da República tenha demonstrações de intolerância
religiosa que descumprem a Constituição brasileira”, prometeu o governador.
Na visita, Rollemberg também disse
que o GDF não aceitará os ataques e taxou o incêndio de “retrocesso
inadmissível”. Ele pediu que todos os brasilienses combatam a intolerância e
estimulem uma “cultura de paz”. “Um dos bens mais preciosos da humanidade é sua
diversidade. Estamos aqui para prestar nossa solidariedade à Mãe Baiana. Já
determinamos ao Corpo de Bombeiros e à Polícia Civil que priorizem essa
investigação”, afirmou. Os deputados federais Érika Kokay (PT-DF) e Paulo
Pimenta (PT-SP) também estiveram no local.
Em conversa com o Correio
Braziliense, a ialorixá Adna Santos de Araújo, 52 anos, mais conhecida como Mãe
Baiana, disse que ela e outros religiosos da comunidade estão com dificuldades de
dormir, por medo de “novos ataques”. Ela soube, por vizinhos, que, nos últimos
dias, por pelo menos três vezes um Ômega azul suspeito passou lentamente pela
rua. “Ninguém dorme. Ninguém tem sossego. Temos medo de outro ataque. Não temos
paz”, lamentou. Na opinião do delegado-chefe da 6ª Delegacia de Polícia
(Paranoá), responsável pelas investigações, Marcelo Portela, o medo da
comunidade tem fundamento. No entanto, ele afirma que ainda não existem
indícios para provar que o incêndio é criminoso. “A gente não tem elementos
para dizer que foi um ataque ou um incêndio acidental. Vamos aguardar a
perícia”, ressaltou.
Promotor e coordenador do Núcleo
de Enfrentamento à Discriminação do Ministério Público do DF e Territórios
(MPDFT), Thiago Pierobom destacou a necessidade de “exaurir todas as linhas de
investigação”. “Nos ataques no Entorno, as pessoas passaram a mensagem aos
praticantes das religiões de matrizes africanas de que elas não estão seguras.
No DF, no entanto, não temos registro de ataques a templos desde 2013. Por
isso, o incêndio chamou a atenção. Requisitamos prioridade nas investigações
para, se for um acidente, tranquilizar as pessoas; mas, se foi um caso de
intolerância, que se documente tudo e se chegue à autoria dos fatos”, destacou
o promotor.
"Ninguém dorme. Ninguém tem sossego. Temos medo de outro ataque.
Não temos paz”
(Mãe Baiana, proprietária do terreiro Axé Oyá
Bagan)
Por: Luiz Calcagno – Daniel Couri – Foto: Toninho
Tavares – Agência Brasília – Correio Braziliense