Reunião extraordinária da CPI do Transporte Público ontem pela manhã:
divergências internas
Documento encaminhado ontem à noite ao governador Rodrigo Rollemberg adianta algumas conclusões do relatório final da comissão que apura falhas na licitação do transporte público. Serão pelo menos três indiciados
Após 180 dias de trabalhos, a CPI do Transporte Público na Câmara Legislativa encaminhou ontem à noite uma carta para o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) com uma série de sugestões a fim de melhorar os coletivos na capital. O documento de quatro páginas tem oito recomendações e nove críticas a respeito do funcionamento dos ônibus e dos pagamentos mensais feitos às empresas que operam o sistema. Um dos pontos é em relação a uma suposta preferência do GDF à Viação Pioneira: enquanto ela recebe em dia todos os meses, o subsídio das demais companhias costuma atrasar. Alguns integrantes da CPI, contudo, discordaram do documento. Eles se reuniram ontem pela manhã. “Esses caras estão perdidos, não avançam em nada”, reclamou Ricardo Vale (PT).
Apesar de terem pedido para prorrogar os trabalhos em 90 dias, o Correio
apurou alguns dos itens que estarão no relatório final da comissão. Três
envolvidos no certame de R$ 7,8 bilhões, por exemplo, dificilmente escaparão do
indiciamento: Sacha Reck, que prestou consultoria ao Executivo local enquanto
advogava para empresas vencedoras da concorrência; Galeno Furtado Monte,
presidente da comissão de licitação; e o ex-secretário de Transporte José
Walter Vázquez. Além disso, os integrantes da CPI acreditam que o GDF poderia
recuperar mais de R$ 100 milhões se cobrasse os pagamentos excedentes
realizados às companhias desde a renovação da frota.
A gratuidade a estudantes, idosos e deficientes é outra questão
analisada a fundo pelos deputados. Segundo eles, é necessário um novo cálculo
dos repasses feitos às prestadoras de serviço, o que poderia render uma
economia de R$ 5 milhões anuais. Na visão dos parlamentares, os contratos com
as cinco empresas precisam passar por uma auditoria contábil a fim de
verificarem possíveis incongruências e gastos desnecessários não identificados.
Eles também recomendam a Rollemberg acionar a Polícia Civil para investigar
casos de carteiras irregulares do Sistema de Bilhetagem Automática. Por fim, os
distritais acreditam ser necessária a reavaliação das concessões das linhas do
BRT Sul, um dos principais projetos do governo passado.
Embates
Embora as recomendações tenham sido enviadas ao Palácio do Buriti em
nome da CPI, nem todos os integrantes da comissão concordaram com o conteúdo do
documento. Formada por cinco deputados, a comissão está dividida em duas: os
defensores do antigo governo, que enxergam poucos problemas no processo de
contratação, e os oposicionistas à antiga gestão.
Rafael Prudente, peemedebista ligado ao ex-vice-governador Tadeu
Fillipelli (PMDB), padrinho de Vázquez no mandato passado, fez uma ressalva
quanto às nove afirmações. Para ele, o texto deveria ser menos incisivo e fazer
apenas recomendações, sem levantar suspeitas. Ricardo Vale (PT), aliado de
Agnelo Queiroz, concordou com Prudente e foi além: “CPI serve para fazer
relatório final, não uma carta de sugestões no meio do processo".
Fonte: Matheus Teixeira – Guilherme Pera –
Foto:Gustavo Moreno/CB/D.A.Press – Correio Braziliense