Para um governo que recomeçou de forma enviesada,
não chega a ser surpresa o fato de vir a terminar também de forma confusa. Na
verdade, o governo vem desabando a cada dia diante de todos. Com ele, despencam
também os números da economia, a confiança da população e a imagem do país
diante do mundo. No melhor estilo terrorista, o Estado foi sequestrado pela
falência interna do governo, paralisando a máquina pública e estagnando a
necessária produção de bens e riquezas. Com isso, segue sem solução a paralisia
geral, com o governo se sobrepondo aos interesses da nação.
Ao levar de roldão a sociedade inteira para dentro do redemoinho
institucional gestado e alimentado dentro do próprio Palácio do Planalto, fica
evidente também a falência do modelo de presidencialismo de coalizão e, de
quebra, a multiplicidade de legendadas partidárias.
A polarização, criada pelo
governo, para resumir a refrega entre Dilma e Eduardo Cunha, coloca no mesmo
ringue dessa política medíocre 200 milhões de brasileiros, alheios a contenda e
vítimas potenciais da paralisação do Estado. Para piorar as coisas, o partido
da presidente anuncia a convocação da militância para sair às ruas em defesa de
um governo que o mesmo partido lavou as mãos e lançou às feras.
Dentro da estratégia do partido que um dia foi dos
trabalhadores, o retorno à condição de oposição — em caso de vitória do
impeachment — seria o melhor dos mundos, pois estaria a salvo em terra firme,
longe das tempestades em alto-mar e, de quebra, pousaria de vítima da
artilharia do que chama de direita golpista. A convocação dos gatos pingados
fiéis para que venham para as praças pode ainda ensejar a generalização de
conflitos fratricidas, com repercussões imprevisíveis. Nesse sentido, aumenta
muito a responsabilidade dos verdadeiros estadistas para que o pior seja
evitado.
Para um cenário que parecia se agravar a cada
momento, possível negação do impeachment pelo parlamento, prolongando a
permanência de Dilma no comando do Executivo, pode, ao empurrar a crise para
frente sine die, elevar a temperatura da crise, arrastando o país inteiro para
dentro do buraco, com efeitos igualmente catastróficos. Para quem pensa que
resolver os problemas do país é prioridade, deve se lembrar que estamos a
poucos dias do recesso. De toda forma, está aberta a maior oportunidade de
todos os tempos, para sanear o Estado por meio das reformas políticas
verdadeiramente necessárias.
A frase que não foi pronunciada
“Eu quero o meu passado de presente!”
(Tantos bons políticos e gente de
bem que tem as ferramentas para consertar este país.)
Por: Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” –
Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google