Cantora compartilhou experiências pós-trauma para
confortar outras vítimas: ''Não guardem suas dores dentro de vocês''
Depois de revelar, há um ano, que foi estuprada no fim da adolescência,
Lady Gaga voltou a abordar o assunto durante debate promovido pelo jornal New York Times, nos
EUA. "Acho que não contei para ninguém durante uns sete anos. Não sabia o
que pensar a respeito, nem como aceitar. Não sabia que não deveria me culpar,
ou pensar que a culpa era minha", desabafou a artista, indicando que o
crime de que foi vítima "mudou minha vida, mudou completamente quem eu
era".
Gaga
tinha 19 anos quando foi atacada. O estupro deixou marcas, tanto psicológicas
quanto físicas, que ela agora, aos 29, faz questão de compartilhar.
"Quando você passa por uma situação como esta, as ramificações físicas não
são apenas imediatas. Para muitas pessoas funciona como um trauma que você
revive por muitos anos depois. Logo, as pessoas não sofrem dores apenas mentais
e emocionais, mas também dores físicas resultantes de terem sido abusadas,
estupradas ou traumatizadas de alguma forma", detalhou a popstar.
Em
decorrência, Lady Gaga diz ter passado por um processo cruel e comum às vítimas
deste tipo de crime: a autoacusação. "Por causa do jeito como me visto, e
por meu modo provocativo de ser, pensava que eu tinha atraído isso até mim. Que
era minha culpa", admitiu a cantora.
Porém,
com o passar dos anos, ela conseguiu enxergar que a responsabilidade era
unicamente do homem que a estuprou, e decidiu dividir com o mundo suas
experiências na intenção de abrir os olhos de outras vítimas.
"Quando
olho para o mar de lindas carinhas jovens, para quem eu tenho a chance de
cantar e dançar, vejo muita gente que guarda segredos que as estão
matando", observa Gaga. "Nós não queremos que vocês guardem suas
dores aí dentro e deixem-nas apodrecer como uma maçã estragada, entende? Vamos
jogar fora todo esse lixo. Vamos nos livrar disso juntos", convocou.
Até
acontecer com você
As declarações de Lady Gaga ocorreram durante debate sobre o
recém-lançado documentárioThe hunting ground. Dirigido pelo
indicado ao Oscar Kirby Dick (The invisible war, Twist of faith), o longa
aborda histórias de duas mulheres que foram estupradas enquanto eram alunas de
uma universidade na Carolina do Norte. Gaga gravou o tema do filme, Till it happens to you, acompanhado de
um clipe impactante divulgado em setembro.
A canção,
assinada pela cantora em parceria com Diane Warren, concorre ao Grammy no ano
que vem. "Diane e eu queríamos abrir a porta para qualquer pessoa que
viveu alguma experiência do tipo, para que soubessem que está tudo bem em compartilhar,
e que você não precisa ficar tão na defensiva porque, até que aconteça com
você, ninguém sabe como é", apontou a popstar.
Anteriormente, Gaga já havia se envolvido na causa das vítimas de
estupro em ambiente universitário, quando apoiou a campanha Enough is enough.
Em junho, a intérprete e compositora se uniu ao governador de Nova York, Andrew
Cuomo, para emplacar um projeto de lei que protege vítimas nos campus.
"Atualmente, muitas estudantes universitárias passam por abusos sexuais,
poucos abusadores são condenados e muitas vezes sobreviventes não têm recursos
suficientes para a recuperação", declarou Gaga à época.
A artista
norte-americana também é fundadora e co-gestora da organização
não-governamental Born this way, que presta assistência a jovens gays,
lésbicas, bissexuais e transexuais (LGBT) expulsos de casa ou em situação de
risco social.
Por: Bossuet Alvim – Foto: Jack Taylor/AFP –
Fonte: Correio Braziliense
Até acontecer com você