Povoada de indivíduos medíocres
instalados nos mais diversos postos do Estado, nossa pobre República se tornou
tão frágil e instável que não resiste à bisbilhotice das provas eletrônicas. E
não resiste, por um simples detalhe: nas conversas e nos diálogos que são
travados nos principais gabinetes das autoridades em Brasília, o conteúdo é pra
lá de antirrepublicano, não raras vezes na contramão do que reza o próprio
Código Penal. Pelo que a sociedade tem visto, lido e ouvido até aqui, as
tratativas firmadas por nossas autoridades entre quatro paredes, no mínimo,
afrontam a Constituição.
É justamente nessa contradição, em que a coisa
pública é tratada bem longe do interesse e da curiosidade pública, que
afundamos todos. Ao pé do ouvido, o Estado é retalhado e dividido quase que
democraticamente entre os muitos apoiadores das manobras. A política, deformada
nos alicerces, tornou-se ramo de negócio. Os acordos políticos não vão além de
tratativas comerciais, em que o importante é o quanto vão render, para cada um
dos negociantes, os acordos fechados. Com gente assim, nossa República se
transformou em grande feira, onde tudo é negociável, inclusive a ética pública.
Fosse permitida à nação escutar os diálogos
travados nos gabinetes do terceiro andar do Planalto ou durante almoços e
jantares no Alvorada, o alerta de que “a casa caiu” poderia ser substituído
pela frase “o Palácio caiu”. O governo, em primeiro plano, e a República como
um todo perderam o último e principal pilar, que os sustentava perante a
sociedade e pode ser resumido na palavra credibilidade. Mesmo nas mais
insignificantes negociações comerciais do dia a dia, exige-se a figura da
credibilidade, quiçá quando o que está em jogo é toda uma nação.
Quão comprometedores, perigosos e ilegais são os
diálogos de nossas autoridades jamais saberemos na integralidade, mas, pelo
pouco que se tem vazado para a sociedade, já é possível ter noção suficiente de
que estamos sendo levados por mãos erradas. Não falem de ilegalidade da prisão
coercitiva. Por favor, não citem Constituição ou Estado democrático de direito.
Chega de embaçar a realidade com sopa de letrinhas. Quem é autoridade e rouba
devolve o dinheiro e é preso. Com líderes desse calibre, marchamos
incontinentes para a ruína certa.
***
A frase que foi pronunciada
“A verdade e a mentira são construções que decorrem da vida no rebanho e
da linguagem que lhe corresponde. O homem do rebanho chama de verdade o que o
conserva no rebanho e chama de mentira o que o ameaça ou exclui do rebanho.
[...] Portanto, em primeiro lugar, a verdade é a verdade do rebanho.”
(Friedrich Wilhelm Nietzsche)
Por: Circe Cunha – Coluna “Visto,
lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog -
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