Lula chega ao fim de sua trajetória meteórica três décadas depois de
alçar voo, percorrendo uma parábola perfeita, do chão ao céu e do céu de volta
ao chão, onde corre agora o risco de voltar a ser pó. O número de filiados
desapontados aumentou. Enfim, perceberam que foram usados para que Lula e toda
a turma da cúpula pudesse lamber os dedos nos aposentos das elites. Era só isso
o que procuravam.
Apesar
dos discursos veementes, de ter sido pontual contra as falcatruas, as
prioridades da sociedade estão em desequilíbrio constante com as prioridades de
Lula. Enquanto a reforma política não reorganizar a situação atual, a
administração continuará ao relento, deteriorando-se a cada golpe do
clientelismo, do corporativismo e da corrupção.
Acontece
uma revolução no Brasil. Uma revolução de mentalidade, cultura, participação.
Sem isso nunca serão possíveis mudanças efetivas que extirpem de vez o câncer
da corrupção. Obrigar a devolver o que foi roubado e punir exemplarmente os
envolvidos, para que passem a pensar duas vezes antes que se rendam às
propostas ilícitas.
O tempo
dirá como tudo ocorrerá. Como chefe do Executivo, Lula flanava pelos ares
ajudado pelo bafo quente da turba de bajuladores que inflava seu balão. Ao
público, dizia odiar as elites. À meia-luz, ceava com elas em saraus magníficos
e se sentia no paraíso. Pelas elites foi usado como mais um despachante de
luxo, alojado no 3º andar do Palácio do Planalto. Não ouviu o conselho de
Barack Obama: “Livre-se dos bajuladores. Mantenha perto de você pessoas que te
avisam quando você erra”.
Se a
oposição entendesse um pouco sobre as artimanhas do destino, saberia que foi
bafejada pela sorte quando perdeu a última eleição para Dilma e seu partido em
2014. Ao se ver derrotada em 2014 para a chefia do Executivo, a oposição, sem
querer, se livrou da maior e mais nefasta herança que um sucessor pode
adquirir.
Caso
Aécio ou Marina assumisse a Presidência e se deparasse com a casa arrasada que
havia por trás das portas do Palácio do Planalto, de nada adiantaria vir a
público e reclamar do caos. Na eventual sagração da oposição, o Partido dos
Trabalhadores espalharia, aos quatro ventos, que a ruína do país, agora
escancarada, fora criação proposital dos oposicionistas para culpar os
antecessores. A vitória da oposição a tornaria dona e fiadora do caos.
Da mesma
forma, mas em sentido oposto, se as hostes petistas pudessem prever o que viria
a seguir à posse do segundo mandato de Dilma, cuidaria ou de apontar outra
figura para concorrer ao pleito, ou forçaria a barra para perder as eleições e
se livrar, em grande parte, da avalanche de escândalos e descalabros que
deixaram para trás. Assim, por razões inversas, quis o destino ou algo
sobrenatural que quem ganhou perdeu e quem perdeu ganhou sem saber.
Ainda
assim, na conta de chegar, somando e dividindo tudo, coube à população ficar
com um baú abarrotado de infortúnios. Diferentemente do governo e de seus
aliados, que, uma vez apeados do poder, se desmancharão no ar e não deixarão
rastros. Restará apenas o prejuízo para a sociedade trabalhadora pagar. Será
preciso retornar pelo mesmo caminho, recolher os cacos e, sobre os escombros
deixados, reconstruir novamente o país.
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A frase que não foi pronunciada
“Criar o futuro é um desafio até para os otimistas.”
(Ulisses Guimarães, de onde estiver, pensando no Brasil)
Por: Circe Cunha
– Coluna “Visto, lido e ouvido – Ari Cunha – Correio Braziliense –
Foto/Ilustração: Blog - Google