O PT colhe hoje o que plantou. Quando oposição, o
partido se insurgia contra a corrupção, contra acordos com a direita e a elite
financeira e prometia ética na política. Ao deixar a planície e se instalar no
Planalto, sofreu metamorfose estupenda. Logo no primeiro governo Lula, o
mensalão escandalizou o Brasil. Até hoje, cenas de Jefferson denunciando a
maracutaia — “Sai daí, Zé!” — estão frescas na memória dos brasileiros que
acompanharam o desenrolar do escândalo. À época, em pronunciamento, Lula se
disse traído e afirmou que o PT devia desculpas à nação.
Até hoje, o país aguarda o mea-culpa petista. Em
vez disso, o que todos viram e veem é que, na prática, os condenados do
mensalão foram saudados pelos bons companheiros como “guerreiros do povo
brasileiro”. Além disso, o partido aprofundou a guinada à direita, aliando-se a
todos que acusava de corruptos e culpava pelo atraso do país. Nessa lista,
encabeçada pela elite financeira, estão banqueiros, empreiteiros, Collor,
Maluf, Sarney, Renan, Jucá, Jader Barbalho, Temer, Cunha e toda a banda podre
do PMDB, sem exceção.
Veio, então, a descoberta do bilionário esquema de
desvio de dinheiro da Petrobras e de outras estatais, de venda de medidas
provisórias, de Belo Monte, de obras da Copa, da transposição do São Francisco
etc., evidenciando que o assalto aos cofres públicos deixou de ser mero ponto
fora da curva. Tornou-se método. Investigações apontam que a ladroagem, além de
servir para enriquecimento pessoal, passou a financiar a perpetuação do partido
no poder.
Tradução: quem votou no PT esperando ética na política acabou vítima de
estelionato eleitoral. Falando em português claro: acabou vítima de um golpe.
Mas, numa total inversão de valores, quem anda sendo chamado de golpista pelo
PT são os cidadãos a favor do impeachment de Dilma. Não cola. O Brasil que
exige o impedimento dela tampouco avaliza Temer ou Cunha. Sabe que são apenas
sócios que brigaram e agora estão em lados opostos. O sujo e o mal lavado. Quer
uma prova? Veja: pesquisa Datafolha apontou que 58% da população é igualmente a
favor do afastamento de Temer. E que 80% defendem a cassação de Cunha. Ou seja:
se depender dos brasileiros, a lista dos políticos a serem defenestrados é
longa. Dilma figura apenas como a primeira da fila.
Por: Plácido Fernandes Vieira – Correio Braziliense
– Foto/Ilustração: Blog -Google