Resolvidos os graves problemas
decorrentes do processo de impeachment, deverá seguir, na Câmara dos Deputados,
boa quantidade de pedidos para a instalação de Comissões Parlamentares de
Inquérito (CPI), destinadas a esmiuçar as entranhas do governo Dilma. Entre
essas comissões, ganha dianteira a CPI da União Nacional dos Estudantes (UNE).
O interesse dos oposicionistas sobre a entidade é grande e vem crescendo nos
últimos anos, desde que ela passou a compor com o governo, agindo como
verdadeiro braço político do Palácio do Planalto. Contando, até o momento, com
mais de 201 assinaturas — 30 a mais do que o mínimo necessário para a
instalação —, a CPI da UNE foi chamada ao crivo parlamentar, graças ao trabalho
de coletas de feitas pessoalmente pelo deputado Marco Feliciano.
Contrariada, a entidade declarou guerra aberta ao parlamentar nas redes
sociais e até nas dependências da Câmara. Criada a mais de 80 anos, a UNE
sempre se notabilizou pela oposição cerrada aos governo, fosse qual fosse. Nos
últimos 10 anos, contudo, a rebeldia natural, deu lugar a uma entidade dócil,
quando não, defensora ardorosa do governo. O motivo dessa conversão repentina
não está na identificação e afinidade ideológica com o governo. Trata-se de uma
razão bem mais pragmática e material.
De acordo com o emaranhado de dados disponíveis, desde de 2006, a UNE já
recebeu quase R$ 60 milhões entre repasses e doações de estatais, quer por meio
de patrocínio de ministérios, quer por transferências direta do governo. O
Tribunal de Contas da União e o Ministério Público já detectaram a emissão de
notas fiscais frias para a comprovação de gastos, bem como o desvio de dinheiro
para compra de bebidas alcoólicas e outros gastos suspeitíssimos. Somente com a
construção de um luxuoso edifício para a instalação de sua sede, a UNE projeta
gastar R$ 65 milhões.
“A sociedade”, diz o parlamentar, “precisa saber o que se passa numa
entidade tão importante e de tantas tradições quanto a UNE, portanto, vou
propor uma CPI para apurar essas irregularidades apontadas pelo TCU”. Como
entidade privada de defesa dos interesses dos estudantes, na prática, a
entidade há muito perdeu esse elã e hoje é vista com desconfiança no meio
estudantil. O motivo é sua abdução pelo governo por motivos pecuniários,
deixando de lado os interesses de quem deveria representar. Até mesmo o corte
anunciado pela presidente Dilma no orçamento do Ministério da Educação, da
ordem de R$ 9 bilhões, passou em brancas nuvens pela entidade e não foi
comentado.
Somente a Petrobras, tão saqueada, destinou R$ 750 mil para a UNE nos
últimos anos. A montanha de dinheiro despejada pelo governo petista nos cofres
da entidade, dizem os opositores da atual direção, comprou seu silêncio e,
pior, sua conivência e a própria razão de existir.
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A frase que não foi pronunciada
“Não vai ter golpe! Não vai ter mais golpe de foices e machados nos cofres públicos.”
(Alguém explicando o mote na praça.)
Por: Circe Cunha – Coluna “Visto,
lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog-Google