Os romances policiais
transformaram a figura do mordomo em eterno suspeito.
Tornou-se clichê: a culpa
era sempre do personagem. Mas o escândalo que envolve o ex-presidente Lula como
suposto proprietário oculto de um triplex à beira-mar no litoral paulista acaba
de arrumar um vilão diferente para a trama: o zelador. Depois de depor e
confirmar que testemunhou visita do presidente Lula, de dona Marisa e do dono
de uma empreiteira ao imóvel, José Afonso Pinheiro foi demitido. Perdeu o
emprego no edifício Solaris, no Guarujá, em São Paulo.
“Foi pura política por causa daquele depoimento”, indignou-se José
Affonso, em entrevista ao Estadão. E explicou: “Depois de eu ter dado o depoimento,
a engenheira da OAS disse que eu tinha falado demais. O síndico mesmo disse que
eu tinha falado demais. O pessoal deixa esfriar um pouquinho e acaba sobrando
para a gente que é menos favorecido”.
E ainda há quem caia na balela do tal “pai dos pobres”. A cada dia, os
fatos tratam de desmentir o marketing petista. E o marqueteiro que angabelou
milhões de brasileiros está preso em Curitiba. Daí por que a face lulista que
vem à tona agora se assemelha mais à de um famoso personagem de Chico Anysio, o
Justo Veríssimo, com o bordão que, até hoje, é a mais perfeita tradução do
político sem escrúpulos: “Eu quero que pobre se exploda”.
Afinal, sem educação nem saúde decentes, não há como sair da miséria. Era
essa a intenção: cultivar quem recebe bolsa-família num curral eleitoral de 40
milhões de votos? Segundo o jurista Hélio Bicudo, José Dirceu lhe disse que a
ideia era essa. Começava aí a decepção de Bicudo com o partido. Depois veio o
mensalão, o petrolão — e a indignação do jurista se transformou no atual pedido
de impeachment que hoje tramita no Congresso.
Outro arroubo democrático de Lula é a conversa, de conhecimento público
graças a um grampo autorizado pela Justiça, em que ele diz pro irmão Genival
que haverá “um monte de peão” pra bater em quem ousar se manifestar contra ele
na frente do prédio onde mora em São Bernardo do Campo (SP): “Se os coxinhas
aparecer (sic), eles vão tomar tanta porrada que eles nem sabe o que vai
acontecer”.
“Coxinha” é como pseudopetistas tratam as pessoas que não ganham
“acarajés”, camisa, bandeira, lanche ou transporte para ir às ruas defender o
impeachment. Digo pseudopetista porque parte dessa turma nunca foi petista. A
ideologia que os move é dinheiro. Muito dinheiro. Até mesmo roubado da
Petrobras. É com o bolso cheio de grana que os bons companheiros alegremente
passam o dia a engabelar trouxas postando sandices nas redes sociais. Muita
gente — inocente útil ou desinformada — vai na onda e “curte”.
Por: Plácido Fernandes Vieira –
Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google