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Gim Argello: propina em série

Ex-senador, preso na 28ª fase da Operação Lava-Jato, conseguiu arrecadar pelo menos R$ 7 milhões de empreiteiras

Ex-senador fez espécie de vaquinha entre empresas envolvidas no escândalo da Petrobras para evitar convocação em CPI

O lobista Júlio Camargo disse à Procuradoria-Geral da República que o ex-senador Gim Argello (PTB-DF) pediu R$ 5 milhões de cada empreiteira que não desejasse ser convocada para CPIs da Petrobras no Congresso. Em três reuniões com ele, o ex-parlamentar — preso na 28ª fase da Operação Lava-Jato — afirmou que buscaria recursos com sete construtoras: Odebrecht, UTC, Toyo Setal, Camargo Corrêa, OAS, Queiroz Galvão e Engevix. Se conseguisse a empreitada, Gim arrecadaria pelo menos R$ 35 milhões, mas há informação de que a propina poderia chegar a até R$ 50 milhões (leia mais na coluna Eixo Capital, na página 23). Ao menos oficialmente, ele conseguiu R$ 7 milhões das primeiras três.

"O objetivo seria bancar a campanha do ex-governador José Roberto Arruda (PR) ao Palácio do Buriti em 2014. “Gim Argello sairia como vice-governador de José Roberto Arruda”, disse Camargo em depoimento à PGR."

Segundo Júlio Camargo, a Andrade Gutierrez era uma das empresas preocupadas com a CPI. Ela doou outros R$ 712 mil para a campanha do próprio ex-senador.

Como mostrou o portal do Correio na sexta-feira, o lobista disse ter entregue R$ 200 mil em dinheiro vivo para Gim. O publicitário Paulo Roxo, preso na 28ª fase, mas solto depois, disse à PF que foi o emissário dos valores em espécie, mas que se tratavam de euros. Ele afirmou que foi ao Rio de Janeiro, recebeu o envelope com 200 mil euros e os levou de volta a Gim.

Silêncio
Ontem, o ex-senador prestou depoimento à Polícia Federal em Curitiba, mas nada esclareceu. “A defesa só vai se pronunciar mais à frente”, justificou o advogado dele, Marcelo Bessa. Ele negou ao Correio que o silêncio de Gim seja uma estratégia para deixar aberta a porta para uma futura delação premiada.

Do valor pleiteado, Gim conseguiu R$ 5 milhões da UTC, que foram distribuídos entre a campanha de Arruda e de parlamentares aliados. O dono da empreiteira, Ricardo Pessoa, disse que pagou ao ex-senador para evitar a convocação. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que parte das empresas citadas doaram para os aliados do ex-senador. A Odebrecht doou R$ 170 mil para o PR, que repassou o dinheiro a Arruda. A Toyo Setal, ligada a Camargo, doou R$ 1,9 milhão.

Não foram localizados repasses das outras empresas nas prestações de contas de Arruda e Gim. A Queiroz Galvão disse que não obteve cópia do depoimento de Camargo. “A companhia informa que todas as doações realizadas pela empresa seguem a legislação eleitoral e foram registradas nos órgãos competentes”, continuou. Nenhuma das outras empresas, no entanto, esclareceu se foi procurada pelo ex-senador ou pessoas ligadas a ele para contribuir em contrapartida à proteção no Congresso.

Camargo afirmou, em 14 de abril, que, além de evitar a ida à CPI, as doações interessavam à Toyo Setal porque havia um plano de investimentos do Governo do Distrito Federal no veículo leve sobre trilhos (VLT). Numa reunião com Roxo e outro emissário de Gim, Valério Neves, os dois teriam dito ao lobista que o nome da firma “seria lembrado em futuros projetos do Governo do Distrito Federal”. Em depoimentos, a dupla negou a promessa.

Camargo relatou que a segunda reunião aconteceu com a participação de Léo Pinheiro, presidente afastado da OAS e condenado a 16 anos de prisão por corrupção ativa na Lava-Jato; e de Pessoa, da UTC. “Gim Argello disse que aproveitaria a CPI para arrecadar contribuições, pois estava próximo das eleições”.

Habeas corpus
O relator da Lava-Jato no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, desembargador João Pedro Gebran Neto, negou habeas corpus para libertar Gim. A defesa do senador alegou que não havia provas de que ele tenha recebido propina para blindar empresários na CPI e disse que, como hoje ele é ex-parlamentar, não há riscos se permanecer fora da cadeia.

Gebran discordou. Ele disse que a atuação do ex-senador causa preocupação. “Mais perturbador ainda é ver que o investigado, na condição de membro da CPI, deveria agir justamente na apuração de tais ilícitos, mas age à margem da lei e da confiança depositada por seus eleitores.”

Candidatos beneficiados com o dinheiro arrecadado por Gim destacam que os recursos foram registrados oficialmente no TSE e negaram conhecer qualquer origem ilícita deles. “Todas as doações foram reconhecidas como legais pela Justiça Eleitoral”, disse o advogado do ex-governador José Roberto Arruda, Pedro Ivo Velloso.

“Gim Argello disse que aproveitaria a CPI para arrecadar contribuições, pois estava próximo das eleições” 
(Júlio Camargo, delator da Lava-Jato)

Depoimento de Bumlai é adiado
O depoimento do pecuarista José Carlos Bumlai, que ocorreria ontem na Justiça Federal de Curitiba, foi adiado para 6 de maio. Ele enfrenta câncer na bexiga e está em prisão domiciliar, enquanto responde a processo em que admitiu ter intermediado empréstimo de R$ 12 milhões forjado para o PT no banco Schahin. Segundo o MPF, o grupo Schahin conseguiu contrato de US$ 1,5 bilhão da Petrobras para a dívida com o partido ser quitada. Bumlai não pôde comparecer ao depoimento porque anunciou que passará por uma cirurgia. O depoimento do filho do pecuarista Maurício Bumlai também foi adiado. (EM)

Memória
             Jorge Afonso Argello teria movimentado R$ 2,74 milhões em 2010
Movimento atípico
O ex-senador Gim Argello (PTB-DF) já respondeu inquérito por movimentação atípica de valores de seus familiares. O caso começou a ser tratado no Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou a remessa da papelada para o Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) em março do ano passado, quando ele perdeu o foro privilegiado, mas o site do órgão local não permite saber se a apuração continua em andamento.

A investigação que estava no STF, o inquérito 3746, mostra que a Procuradoria-Geral da República abriu apuração a partir do relatório 8296 do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). O documento apontou “movimentação financeira atípica de Márcia Cristina Lanzillote Varandas Argello”, mulher de Gim. “Consta do referido relatório que Márcia Argello solicitou provisionamento para saque em espécie de oitocentos mil reais em 28 de junho de 2012”, narra o Ministério Público. “O valor foi depositado em sua conta pela Petro Rios Comércio Derivados de Petróleo Ltda. O valor foi recebido por Vítor Teixeira em uma lotérica de propriedade da família do Senador.”

O Coaf menciona ainda que o filho de Gim, Jorge Afonso Argello Júnior, movimentou R$ 2,74 milhões em sua conta bancária entre fevereiro e setembro de 2010, “valor incompatível com sua renda declarada de R$ 6.500 por mês”.


Fonte: Eduardo Militão – Fotos: Breno Fortes/CB/D.A.Press – Heuler Andrey/AFP – Correio Braziliense

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