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#HABITAÇÃO » Estrutural ensaia crescimento

Os irmãos universitários Mateus e Maila Santana são exceção na Estrutural, onde 45% da população não tem o ensino fundamental

Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílio (Pdad) mostra que aumentou sensivelmente o total de moradores na faculdade. Mas a localidade ainda sofre com falhas básicas na educação e na mobilidade

De uma invasão com os primeiros barracos de madeira nos anos 1960, a Estrutural se tornou hoje uma grande cidade. O número de habitantes saltou de 35.094 em 2013 para 39.015 no ano passado, segundo a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílio (Pdad) divulgada ontem pela Companhia de Desenvolvimento do DF (Codeplan). O passado ainda afeta os indicadores da localidade, apontada como a menor renda domiciliar per capita de todo o Distrito Federal — não chega a um salário mínimo, ficando em R$ 521. A educação também deixa a desejar: quase metade dos moradores, 45,21%, não completou o ensino fundamental. Porém, apesar de ainda pequena, a procura pelo ensino superior tem crescido. Em 2013, apenas 0,51% ingressavam na faculdade, contra os 1,48% atuais.

Mateus Santana dos Reis, 20 anos, é um dos jovens que se encaixam no quadro de busca a uma universidade. Aluno do 2º período de licenciatura em matemática do Instituto Federal de Brasília (IFB), ele acredita que falta de incentivos do governo. A Cidade Estrutural ainda não tem escola de ensino médio. Devido às dificuldades, muitos acabam desistindo do mercado de trabalho. Segundo o estudo, 418 pessoas com idade entre 7 a 17 anos estão fora da sala de aula. “São as dificuldades enfrentadas por quem mora aqui. Não se tem um planejamento, e a ausência de um ensino médio faz falta na região”, afirma.

A oportunidade próxima de ensino superior e técnico é o câmpus da IFB na Cidade do Automóvel, em funcionamento desde o ano passado. “A localidade influenciou bastante a minha decisão e também o fato de ter o curso de meu interesse”, contou Mateus. Em casa, ele não é o primeiro a ingressar no ensino superior. A irmã dele, Maila Santana, 22, cursa o 4ª semestre de contabilidade. A jovem também sinaliza a falta incentivo ao estudo na região. “Quando eramos mais novos não existiam projetos direcionados a crianças e jovens. Boa parte dos que estudaram conosco acabou indo para um caminho errado ou até largando os estudos para ajudar em casa. Tudo isso por falta de incentivo”, avalia.

O administrador regional da Cidade Estrutural, Evanildo Macedo, reconhece que, no passado, faltaram investimentos em educação. “Agora estamos com os olhos concentrados nessa área para despertar o interesse da população”, sinalizou. Para garantir isso, Macedo explicou que está em fase de projetos a construção do Centro de Ensino Médio e do Centro de Ensino Infantil 1, porém não há previsão para início das obras. “Visando as empresas nos setores ao redor da Estrutural, com o SIA e o SCIA, vamos entrar em contato com a direção do IFB. A intenção é trazer cursos em áreas de conhecimento para vocação da região, exatamente para despertar o interesse dos moradores na continuidade do ensino”, explicou.
O vigilante Clóvis de Souza (com o filho Guilherme) defende a instalação de uma ciclovia na cidade, assim como Rosemary Roselie

Mobilidade
A pesquisa aponta que boa parte da população da Estrutural usa a bicicleta como meio de transporte. Dos 39 mil moradores, cerca de 40% recorre às pedaladas. Essa movimentação é fácil de perceber nas ruas da cidade. Em meio a carros, motos e carroças, devido à falta de ciclovias na localidade, o ciclista se vê obrigado a enfrentar o trânsito nas vias. Rotina enfrentada por Rosemary Roselier, 31 anos, que usa a bike para ir trabalhar. “Uma ciclovia faz muita falta. Já tive várias situações de motoristas virem para cima. Temos de andar bem atentos aqui para não sofrer acidente”, contou.

O vigilante Clóvis de Souza, 26, também só usa a bicicleta para circular na região. Algumas vezes, com o filho Guilherme, 3. “Tomo todas as precauções para evitar qualquer incidente. A ciclovia seria uma solução, uma vez que grande parte da população usa esse transporte”, disse. O presidente da Codeplan, Lucio Rennó, destacou que poderia ser pensado um projeto de compartilhamento de vias na localidade. “A presença de pessoas usando bicicleta é muito grande. Esse compartilhamento de espaço talvez seria uma solução. É o que vem ocorrendo em Águas Claras. É uma situação que a administração pode pensar para melhorar a mobilidade”, sugeriu.

A Pdad também apontou um aspecto de melhoria na região. Os resultados mostram que os setores de serviço de limpeza e esgotamento sanitário atendem, respectivamente, 95% e 89% dos domicílios — índices considerados próximos da universalização. Outro dado importante é que 93% das casas contam com abastecimento de água. São 9.265 moradias das 9.963 existentes com acesso ao tratamento oferecido pela Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb). A falta de cobertura total da região, se explica pelo Setor de Chácaras Santa Luzia, área de proteção ambiental invadida nos anos 1990. Por lá, vivem cerca de 1,5 mil famílias, segundo a administração da Estrutural. Parte delas trabalha no Lixão da Estrutural. De acordo com a administração, o GDF realiza estudos e monitora o lugar para evitar novas ocupações.




Fonte: Thiago Soares – Fotos: Carlos Vieira/CB/D.A.Press – Correio Braziliense

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