O carioca tomou gosto pela
jardinagem aos 10 anos, quando veio morar em Brasília, em 1973
O servidor público Gerardo Araújo
começou a cuidar das plantas de seu bloco em Águas Claras, mas logo passou a
dedicar-se elas também nas redondezas
Gerardo Araújo de Lima, 53 anos, conhece Águas Claras como
poucos moradores da região. O servidor público desembarcou por lá há 19 anos e,
desde então, acompanhou o crescimento da cidade.Enquanto isso, alimentou um
desejo especial: o de manter parte da cidade enfeitada com plantas e árvores.
Gerardo é
um genuíno carioca, desses que trazem um sotaque carregado e inconfundível. No
porta-malas do carro, traz sempre um verdadeiro arsenal verde: regadores, pás e
tesouras de jardinagem. Sujos de terra, os objetos entregam a paixão pela
natureza que ocupa quase todo o seu tempo livre.Vivendo na quadra 202 de Águas
Claras, ele recolhe plantas descartadas por moradores da região. Também cultiva
e compra mudas de árvores e plantas. Sem auxílio algum, encarrega-se de plantar
tudo nas redondezas do prédio onde vive.
A boa
ação, reconhecida e aplaudida por moradores da cidade, não fica apenas no
primeiro passo. “Eu planto e cuido da manutenção de cada árvore. Não quero
prejudicar a cidade, mas ajudar. Por isso, rego e podo constantemente”, conta.
E tudo ocorre sem hora marcada. Por isso, confessa ter levado puxões de orelha
da mulher dele. “Sempre que posso, uso minhas horas vagas para isso. Muitas
vezes aproveito o horário de almoço e até mesmo a madrugada. Minha família vai
atrás de mim e, se não me acha, já sabe onde estou”, diz.
Ele faz
tudo por amor à natureza e, acima de tudo, por acreditar que o crescimento
desenfreado de qualquer cidade pode ser prejudicial para o próprio homem. Por
viver em Águas Claras desde o comecinho, sente falta dos velhos tempos — quando
a região respirava ar puro e se mantinha sob a sombra das árvores. “A cidade
cresceu muito e extrapolou os padrões. A previsão de construir prédios com até
12 andares se modificou totalmente. Hoje, temos prédios com mais de 20 andares
e não há tanta preocupação com a perpetuação do verde”, acredita.
Para todos
No canto onde vive, sozinho, Gerardo já plantou de quase
tudo. Tem ipê-rosa, amoreira, pitangueira e até cerejeira. Para ele, essa
contribuição voluntária traduz um desejo da comunidade. “Eu não planto para
mim, mas para todos que moram aqui. Acredito que trazer plantas como essas para
cá é, também, possibilitar que crianças conheçam e acompanhem o desenvolvimento
de espécies pouco vistas. Quero que elas tomem gosto por isso”, explica.
E essa
paixão pela natureza nasceu bem cedo, quando o carioca tinha apenas 10 anos.
Curioso, nunca estudou jardinagem, mas tinha interesses incomuns a crianças
desta idade. Em 1973 veio para Brasília com a família, acompanhando a mãe, que
precisava trabalhar. Chegando aqui, foi morar na 312 Sul, num prédio cujas
varandas eram cercadas por jardineiras — locais adaptados para receber plantas
e, assim, decorar os apartamentos. Ali, começou a se dedicar a uma nova
diversão: o plantio de mudas.
Para
passar o tempo, pediu o auxílio da mãe e resolveu começar o cultivo de uma
horta. “Quanto mais eu plantava, mais gostava de fazer isso. Quando as plantas
ficavam muito grandes, eu as colocava no gramado da quadra”, recorda. Anos
depois dessa experiência inicial, casou-se e foi morar em um dos primeiros
edifícios de Águas Claras. Por coincidência, não havia jardineiro no
condomínio. “Resolvi a ornamentar a área comum do meu prédio e o fiz até que um
profissional foi contratado. Só depois disso, passei a plantar na praça”. No
futuro, deseja continuar com a ação. “Se depender de mim, quero plantar em
outros lugares, em áreas que estão vazias”, vislumbra.
"Eu não planto para mim, mas para todos que moram aqui.
Acredito que trazer plantas como essas para cá é, também, possibilitar que
crianças conheçam e acompanhem o desenvolvimento de espécies pouco vistas.
Quero que elas tomem gosto por isso"
Fonte: Correio Braziliense – Fotos: Breno
Fortes/CB/D.A.Press- Correio Braziliense