O projeto do paisagista é um dos cartões-postais de
Brasília e recebe, diariamente, a visita de turistas
Caesb corta fornecimento de água por falta de
pagamento. Prefeitura da 308 Sul diz que publicação de um decreto, em 2009,
determinou que conta deve ser paga pelo GDF
Pela segunda vez em menos de um ano, o
espelho d’água da 308 Sul é alvo de disputas para saber quem é responsável pela
sua manutenção. Na última quinta-feira, a Companhia de Saneamento Ambiental do
Distrito Federal (Caesb) cortou o fornecimento de água do local alegando falta
de pagamento desde julho de 2015. Os débitos chegam a um total de R$ 7.859,54
e, segundo a prefeitura da quadra, são de responsabilidade do Governo do
Distrito Federal (GDF). De acordo com o Decreto nº 30.303/2009, que dispõe
sobre o tombamento da Unidade de Vizinhança 107/307 e 108/308 Sul, toda a área
é protegida e deve ser mantida pelo GDF.
A partir da assinatura do documento,
houve um acordo para que a Administração do Plano Piloto ficasse encarregada
dos pagamentos dos serviços de água e energia elétrica. Segundo Edinho
Magalhães, prefeito da 308 Sul, foram sete anos sem qualquer problema
relacionado a esses valores. “Estamos, porém, lidando com isso, de novo, com a
gestão de Rodrigo Rollemberg. Eles alegam que não é responsabilidade deles
pagar pela área. Mas, se for assim, que ‘destombem’ a quadra”, argumenta.
Magalhães diz que a quadra arca com outras despesas
de manutenção
Em nota, a Administração do Plano
Piloto afirmou que, em dezembro de 2014, enviou ofício à Caesb informando que o
espelho d’água não pertence à carga patrimonial da unidade administrativa. Com
isso, deverá ser feita uma análise jurídica para verificar a situação e como
poderá ser solucionada a questão.
Por meio da Assessoria de Imprensa, o
GDF informou que será preciso esperar pela análise jurídica para definir quem,
de fato, é o responsável pelo pagamento dos valores atrasados na Caesb, mas não
há prazo determinado para que isso ocorra.
Ponto turístico
Até lá, o receio dos moradores é que os
peixes ornamentais que são criados no local possam morrer — Edinho Magalhães
acredita que eles devem suportar pouco mais de um mês. Questionada sobre quem
seria o responsável pelo pagamento das contas, a Caesb afirmou que não fornece
informações de clientes.
O jornalista Bruno Nogueira, 33 anos,
garante que somente depois da assinatura do decreto, há sete anos, é que ele
pôde ver água no local projetado por Burle Marx. “Estou há 16 anos morando em
Brasília e, na maior parte desse tempo, o espelho d’água permaneceu vazio.
Depois que foi feita a revitalização, ele se tornou um ponto turístico mais
forte, além de ser um local que os moradores daqui e das quadras vizinhas usam
para se divertir.”
Edinho Magalhães explica que,
atualmente, ficam a cargo da prefeitura as despesas que envolvem a troca de
filtros e bombas — que garantem a limpeza da água —, além da alimentação dos
peixes. “A média de gastos mensais é de R$ 600 — valor quase igual ao que é
cobrado pela Caesb”, garante. Ele explica que espera um retorno do GDF até
mesmo para o desenvolvimento de parcerias que possam ajudar a diminuir os
gastos, mas que mantenham o espelho d’água funcionando. “Todos os dias, temos
turistas, estudantes e moradores que vêm até aqui para aproveitar a quadra.
Estamos em um dos cartões-postais de Brasília e é assim que o governo nos
trata.”
Para saber mais - Quadra modelo
A 308 Sul é considerada uma quadra
modelo de Brasília porque conta com toda a infraestrutura básica que era
prevista no plano original de Lucio Costa. Nela, os moradores têm acesso a
Clube Unidade Vizinhança, Escola Classe, Escola Parque, Jardim de Infância,
espaço cultural, posto de saúde, biblioteca pública e a uma igreja. Ela também
é a única quadra que tem a marca de Burle Marx em seu paisagismo. Por essas
características, é tida como um ponto turístico até mesmo para os moradores da
cidade.
Fonte: Rafael Campos – Fotos: Breno Fortes/CB/D.A.Press – Correio Braziliense