Cacai Nunes aproveitou a tendência dos shows de rua
para criar o projeto Forró na Vitrola
Cena do espetáculo Mr. Bugiganga, da Companhia
Circênicos: espaço público ocupado para a arte
Barata acredita que relevância das produções
culturais vai além do entretenimento
Apesar da burocracia, aumenta o número de eventos
gratuitos organizados em locais públicos, que confirmam a criatividade de
artistas e produtores culturais em driblar os tempos de crise
"A produção cultural brasiliense tem sido cada vez mais pulsante."
Seguindo
a tendência das grandes metrópoles, os espaços arborizados e monumentais da
cidade projetada por Lucio Costa recebem nos últimos anos um número expressivo
de eventos públicos. Um levantamento realizado pela Administração do Plano
Piloto confirma essa tendência: em 2015, foi registrada a realização de 350
eventos gratuitos. Entre janeiro e abril deste ano, foram viabilizadas 136
manifestações culturais. Para os próximos dois meses, o órgão prevê 50 eventos
em áreas públicas. O movimento tem impulsionado a agenda de cultura da capital
em tempos de crise. “Brasília é uma cidade que está pulsando e acho que todos
esses eventos são de extrema importância para a cultura da cidade. Em um
momento de escassez financeira, essas atividades gratuitas chegaram para suprir
uma lacuna”, ressalta o administrador do Plano Piloto Marcos Pacco.
Aliado ao contexto que favorece esse perfil de evento, estão nomes
consagrados da cidade que abriram caminhos aos que desejam seguir carreira na
área de produção. A burocracia para organizar um evento gratuito se transforma
no principal desafio enfrentado pelos artistas e produtores. O ator Gabriel
Marques, produtor da Cia. Circênicos e do Festival Internacional de Artistas de
Rua de Brasília (FestiRua), precisou conhecer com mais afinco o universo da
produção. “Muitas vezes, tirei o foco dos ensaios para aprender a resolver
problemas burocráticos, o que interfere bastante nos espetáculos. Vários pontos
culturais deveriam ser encarados como espaços culturais a céu aberto, o que facilitaria
a realização dessas atividades”, sugere o artista em entrevista ao
Correio.
Com
grande experiência em produção cultural, um dos criadores da festa Criolina e
do bloco carnavalesco Aparelhinho, Rodrigo Barata aliou o ofício de produção ao
trabalho artístico por necessidade. Ex-integrante da banda de hardcore Pão com
Ovo, formada na década de 1990, ele era um dois responsáveis por várias
atividades de comunicação e administração do grupo.
Barata
acredita que o delicado momento econômico do país impulsiona a nova geração à
criatividade. “Em momentos de crise, coisas interessantes acontecem. O
Aparelhinho é prova disso. É um equipamento de som movido à força humana que
precisa de um pequeno gerador de energia”, detalha o artista, que vislumbra nos
eventos públicos um poder além da garantia de entretenimento. “A ocupação dos
espaços públicos com esse tipo de evento diminui a marginalidade, traz
iluminação aos locais, faz a inclusão de moradores de rua a um contexto social
e potencializa as ações culturais. Com o diálogo mais fluido entre os órgãos
envolvidos, a tendência é que essas festas se multipliquem cada vez mais”,
destaca o artista.
A visita
a vários órgãos vinculados ao Governo do Distrito Federal para retirar alvarás
pode estar entre um dos desafios de preparar eventos gratuitos em locais
públicos. Outro fator agravante que está entre as maiores queixas dos
profissionais do ramo está na liberação dos laudos técnicos do Corpo de
Bombeiros, da Defesa Civil e Vigilância Sanitária, que depende da montagem da
estrutura do evento. “Às vezes, precisamos pagar três dias de diárias.
Quando se
trata de um evento gratuito, isso se torna quase inviável”, afirma Barata. Os
produtores entrevistados pelo Correio foram unânimes ao dizer: é preciso repensar
o formato burocrático para realizar esse tipo de programação. “O ideal seria
ter a centralização dos órgãos envolvidos em um único local. Precisamos de
funcionalidade. Caso contrário, pessoas com boas ideias podem desistir de fazer
eventos assustadas com essa burocracia”, alerta Barata.
O
produtor e músico Cacai Nunes aproveitou a tendência de eventos a céu aberto
para tornar itinerante o projeto Forró de Vitrola, evento destinado ao ritmo
nordestino consagrado na agenda da cidade. Em junho do ano passado, o aporte de
uma Kombi 1973 reformada por Cacai com caixas de som acopladas e espaço para o
transporte de vinis garantiu mobilidade. “Existe um valor agregado pelo fato de
a Kombi ser da época de grande parte do acervo que toco. Além disso, tenho menos
burocracia e ganhei mais autonomia”, ressalta Cacai, que considera o veículo
uma verdadeira sede itinerante do projeto.
Apesar
das dificuldades enfrentadas pelos produtores, Cacai afirma que o próprio clima
da cidade favorece a atividade. “Somos abençoados com quatro meses de seca. São
quatro meses sem chuva propícios a eventos ao ar livre. Numa cidade com um céu
bonito como o nosso, é importante pensar em diversidade cultural em locais
abertos”.
»
COMO ORGANIZAR UM EVENTO PÚBLICO
»
Protocolar um requerimento, com no mínimo 30 dias de antecedência, à
Administração do Plano Piloto. É preciso chegar munido de RG, CPF e/ou CNPJ. No
pedido, o produtor deve descrever o local que pretende utilizar.
» É
necessário classificar o evento em uma das categorias: pequeno (até mil
pessoas), médio (de 1.001 a 10 mil pessoas), grande (de 10.001 até 30 mil) ou
especial (além de 30 mil pessoas).
» Após a
entrega do formulário, a administração entrega um check-list detalhando os
passos seguintes do produtor.
350
Número
de eventos gratuitos em 2015
Fonte: » Sara Campos - Especial para o Correio Braziliense
– Fotos: Breno Fortes/CB/D.A.Press – Fredox Carvalho/Divulgação – Vini
Goulart/Divulgação.