José Aparecido, ex-governador de
Brasília no período 1985-988, talvez tenha sido, dos administradores da
capital, aquele que mais percebeu as sutilezas e a complexidade simples e clara
apresentadas no projeto de Lucio Costa. Tanto entendeu que levou a cabo na sua
gestão a inserção da cidade como patrimônio cultural da humanidade. Foi dele
também a iniciativa de convidar o famoso urbanista para visitar a cidade, um
quarto de século depois de construída, para colher, diretamente do criador,
alguns subsídios para possível adequação aos novos desafios urbanos que se
impunham à época.
É dessa fase o documento intitulado Brasília revisitada, no qual Lucio
Costa detalha, no seu estilo límpido, não só as razões que levaram a tomada de
partido (escolha ou opção por um determinado desenho), bem como as variáveis e
possibilidades para o crescimento e expansão da cidade sem ferir os princípios
que a nortearam.
O problema com acréscimo de elementos extemporâneos a um objeto
clássico, no caso modernista, é que a inserção de uma única unidade pode
macular todo o conjunto, pondo a perder uma obra por completo. Seria o mesmo
que agregar uma roupa mais moderna ou um corte de cabelo mais atual à Monalisa,
de Leonardo da Vinci.
Em Brasília revisitada, Lucio Costa traçou de próprio punho as
possibilidades que visualizava para a expansão da capital, não sem antes fazer
uma crítica educada e oportuna àqueles que se consideram muito moderninhos e
avant garde.
Naquela ocasião, escreveu: “Refiro-me aos empreendedores imobiliários
interessados em adensar a cidade com o recurso habitual do aumento de
gabaritos; e aos arquitetos e urbanistas que, reputando ‘ultrapassados’ os
princípios que informaram a concepção da nova capital e a sua intrínseca
disciplina arquitetônica, gostariam também de romper o princípio dos gabaritos
preestabelecidos, gostariam de jogar com alturas diferentes nas superquadras,
aspirando fazer de Brasília uma cidade de feição mais caprichosa, concentrada e
dinâmica, ao gosto das experiências agora em voga pelo mundo; gostariam, em
suma, que a cidade não fosse o que é, e sim outra coisa”.
De fato, ao que se assiste desde que a capital foi emancipada
politicamente foi que o inchaço demográfico, decorrente que uma política de
atrair pessoas em troca de votos, provocou uma supervalorização nos preços das
terras urbanas — o que, por sua vez, atiçou a cobiça de especuladores
imobiliários ambiciosos. É dessa junção nefasta entre políticos espertos e
empreendedores gananciosos que a cidade vem sendo comida pelas beiradas,
infestada por puxadinhos horrendos, como um bigode rabiscado sobre o rosto
enigmático da Monalisa.
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A frase que foi pronunciada
“É fácil avaliar o juízo ou a capacidade de qualquer homem quando se
sabe o que ele mais ambiciona.”
(Marquês de Maricá)
Por: Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google
Por: Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google
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PUBLICAÇÃO DA REDAÇÃO DO BLOG - (VÍDEO) URBANISTAS POR BRASÍLIA
Saudosa lembrança do homem que entendeu a Arte que Brasília é - José Aparecido
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