O Senado Federal inicia nesta
segunda-feira mais uma etapa do processo de impeachment de Dilma Rousseff. No
plenário da Câmara Alta, será feita a leitura do relatório aprovado na última
sexta-feira por comissão especial por 15 votos favoráveis e 5 contrários.
Encerrada a leitura, conta-se o prazo de 48 horas até o quórum do Senado
decidir, por maioria simples, se aprova ou não a admissibilidade da denúncia
contra a presidente da República. A menos que uma reviravolta extraordinária se
suceda — o que seria surpreendente até para esta excepcional crise política
brasileira —, tudo indica que os senadores votarão “sim” pelo impeachment. Ato
contínuo, Dilma Rousseff é imediatamente afastada do cargo por 180 dias,
fazendo-se, assim, a ocasião para Michel Temer conduzir os rumos da nação.
Esse momento singular no Congresso Nacional guarda relação com outro
episódio histórico, protagonizado pelo Supremo Tribunal Federal na última
quinta-feira. Em consoância com o altivo voto do relator Teori Zavascki, dez
ministros da Corte de Justiça determinaram o afastamento de Eduardo Cunha das
funções de presidente da Câmara e de deputado federal. Por unanimidade, o
egrégio colegiado julgou que o parlamentar desempenhava ações nocivas à
República e à Constituição Federal, ao utilizar-se de subterfúgios para sabotar
processo em curso na Comissão de Ética da Casa Legislativa. Também concluiu o
STF que Eduardo Cunha, na condição de réu no processo judicial da Operação
Lava-Jato, está impedido de assumir interinamente a Presidência da República em
um eventual governo de Michel Temer.
Ao pronunciar o voto em conformidade com o entendimento do relator, o
ministro Luiz Barroso mencionou o apelo recebido de um estudante universitário,
sobre o atual anseio de boa parte da sociedade brasileira. “Ministro, não quero
viver em outro país. Quero viver em outro Brasil”, relatou. A frase citada pelo
magistrado traduz o sentimento de que o país está farto de tanto descaso, de
tanto descompromisso com a coisa pública, de tanta bandidagem impregnada no
corpo do Estado, de forma a paralisar poderes da República. Com a prudência e a
seriedade convenientes à grave hora, o Supremo restabeleceu as condições para a
Câmara dos Deputados, em procedimento interna corporis, definir as sanções
adequadas a Eduardo Cunha e seu modo pernicioso de fazer política.
Cada qual a seu modo e com as respectivas responsabilidades, Dilma
Rousseff e Eduardo Cunha representam uma política que não é mais tolerada pela
sociedade brasileira. Não existem mais condições para agentes públicos “fazerem
o diabo” em busca da prevalência de interesses escusos. O Brasil atravessa uma
crise econômica sem precedentes, precisa com celeridade remediar os danos
gravíssimos cometidos por um governo incompetente, irresponsável e — o Senado dará
a palavra final — criminoso. No âmbito do Legislativo, urge aprovar as reformas
política, tributária e da previdência, para ficar apenas nesses três temas.
Assim que concluir o processo de impeachment e a faxina ética necessária para
desinfetar o efeito Cunha, o Congresso Nacional precisa retomar a agenda
nacional.
A necessidade de inaugurar novas bases para a nação também se impõe a
Michel Temer. Alçado à chefia do Palácio do Planalto pelas circunstâncias, o
provável presidente tem sobre os ombros a responsabilidade de conduzir o país
ao reencontro de sua dignidade e vocação.
Fonte: “Visão” do Correio
Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google