Carlos Eduardo alega que eventos
fazem parte do projeto de revitalização do Teatro Dulcina
Alegando falta de segurança,
prefeitura do Conic decreta prazo para o fim das atividades recreativas
noturnas. Organizadores afirmam ter as licenças do governo
Desde o início do mês, um documento tem
colocado a concepção do tombamento de Brasília em risco. Pensado por Lucio
Costa para ser um lugar de entretenimento, cultura e lazer, o Setor de
Diversões Sul (SDS) poderá não ter mais diversão. Um sobrevivente entre as
referências culturais da cidade, o edifício; e com ele o Teatro Dulcina, a Sala
Conchita e os espaços públicos ali existentes, são um dos poucos pontos
centrais para festas, teatros, palestras. Mas, no último dia 5, a produtora
responsável pela organização dos eventos no Dulcina recebeu uma carta em nome
da Prefeitura do Conic pedindo o fim das atividades no local.
O argumento da prefeitura é de que o
Conic ainda não está preparado para fazer determinados tipos de eventos. Alega
risco aos frequentadores e que há fios elétricos expostos, tubulação de gás no
subsolo, rede de esgoto aberta. “Estamos falando, também, de áreas comuns. Os
síndicos não querem os eventos por lá, até que tudo esteja pronto. Quanto
estiver em condições, sou uma das que defendem que tenha festas. Temos feiras,
exposições e nenhum dá problema. Apenas essas festas”, afirma a prefeita do
Conic, Flávia Portela.
As declarações são contestadas por
Carlos Eduardo Guimarães, o Kaká, dono da Latitude 15 Produções. Segundo ele, a
empresa, ao lado de coletivos de arte e música, foi convidada pela Fundação
Brasileira de Teatro, mantenedora do Teatro Dulcina, a revitalizar o lugar,
abandonado há mais de três anos. Após seis meses avaliando as condições do
prédio, um relatório foi elaborado, com as deficiências do teatro. Uma reforma
foi autorizada e feita entre dezembro de 2015 e fevereiro de 2016, ao custo de
R$ 100 mil. Desde março, o Teatro Dulcina, a Sala Conchita e as áreas públicas
externas voltaram a receber atividades culturais.
Autorizações
“Corremos atrás do alvará de
funcionamento, que passou pela Defesa Civil, pelo Corpo de Bombeiros, e foi
liberado. Temos autorização para funcionar. Reformamos toda a parte elétrica,
inclusive a do subsolo. Pintamos paredes, chamamos grafiteiros, que fizeram
painéis de arte. Arrumamos os banheiros, pois estava tudo destruído”, ressalta
Kaká. O produtor elaborou um processo com documentos recolhidos na Prefeitura
do Conic e no Conselho de Segurança da área central de Brasília, com os
andamentos do caso. Ele entregará tudo ao Ministério Público do Distrito
Federal e Territórios pedindo uma reavaliação da eleição de todo o corpo
diretivo da Prefeitura do Conic.
Mesmo com o imbróglio, as festas estão
acontecendo. Na última quarta-feira, houve o projeto Quarta Dimensão, realizado
há dois meses. Os shows fazem parte do projeto de revitalização do Dulcina e a
proposta é valorizar artistas com trabalho autoral de diversas regiões do país
e, principalmente, do Distrito Federal. A base é retomar a força cultural do
Setor de Diversões Sul. O Quarta Dimensão acontece no Dulcina. Porém, as vias
de acesso ao teatro e os corredores do Conic são áreas públicas. Esse é mais um
dos problemas.
Segundo a prefeita, Flávia Portela, os
espaços precisam ser alugados para serem usados. “Não somos contrários às
festas no Dulcina. Mas elas saem do Dulcina. E como não dão a devida segurança,
enche de ambulantes, de criminosos. Os prédios querem segurança”, pondera.
“Temos um prédio onde as áreas comuns são usadas porque são áreas públicas. A
taxa que tem que ser paga é a de ocupação pública. Toda essa briga é uma perda
para a cidade”, retruca Kaká. A disputa segue indefinida.
Para saber mais - Espaço de
convivência
O Conic foi inaugurado em 1967. A ideia
era construir um espaço parecido com a Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro; com a
Times Square, em Nova York, ou com a Champs Elysées, em Paris. Lucio Costa
queria painéis luminosos, bares e cafés, em um ambiente para reunir a população
da cidade, que pudesse ter cinemas de arte para entreter os brasilienses nos
fins de semana. No início, foi ocupado por algumas embaixadas e órgãos
públicos. Era frequentado pela sociedade da nova capital. Mas, com a criação do
Setor de Embaixadas, as representações internacionais saíram dos prédios e, com
elas, boa parte dos frequentadores.
Fonte: Camila Costa – Foto: Zuleika de Souza/CB/D.A.Press – Correio Braziliense