À medida que o crescimento urbano vai acontecendo,
impulsionado ou não por novos investimentos e iniciativas imobiliárias, mais
desafiadores se tornam os anteparos que a administração pública e as empresas
enfrentarão. Atualmente, não são as migrações as responsáveis pelo caos urbano
das metrópoles brasileiras e sim a falta de políticas públicas que freiem o
inchaço populacional. Exemplo clássico é a falta de políticas habitacionais e
de atividades econômicas que criem postos de trabalho próximos às moradias.
Nessa abordagem se incluiriam as políticas visando descentralizar essas
atividades para os anéis externos das cidades. Estas, ao evoluir e ocupar os
respectivos territórios, tendem a manter concentradas as atividades sociais e
econômicas, o que alonga os deslocamentos diários dos trabalhadores em razão da
congestão do tráfego. É difícil romper a inércia locacional, pois em muitos
casos atividades geram cadeias de produção e oferta de serviços ancilares, que
proporcionam economia de escala pela contiguidade territorial.
Essas economias de aglomeração, que resultam em trânsito caótico,
complicam as metas de sustentabilidade urbana. Portanto, desejamos indicar que
há muitos obstáculos para os que desejam fazer da sustentabilidade uma meta a
atingir, ao longo de um tempo determinado e em territórios populosos como os
das metrópoles. Avalia-se que há um longo caminho a percorrer para se chegar ao
conforto nos deslocamentos diários e à sustentabilidade urbana, tal como muitos
setores da sociedade advogam.
Nesse caso, se traduzirmos sustentabilidade por durabilidade, o
desejável seria que a mobilidade fosse fluida de modo a não gerar perda de
tempo e custos (monetários e físico-psíquicos) para os que se deslocam
diariamente, nas primeiras horas da manhã para chegar ao trabalho e, ao fim do
dia, para o retorno ao local de moradia. Ademais, a concentração de atividades
não permite que todos os que se deslocam com automóveis tenham espaços para
estacionar, como aconteceu no Aeroporto JK, onde a praça Santos Dumont foi
desafetada para ampliar o estacionamento. Onde estacionar é o grande desafio a
vencer para milhares de pessoas pela ineficácia do equipamento em transporte de
massa.
Ao preferir o uso do automóvel, as pessoas enfrentam a falta de
vagas (pagas ou não) no centro do Plano Piloto. Assim, não se poderia
desejar que, pelo lado da mobilidade, as cidades sejam sustentáveis, pois, em
sã consciência, ninguém assumirá que nossas metrópoles, em especial Brasília,
pudessem manter como “duráveis” os intensos congestionamentos no centro da
Capital e nas diversas estradas parque e BRs que se irradiam em direção a todos
os pontos cardeais.
Todavia, há esperança, no médio e longo prazos, para que sejam
aumentadas as linhas de metrô e se implantem veículos leves sobre trilhos,
capazes de transportar os que se deslocam para o trabalho e para a procura de
bens e serviços oferecidos por Brasília. Se esses bens e serviços, bem como
oportunidades de trabalho, fossem oferecidos no colar externo da capital,
teríamos tráfego nos dois sentidos, o que poderia atender minimamente um
sistema de mobilidade sustentável. Ao se manter as condições atuais, no
entanto, não há como chegar à desejável, mas utópica, sustentabilidade.
O mesmo se poderá dizer de outra condição para a sustentabilidade — a
qualidade ambiental. Na marcha do crescimento, Brasília foi perdendo massa
vegetal pelo caráter extensivo do uso do território. Bairros foram criados no
DF tendo como primeira medida a “limpeza do terreno”: o Cerrado deu lugar a
blocos e conjuntos habitacionais, nos quais o asfalto e o cimento
impermeabilizaram o solo, afogando nascentes e evitando a penetração da água em
direção aos lençóis freáticos. Em razão da grande quantidade de obras,
atendendo às demandas habitacionais crescentes, o efeito colateral ambiental em
curso é a necessidade de se buscar água para a demanda crescente em lugares
mais distantes — como poderá ser a captação de água do reservatório de Corumbá
IV ou mesmo do reúso de água do Lago Paranoá.
De qualquer modo, as duas alternativas acarretarão custos para o
abastecimento de água potável. Portanto, a sustentabilidade fica comprometida,
no caso da eliminação de árvores, rios e riachos. Isso significa admitir que
não se atingirá a sustentabilidade se o crescimento urbano resultar em
aniquilação de recursos naturais necessários para a vida humana. Cabe,
portanto, perguntar: que qualidade socioambiental desejamos para Brasília?
Teremos algo assemelhado à sustentabilidade urbana?
Por: Aldo Paviani - Professor emérito da
Universidade de Brasília (UnB) e, diretor da Deura/Codeplan – Foto/Ilustração:
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