É uma pena que as Olimpíadas no Brasil, marcadas
para 5 de agosto, tenham início em momento tão turbulento da vida nacional. O
megaevento esportivo deveria representar a oportunidade de o país ganhar
positiva projeção internacional. A característica simpatia brasileira,
particularmente com visitantes estrangeiros, seria muito apropriada para
amenizar o mau humor internacional, marcado pela ascensão do nacionalismo
exacerbado, pela dissensão entre nações e por ataques terroristas. Mas
problemas de ordem política, econômica e histórica constituem obstáculos para o
Rio de Janeiro, nossa vitrine mais conhecida no mundo, ser motivo de orgulho
verde e amarelo.
Tal qual ocorreu na Copa de 2014, os Jogos do Rio sofreram no quesito
organização. Escolhido em 2007 para sediar as Olimpíadas, o Brasil deixou para
a última hora a conclusão de estruturas necessárias à realização do espetáculo.
Cite-se como exemplo o velódromo, obra de R$ 143 milhões entregue em 26 de
junho, com seis meses de atraso. Uma linha adicional do metrô no bairro do
Leblon começará a operar em 1º de agosto — sim, a poucos dias da abertura dos
Jogos. Apenas a título de comparação, sem querer estender a nossa óbvia
dificuldade na preparação de eventos internacionais, vale registrar o feito
obtido por Londres nos jogos de 2012. A organização entregou o parque olímpico
um ano antes das competições. Brasileiros não são conhecidos pela pontualidade,
de modo que se torna inócuo aprofundar esse debate. Convém sim, futuramente,
verificar se houve a correta aplicação dos recursos e avaliar o legado das
obras realizadas na capital carioca.
Infelizmente, existem outras dificuldades. O ponto mais crítico é a
violência, mal crônico no cotidiano dos cariocas. O antigo temor dos moradores
havia diminuído com a política das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), mas
fatores como o crescimento desordenado de favelas e novas ofensivas do crime
organizado impuseram desgastes ao modelo de segurança. E voltaram ao noticiário
nacional as cenas bárbaras de cidadãos morrendo sob jugo de bandidos em vias
expressas, tal qual ocorreu recentemente com a médica Gisele Gouvêia na Linha
Vermelha. Não bastasse a covardia dos bandidos, causa apreensão a mobilização
de policiais que ameaçam pôr em risco a segurança dos Jogos por questões
salariais. Na última semana, um grupo buscava aterrorizar turistas ao exibir
faixas com os dizeres “Bem-vindos ao inferno” no Aeroporto do Galeão.
A crise na segurança pública é somente um dos problemas que serão
percebidos pelos visitantes. O Rio de Janeiro encontra-se em estado de
calamidade financeira, decretado pelo governador em exercício, Francisco
Dornelles, e enfrenta extrema dificuldade em pagar salários de servidores e
aposentadorias, e manter minimante os serviços públicos. O socorro de R$ 2,9
bilhões concedido pelo governo federal constitui uma parte ínfima ante o abismo
fiscal do estado, que acumula dívida de mais de R$ 100 bilhões. Esse descalabro
estará à vista do mundo inteiro a partir do próximo mês.
Como o Brasil não é país para principiantes, as Olimpíadas ocorrerão
ainda com a sui generis presença de dois presidentes da República. E, a julgar
pelo calendário definido no Congresso, o país estará no período decisivo em relação
ao impeachment de Dilma Rousseff. Evidentemente, a polarização política dos
últimos meses se expressará durante os jogos, criando novo desgaste para a
imagem brasileira.
Por fim, mas não menos importante, há a ameaça terrorista. Apesar do
reforço das Forças Armadas e do trabalho de inteligência para evitar a ação de
grupos ou de lobos solitários, os recentes atentados na Bélgica e na Turquia
mostram que o Brasil precisará de atenção máxima para não entrar no rol de
tragédias extremistas. Espera-se que as Olimpíadas sejam o teste que dará
início à reafirmação do Brasil como grande nação.
Fonte: “Visão” do Correio Braziliense
- Foto/Ilustração: Blog – Google