Segundo dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referentes a 2015, a renda per capita
média dos brasileiros chegou a R$1.113. Com o valor de R$ 2.252, o Distrito
Federal chega a ter o dobro da renda nacional e quase cinco vezes a renda do
Maranhão, onde esse valor cai para R$ 509 per capita.
Talvez esteja nesse fato o motivo pelo qual os preços dos produtos e
serviços em Brasília estejam entre os mais elevados do país. Desde o início da
formação da cidade, a alta renda detectada na capital despertou a cobiça e olho
grande de parte dos empresários locais, que viram, não só na majoração
artificial dos preços, mas na formação de uma extensa rede de comércio
cartelizado, a fórmula mais rápida e segura para obter lucros desleais e
escandalosos.
A incúria dos órgãos de fiscalização e posteriormente a conivência de
políticos locais fizeram da capital o paraíso dos cartéis e dos oligopólios.
Durante décadas, o brasiliense foi espoliado impiedosamente, não importando sua
renda. O lado mais conhecido dessa concentração de empresas para assegurar
preços escorchantes foi representado pela rede de postos de combustível.
Ao longo de 20 anos, os empresários dos postos praticaram a cartelização
dos preços, que arrancou dos bolsos do brasiliense mais de R$ 1 bilhão ao ano.
A rede de supermercados e de hipermercados, diante das facilidades e da falta de
fiscalização, copiou o modelo concentrador de preços. Hoje, a cidade está
literalmente rendida e entregue nas mãos das grandes redes de mercados,
farmácias e hospitais.
Pior do que a manipulação artificial e gananciosa dos preços têm sido as
falsas promoções, onde, para não ficarem com o prejuízo, os mercados anunciam
diversos produtos que por estarem com validade vencida foram espertamente
fatiados e reembalados com nova data de fabricação. Queijos, carnes e
embutidos, depois de retaliados, retornam às gôndolas e são livremente postos à
venda.
A ganância e a esperteza estão presentes também nas redes de farmácias.
A variação de preços dos medicamentos é mínima e obedece a lógica simples de
não despertar suspeitas do consumidor. Para tanto, são providencialmente
impressas listas de preços de medicamentos com variação de preços irrisórios e
que seguem o que recomendam os laboratórios. Também neste setor, mais
precisamente na indústria de medicamentos, se verifica forte concentração
oligopolista.
Desamparado, o consumidor de Brasília não tem como fugir da concentração
e formação de carteis e muito menos a quem apelar. São todos cúmplices. Caso
contrário, a situação já teria sido resolvida. A formação dos carteis também
está presente nas escolas particulares e, até pouco tempo, nos serviços de
táxi. Para quem é crente, o jeito é rezar.
A frase que não foi pronunciada
“Cartéis são ataques velados ao consumidor e à competitividade da
economia. No Brasil há cumplicidade das instâncias com poder de impedi-los.
Caso contrário tudo já teria sido resolvido.”
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Por: Circe Cunha – Coluna “Visto,
lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto: Bento Viana
- Ilustração: Blog-Google