Agentes da Polícia Federal recolhem documentos de
Gim Argello, durante a Lava Jato
"Caixa de Pandora, Aquarela, Lava-Jato e Drácon
reúnem figuras de destaque e dos bastidores da política do Distrito Federal,
inclusive com repetição de nomes. Ontem, duas delas prestaram depoimentos para
o juiz Sérgio Moro, em Curitiba"
O escândalo da Operação Drácon, que atingiu a
cúpula da Câmara Legislativa, se liga a outros casos de corrupção rumorosos na
capital federal e no país. Personagens se repetem nos diversos enredos e as
histórias se entrecruzam nos episódios de outras operações, como Caixa de
Pandora, Aquarela, e Lava-Jato. Citados em diferentes casos, o
ex-secretário-geral da Câmara Legislativa Valério Neves e o empresário Paulo
Roxo prestaram depoimento ontem diante do juiz Sérgio Moro. Réus na Lava Jato e
acusados de serem operadores do ex-senador Gim Argello, eles foram interrogados
na Justiça Federal de Curitiba. Ambos são citados em outras operações. Há mais
nomes de figuras reincidentes em escândalos, e a Operação Drácon trouxe à tona
todos esses vultos.
Até ser preso na Lava-Jato, em abril deste ano,
Valério Neves era uma figura discreta de atuação nos bastidores. Nomeado para a
Secretaria-Geral da Câmara Legislativa em 2015, assim que a deputada Celina
Leão (PPS) chegou à presidência da Casa, ele atuou como o principal assessor da
parlamentar. Perdeu o cargo poucos dias depois de ser preso pela Polícia
Federal.
UTIs
Quatro meses depois, tornou-se alvo de um mandado
de condução coercitiva por acusação de envolvimento no esquema da Operação
Drácon. Valério aparece em uma gravação feita pela deputada Liliane Roriz
(PTB), em que ele fala sobre a suposta cobrança de propina para a liberação de
recursos para empresas de UTI. No áudio, o então secretário-geral da Câmara diz
que o distrital Cristiano Araújo (PSD) conseguiu o “negócio” das UTIs. Segundo
Valério, a negociação poderia render “no mínimo 5% e no máximo 10, em torno de
7%”. “Quem sabe disso são só os cinco membros da Mesa e o Cristiano”, afirmou
Valério. Em depoimento a promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao
Crime Organizado do Ministério Público (Gaeco) e a policiais civis, ele se
recusou a comentar as declarações gravadas na conversa com Liliane.
A relação de Valério com a família Roriz é antiga.
Funcionário aposentado da Companhia Energética de Brasília (CEB), ele respondeu
como braço-direito do ex-governador Joaquim Roriz por mais de uma década.
Também atuou como assessor dos então deputados distritais Luiz Estevão e
Jaqueline Roriz. Graças à proximidade com o clã Roriz, Valério também é citado
em outro escândalo recente da política brasiliense: a Operação Aquarela. Foi
ele quem sacou no BRB o cheque de R$ 2 milhões que o empresário Nenê
Constantino destinou ao então governador. Por causa dessa denúncia, Joaquim
Roriz teve que renunciar ao mandato de senador, abrindo a vaga para o suplente,
Gim Argello.
CPI
Já a relação de Valério com Gim só se tornou
pública com a prisão de ambos. O ex-secretário-geral da Câmara é acusado de ser
operador do ex-parlamentar na Lava Jato. Argello intermediou praticamente todas
doações eleitorais feitas à campanha de reeleição da deputada Liliane Roriz na
disputa de 2104. A distrital recebeu pouco mais de R$ 1 milhão da UTC
Engenharia e, de acordo com procuradores da força-tarefa da Lava Jato, os
recursos seriam fruto de negociações de Gim para livrar empresários de
convocações na CPI da Petrobras.
Outro personagem que se repete em escândalos
recentes é o empresário Paulo Roxo. Ele virou réu na Lava-Jato pela atuação
como suposto operador de Gim Argello. De acordo com a denúncia do Ministério
Público, Paulo Roxo é considerado também um dos operadores do esquema da Caixa
de Pandora. O nome dele foi citado pelo delator, Durval Barbosa, como um dos
arrecadadores de dinheiro do esquema.
Roxo muda depoimento
Acusados de serem operadores do ex-senador Gim
Argello, Valério Neves e Paulo Roxo foram interrogados na manhã de ontem pelo
juiz Sérgio Moro, em Curitiba. Durante a oitiva, Roxo mudou a própria versão
sobre o recebimento de 200 mil euros em espécie, entregues pelo lobista Júlio
Camargo, ligado à empresa Toyo Setal. Em abril, ao prestar depoimento na
Polícia Federal, ele disse saber que o dinheiro, posteriormente entregue a Gim,
era de caixa 2. Ontem, o empresário afirmou à Justiça ter sido coagido durante
a oitiva de abril e contou outra história. Agora, Paulo Roxo afirma que não
tinha conhecimento de que os recursos não haviam sido declarados.
“Eu não tinha conhecimento de nada disso que estava
eventualmente sendo tratado”, declarou o empresário. Ele afirmou a Moro que
trabalhava na campanha de forma voluntária, por conta de sua relação com o
então candidato ao governo, José Roberto Arruda. “Nunca fui assessor do senador
Gim, como me rotulam. Até as pedras em Brasília sabem que eu nunca trabalhei
para o senador Gim”, disse o empresário. Ele declarou ainda que nunca trabalhou
com arrecadação de recursos em campanhas e que seu papel era na área de
comunicação.
Já Valério Neves voltou a negar ter participado de
reuniões com empresários para definir valores de doações ou ter transportado
dinheiro em espécie. Ele esclareceu à Justiça que, em 2014, trabalhou na
coordenação política e na contabilidade da Coligação União e Força, encabeçada
por Arruda. Gim Argello era o candidato ao Senado do grupo. “Eu fui designado
pela coligação para fazer a parte de recibo eleitoral” explicou Valério a Moro.
“Nunca me foi informada a origem de nada”, garantiu. “Nunca soube de CPI da
Petrobras, não conheço ninguém da CPI da Petrobras”, disse. Valério explicou
que só pensou no assunto depois que as denúncias vieram à tona. “Tivemos
suspeita de que poderia haver alguma coisa. Mas certeza, nunca.”
Fonte:
Helena Mader – Foto:Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press – Correio Braziliense