Ao Metrópoles, Jairo Bisol afirmou que só falta
definir a participação de cada um no suposto esquema de cobrança de propina
envolvendo os integrantes da Mesa Diretora da Câmara Legislativa
As investigações sobre os grampos realizados pela
deputada distrital Liliane Roriz (PTB), que revelam um suposto esquema de desvio
de recursos na área de saúde envolvendo a Mesa Diretora da Câmara
Legislativa, chegaram a um outro nível. O promotor de Justiça e Defesa da Saúde
do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) Jairo Bisol,
que está à frente do caso, afirmou ao Metrópoles que
está convencido de que “houve crime”. Agora, só falta definir a participação de
cada um no “negócio”, termo utilizado pelo ex-secretário-geral da Casa, Valério
Neves, para definir a mudança de destinação de sobras orçamentárias do
Legislativo para a área de saúde.
“Não há dúvidas com relação a este fato. Nessa
segunda fase, vamos definir como foi a participação de um por um e começar a
colher os depoimentos, consolidar as provas”, explicou o promotor. O
procedimento de investigação sobre as supostas propinas cobradas para agilizar
pagamentos de empresas vinculadas à Secretaria de Saúde foi instaurado no MPDFT
em 21 de junho, baseado em notícias veiculadas em blogs sobre
o assunto. “A nossa investigação sobre improbidade
administrativa segue a todo vapor”, ressaltou.
No entanto, contou o promotor, o que deu celeridade aos trabalhos foi
a denúncia apresentada para os promotores pela distrital Liliane Roriz.
Com isso, a primeira fase de apuração foi concluída em dez dias. O
conteúdo das gravações feitas pela parlamentar resultou, ainda, em uma outra
investigação criminal que está a cargo da Vice-Procuradoria-Geral de
Justiça, por envolver pessoas com foro privilegiado. No caso específico,
pelo menos seis deputados distritais.
Esse procedimento foi instaurado no dia 12 de agosto, logo após o recebimento
dos áudios pela assessoria criminal do MPDFT. Para melhor apuração dos fatos,
foi decretado o sigilo das investigações. A Promotoria de Justiça e Defesa da
Saúde, que também segue com as apurações, tem a missão de constatar
irregularidades referentes à improbidade administrativa.
A denúncia apresentada pela deputada também consta nas gravações feitas
pela sindicalista Marli Rodrigues. “Tem ao menos dez fatos graves levantados
nas gravações que merecem investigações. Elas estão sendo feitas e apresentando
bons resultados”, ressaltou Bisol.
Grampos
Liliane
teria começado a grampear os colegas no fim do ano passado, quando os
parlamentares decidiam sobre o que fazer com uma sobra orçamentária da Casa. Em
um primeiro momento, os recursos seriam destinados ao GDF para custear reformas
nas escolas públicas.
De última hora, no entanto, o texto do projeto de lei foi modificado e o
dinheiro – R$ 30 milhões de um total de R$ 31 milhões – realocado para a Saúde.
O valor foi destinado ao pagamento de serviços vencidos em UTIs da rede
pública.
Na ocasião, Liliane teria questionado a presidente da Câmara, Celina
Leão (PPS) sobre a mudança na votação. No áudio, é possível ouvir Celina falando que o “projeto” seria para um
“cara” que ajudaria os deputados. A presidente da Casa disse ainda que Liliane
não ficaria de fora: “Você (Liliane) tá no projeto, entendeu? Você tá no
projeto. Já mandei o Valério falar com você.”
Outros
parlamentares
As
denúncias feitas por Liliane atingem outros distritais, como o
bispo Renato Andrade (PR) e Júlio César (PRB), líder do governo na Casa.
Segundo é possível ouvir nas gravações, os dois teriam tentado fazer uma
negociação com Afonso Assad, presidente da Associação Brasiliense de
Construtores. De acordo com o que Valério Neves diz em um dos áudios, o
empresário poderia intermediar contratos com a Secretaria de Educação. Mas
Assad não teria levado a cabo o “compromisso”. “O Afonso disse que não poderia garantir
nada”, diz Valério Neves em um dos trechos.
Com a negativa do empresário de
participar do tal “compromisso”, segundo explica Valério nos áudios, o deputado
Cristiano Araújo (PSD) teria conseguido o “negócio” das UTIs. Ao dizer o quanto
os “hospitais iam retornar”, Valério sussurra que seria “em torno de 7%”,
revelou O Globo. E diz ainda que todos os integrantes da Mesa Diretora tinham
conhecimento do acordo. Celina, por sua vez, diz que se fosse para eles
receberem algum tipo de ajuda, teria de ser para todos. Integram a Mesa
Diretora Celina, Raimundo Ribeiro (PPS), Júlio César e Bispo Renato.
Procurados, Celina Leão e os distritais Júlio César, Bispo Renato,
Raimundo Ribeiro e Cristiano Araújo negaram irregularidades. Valério Neves
não foi encontrado pela reportagem. Em entrevista coletiva na quinta, a
presidente da Câmara desqualificou as gravações, disse que foram editadas e
divulgadas fora do contexto, e que Liliane Roriz age “a mando do Buriti”,
Segundo ela, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) tem interesse em desviar o
foco da CPI da Saúde, que investiga denúncias de um suposto envolvimento do
chefe do Executivo e da primeira-dama, Márcia Rollemberg, em favorecimento de
empresas.
Fonte: Mirelle Pinheiro – Foto: Alex Ferreira/Câmara dos Deputados -
Metrópoles