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Meu último encontro com JK - - ( Por: Maria Estela Kubitschek Lopes)

Tanto tempo para curar uma saudade que nunca deixará de doer em mim. Há 40 anos, o Brasil perdia Juscelino Kubitschek de Oliveira. Parece que foi ontem, tão forte é o sentimento que tenho de que ele ainda está comigo.

Nosso último encontro foi especial.
Passei as férias de julho de 1976 na Fazendinha JK, em Luziânia, a uns 60 km de Brasília. Após o batizado de Júlia, filha de Márcia, realizado lá na Fazendinha, papai insistiu comigo para que ficasse com as crianças e deixasse os adultos irem embora.

Ficamos papai, eu e as crianças: Júlia, minha afilhada, a Anna Christina, e meus filhos Jussarah, João César e Marta Maria. Foram dias maravilhosos. Interessante que papai fez questão de se fazer de um guia rural para mostrar aos netos como funcionava uma fazenda.

Para o pânico das crianças, ele tocava o sino logo de manhãzinha. Às 5 horas em ponto, ele acordava todo mundo, café rapidinho e já encaminhava as crianças para aprender a tirar leite de vaca e colocar o rebanho no pasto. E mais: tinham também que bater o leite para fazer manteiga.

À tarde, sempre nos levava para o ponto mais alto da Fazenda, onde havia somente o Cruzeiro e ficávamos olhando o pôr do sol. Era seu momento preferido. Era muito lindo. Por isso que todas as vezes em que vou ao Memorial JK ver o pôr-do-sol, esse filme passa pela minha cabeça.

Numa das vezes ele perguntou às crianças se elas sabiam cantar alguma música de serenata. Todas fizeram cara de espanto. Elas tinham outros gostos musicais. E a resposta foi negativa.

Olhando nos olhos das crianças, papai perguntou:

Vocês não sabem cantar nenhuma música? Somente a Oração de São Francisco que estamos aprendendo no Colégio, responderam. Pois então cantem para mim que não conheço, pediu. E assim, timidamente, naquela inocência infantil, todas começaram a cantar para o vovô JK.

Os olhos de meu pai se encheram de lágrimas e ele fez com que eles repetissem várias vezes. Queria aprender a letra. Ao final, com sua simplicidade ele me disse: Maria Estela, na vida estamos sempre aprendendo. E não se esqueça, as crianças são os melhores professores.
Quando voltamos para casa, no Rio de Janeiro, papai fez questão de nos levar até o aeroporto de Brasília. E, dirigindo uma Kombi velha, ele se juntou à voz das crianças para cantarmos na viagem. Olha, me emociono em dizer: essa foi a última vez que o vi!
Ainda hoje, ao ouvir a Oração de São Francisco, meus olhos ficam marejados. O motivo é simples. Com o passar dos anos, descobri que as frases da Oração definem o que JK foi em vida: um instrumento da paz!
É até bom relembrar a Oração a São Francisco, pois o Brasil está precisando demais:

Senhor, fazei-me instrumento de Vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvida, que eu leve a fé;
Onde houver erro, que eu leve a verdade;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei que eu procure mais
Consolar que ser consolado;
compreender que ser compreendido;
amar que ser amado.
Pois é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
e é morrendo que se vive para a vida eterna.
Amém.
                   JK com as filhas Maria Estela (à sua esq.), Márcia, Dona Sarah 

(*) Maria Estela Kubitschek Lopes  - (filha do presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira)




*Compartilhado, do Correio Braziliense - 22/08/2016 - Fotos: Blog- Google

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