Apesar de ter apenas 56 anos, Brasília reúne exemplos de comércios e
espaços públicos que fizeram sucesso a partir dos anos 1960, mas não resistiram
ao tempo. Muitos ficaram no imaginário de uma juventude que lembra esses tempos
com nostalgia
Muitos empreendimentos que fizeram sucesso no início da história de
Brasília tiveram vida curta. Naquela época, que adolescente não fazia compras
na loja de departamentos Bi Ba Bô? Havia de tudo. Dos vestidos de lycra aos de
lantejoulas. “Era tudo muito chique. As pessoas andavam arrumadas, o comércio
de rua ainda dominava o cenário de Brasília. Infelizmente, acabou. Hoje em dia,
as vendedoras são mal-educadas e os negócios abrem apenas em shoppings”, afirma
Veridiana Moura, 65 anos, antiga gerente da Bi Ba Bô.
Fofi Magazine
Um visual caprichado servia para tudo. Por isso, a Bi Ba Bô e a
concorrente, a Fofi Magazine, eram o ponto de encontro das moças brasilienses.
De lá, o roteiro seguia por sorveterias, pelos pedalinhos do Parque da Cidade,
pelos restaurantes Chez Willy e A Casa do Barata, pelo Cine Karim, pela boate
Tequila Rock e pela casa de espetáculos da Academia de Tênis
Antes da noitada, o pessoal frequentava a lanchonete Food’s, na 110 Sul.
Lá, era bom ouvir música ao vivo, sempre às quintas e às sextas-feiras. Como os
artistas atraíam a clientela, ganhavam um lanche grátis como cachê. “Era muito
legal, mas apenas os playboys tinham dinheiro para ir com frequência. Alguns
andavam de skate, o pessoal se divertia. Não havia muito o que fazer na
cidade”, lembra o ex-DJ e advogado Paulo César Vieira, o Cascão.
O Arabeske, que ficava na 109 Sul, era especializado em comida árabe e
servia cerveja muito barata. A cozinheira gorducha apelidada “habiba” (querida,
em árabe) fazia quibes e charutos — arroz com carne moída e condimentos
envoltos em folhas de parreira ou de repolho — e cobrava preços módicos. Havia
também os bares Estação 109 e Moinho, especializados em comida de boteco, “sem
nada de especial”. “O bom mesmo era o ambiente”, define um dos antigos
proprietários das duas casas, Geraldo Sobral Rocha, 72 anos. Ele recebeu
artistas, intelectuais e políticos nos tempos de glória. “Tínhamos um bom
astral, ótimas conversas. Sinto muita falta, morro de saudades. Tratava-se mais
de uma reunião de amigos do que um empreendimento”, afirma.
Vida noturna
O empresário Márcio Salomão, 47 anos, sempre foi festeiro. Fez parte da
turma cuja diversão não era restrita a bebericos nas entrequadras, calouradas
da Universidade de Brasília (UnB) e rock n’ roll em cidades-satélites. A partir
dos anos 1970, a vida noturna da cidade ficou profissional. Jovens
investidores, filhos de prósperos empresários, ergueram e equiparam casas
noturnas com o que havia de melhor para competir com Rio de Janeiro e São
Paulo. Algumas atrações internacionais começaram a aterrissar na cidade para
animar as pistas de dança. Estoques de uísque e de champanhe empolgavam as
noites no Planalto Central.
Lugares como a L’Escalier, casa noturna que recebeu o então casal Xuxa e
Pelé na noite de inauguração, em 1986; a Fashion Club, point dos descolados; e
o Café Cancun, representação da latinidade no cerrado, não resistiram ao tempo.
Noite candanga é assim. As boates não duram mais do que dois ou três anos e,
geralmente, mudam o foco antes de fechar as portas. Não é difícil encontrar,
por exemplo, uma casa sertaneja implementando as noites com samba ou axé. Para
Salomão, atualmente sócio de duas boates na cidade, o brilho do estroboscópio
foi mais reluzente. “A vida noturna em Brasília está pavorosa. A duração das
boates é curta, não dá para ganhar dinheiro”, explica.
Para relembrar - Gilbertinho
O comércio da QI 11 era o único local próximo ao Centro Comercial
Gilberto Salomão, na QI 5, e, por isso, ganhou o apelido de Gilbertinho.
Tornou-se ponto de encontro da galera rock n’ roll. Também havia espaço para
punks e new-ages. As bandas Detrito Federal e Plebe Rude faziam shows para os
amigos. Sucesso entre 1984 e 1987.
Piscina com ondas
Dentro do Parque da Cidade, havia uma espécie de clube moderno com
direito a uma piscina com ondas artificiais. O local está desativado desde
1997, mas, à época, foi palco de encontros memoráveis e de rodas de viola
entoadas por Cássia Eller e Zélia Duncan, estudantes do Colégio Marista. O
espaço, inaugurado em 1978, está abandonado.
Lojas Pernambucanas
A marca foi fundada em 1908 e, em Brasília, ocupou dezenas de endereços
entre 1975 e 1980. Até meados de 1990, as Pernambucanas prosperavam em locais
como a W3 Norte, a W3 Sul e alguns shoppings da cidade.
Pelezão
O Estádio Municipal de Brasília, o Pelezão, construído em 1965, já foi o
principal centro esportivo da cidade. Ele ficava no Setor de Indústria e
Abastecimento (SIA) e tinha uma pista de kart improvisada no estacionamento.
Pelé jogou no estádio, que, atualmente, dá lugar a um condomínio.
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Por:
Bernardo Bittar - Fotos:Arquivo/CB/D.A.Press – Tadaschi Nacagomi/CB/D.A.Press -
Luiz Marques/CB/D.A.Press - Arquivo-Público-DF - Correio Braziliense -
Publicação: 28/11/2014
Viajei no tempo!!! Cheguei em Brasília em 1967. Fui garota propaganda da BIBABÔ, trabalhei na Vestil, na Automar Brasília,lembram destas lojas? Me lembrei de vários lugares da época, Pigalle, Espanhol, boate MUG, outra boate na torre dd TV. Feira doa Estados, que saudades, tempo bom não volta mais, saudades quanto tempo faz....
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