Ou a população de Brasília se une
para promover uma reforma verdadeira e profunda no funcionamento da Câmara
Legislativa e em todo o quadro político-eleitoral da capital, ou continuará a
assistir, de camarote, à sucessão contínua de escândalos de corrupção, com
sérios prejuízos não só para a cidade como um todo, mas também para cada um dos
moradores, principalmente para os pagadores de impostos que são obrigados para
bancar essa farra sem fim.
Fosse feita uma pesquisa de opinião pública com os brasilienses mais
esclarecidos e que se interessam pela vida da cidade, possivelmente essa Câmara
Legislativa seria banida para sempre do horizonte candango — o que essa coluna
sempre defendeu. O afastamento inédito de toda a cúpula do Legislativo local
joga os brasilienses de volta aos lastimáveis episódios deflagrados com a
Operação Caixa de Pandora de 2009, em que o então governador, José Roberto
Arruda, foi parar atrás das grades.
Temos, assim, por nossa falta de comprometimento, três recordes
nacionais vergonhosos: o primeiro senador cassado, o primeiro governador
preso e a primeira Mesa Diretora de um Legislativo afastada por decisão da
Justiça. Tudo isso num curto espaço de tempo. Vigilância eterna é o preço que o
eleitorado da capital tem que pagar para desfrutar dos benefícios da
democracia. A história da implantação de uma câmara de representantes e de
eleições gerais em plena capital federal mostra o poder de pressão dos lobbies
sobre a feitura das leis, inclusive até sobre a Constituição.
Contrariando pareceres de doutos juristas, a emancipação política da
capital foi feita para atender nichos específicos de pessoas que anteviram
nesse processo chances de ganhos econômicos extraordinários. Por diversas
vezes, neste mesmo espaço, a população foi alertada para os riscos de se
repetirem na capital os mesmos vícios políticos encontrados em outras partes do
Brasil. O que os brasilienses começam a perceber agora é que o divórcio entre a
classe política e a população é um fenômeno nacional, e Brasília não foge à
regra.
Não cabe ao jornalismo fazer as vezes de juiz, condenando ou absolvendo
quem quer que seja. Mas estamos cientes de que cabe única e exclusivamente ao
povo decidir sobre o que quer que o presente faça pelo futuro e que
modelo de democracia deseja para si e para os seus. Pelo que se tem visto até
aqui, a sabedoria popular ainda não encontrou solução para o impasse flagrante.
Como é possível que representantes eleitos pela sociedade continuem a
trabalhar contra essa mesma sociedade, contrariando seus anseios, escarnecendo
não só da Justiça, mas dos próprios eleitores? Quo usque tandem abutere, Camara
patientia nostra?
***
A frase que não foi pronunciada
“Eu estou cheio de ver morcego pousando de segurança de banco
de sangue!”
(Certo eleitor candango)
Por Circe Cunha – Coluna “Visto,
lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog -
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