Frequentadores da Água Mineral aproveitaram mais um dia de calor
intenso: de olho na economia
"Números do Inmet mostram que o racionamento de água no DF é previsto há
pelo menos 10 anos. Especialistas preveem chuva nos próximos dias, mas indicam
que ocorrerão em áreas isoladas e não resolverão problema nos reservatórios"
Apesar de a crise hídrica ter tomado proporções
ameaçadoras, com o risco de racionamento de água, a tendência de estiagem na
capital federal é uma realidade há pelo menos 10 anos. Gráficos históricos do
Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) evidenciam que as precipitações
estão abaixo da média desde 2005. Os reflexos são sentidos em pelo menos seis
cidades no DF e, segundo o Executivo local, se não chover a situação vai
piorar. O corte de água, que já ocorre em três regiões administrativas, pode
ser ampliado para toda a cidade.
Para se ter ideia do impacto da estiagem, somente
janeiro deste ano ultrapassou a média do período. Choveu 400mm, enquanto eram
esperados 250mm. A seca golpeou em cheio fevereiro e março. As pancadas
acumularam 95mm e 160mm, quando as marcas deveriam ter sido 210mm e 190mm,
respectivamente. Há seis meses, o DF não alcança o acumulado mensal normal de
chuva. O cálculo do Inmet leva em consideração os registros de 1961 até 1990.
Em agosto, o volume de chuva, cerca de 20mm, encostou no nível esperado. A
tendência para os próximos quatro meses é de aumento das precipitações, mas
ainda não há certeza que a chuva vai cair a contento para atenuar a aridez.
A previsão do tempo é pessimista. Hoje, haverá
pancadas fracas em áreas isoladas. Amanhã, a tendência é de um volume um pouco
maior. Apesar do refresco, a realidade das barragens de Santo Antônio do
Descoberto e de Santa Maria não muda. “Essas chuvas vão interferir no calor.
Falando em qualidade de vida, é muito bom, mas o volume não é significativo
para encher os reservatórios”, explica Odete Marlene Chiesa, meteorologista do
Inmet. A expectativa do órgão é de que entre o fim de setembro e o início de outubro
as taxas aumentem. “A médio prazo, estamos com indicativos de dois dias com
chuvas mais intensas. Ainda assim, não seria o suficiente para mudar o
cenário”, completa a especialista.
O estado de alerta — volume útil entre 40% e 21% —
foi instituído nos reservatórios de Santa Maria e de Santo Antônio do
Descoberto, locais que abastecem quase 80% da população. A marca não alcançou o
nível nem em 1996, ano em que chegou a 45%. O percentual de água nos
reservatórios enfrentado pelos brasilienses é o pior desde 1987. O reservatório
de Santo Antônio do Descoberto apresenta o volume útil de 40,3%, valor muito
destoante dos 93,37% registrados em abril do ano passado. Já o reservatório de
Santa Maria teve uma queda de volume estimada em 41,95%, desde agosto de 2015.
A água é suficiente para abastecer a população pelos próximos 73 dias.
Brazlândia, São Sebastião e Planaltina já enfrentam suspensão de fornecimento.
Preocupação
O racionamento de água e a estiagem das chuvas eram
os assuntos principais num dos destinos preferidos dos brasilienses: a Água
Mineral. A preocupação é de que a situação degringole a tal ponto que não haja
possibilidades de abastecimento na cidade. As amigas Francilene Oliveira da
Silva, 35 anos, e Telma Evangelista Holanda, 45, resolveram visitar o local
para fugir do calor — que ontem chegou à máxima de 33,9°C, quando era esperado
até 35°C. A pedagoga e a auxiliar de publicidade acreditam que medidas de
economias são necessárias. “Tentei fechar os chuveiros que estavam pingando,
mas o registro parece estar quebrado”, conta Francilene. Telma completa:
“Imagina suportar um calor desses sem água?”, questiona.
Com a mulher e o filho, Adalberto Ribeiro, 47,
também aproveitou as piscinas para escapar da seca. Para ele, a crise hídrica
deveria ter sido exposta mais cedo para a população. “O governo não fez nada
antes, e agora, no momento mais crítico, diz que podemos ficar sem água. Faltou
uma campanha antes que chegasse nesse estado”, acredita.
Para os frequentadores da Água Mineral, um aviso: o
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão
ambiental gestor do espaço, informou que a partir da próxima terça-feira, o uso
das duas piscinas será alternado entre a Areal (nova) e a Pedreira (antiga). A
justificativa é economia de recursos nas atividades. O ICMBio afirmou que
estudos estão sendo feitos para a concessão de serviços no Parque Nacional de
Brasília, como já ocorre no Parque Nacional do Iguaçu e no Parque Nacional da
Tijuca.
Fonte: Otávio Augusto – Ailim
Cabral – Foto: Minervino Junior/CB/D.A.Press – Correio Braziliense