Foi somente a partir da mudança da
capital para o interior do Brasil, nos anos 1960, que o imenso bioma de campo
cerrado, com mais de 2 milhões de km² passou a ser explorado e pesquisado com
mais atenção. Especialistas já sabem hoje que essa ecoregião, com idade média
de 45 milhões de anos, reúne e concentra a maior biodiversidade de todo o
planeta.
Recentemente, com o aprofundamento das pesquisas,
ficou patente, para os estudiosos do assunto, que a preservação dessa área é de
vital importância para o presente e o futuro do Brasil, principalmente por
conta da questão hídrica. Hoje já se sabe que o Cerrado é, por suas
características ímpares, o berço das águas, concentrando nascentes que vão
alimentar oito das 12 grandes regiões hidrográficas brasileiras. É nesta região
que estão concentrados os aquíferos Guarani, Urucuia e Bambuí que alimentam
alguns dos grandes rios do país. Além disso, nos subterrâneo do cerrado pulsa
um oceano.
Com a expansão das fronteiras agrícolas, o Cerrado
ganhou um protagonismo econômico inédito que, num primeiro momento, pareceu,e
ainda parece para alguns, ser a redenção para toda a região. A introdução de
monoculturas, na maioria transgênicas, plantadas em vastíssimos latifúndios nas
planícies, totalmente mecanizados, se por um lado vem fazendo a riqueza e a
prosperidade de uma minoria de grandes produtores, de outro lado, vem
arruinando irreversivelmente todo o ecossistema, comprometendo de forma até criminosa
a produção natural de águas. Interessante que os próprios produtores fecham os
olhos ao matar o futuro dos netos e bisnetos.
Em tempos de aquecimento global generalizado, a
cada ano que passa a situação de crise hídrica nas cidades localizadas dentro
da região do cerrado se agrava um pouco mais. O desaparecimento de pequenos e
médios cursos de água já se tornou fato comum. A vegetação sofre com as
queimadas criminosas e com a derrubada, feita pelos agricultores, com uso de
correntes. Com a degradação da flora, somem os animais da região e tem início o
lento e irreversível processo de desertificação, já em curso, segundo os especialistas.
Na esteira da devastação, acentuada nos últimos
anos, pela invasão de terras e áreas de proteção, não é de se estranhar que o
GDF, à semelhança de outras unidades Federação, tenha decretado agora o estado
de “atenção”, ameaçando pôr em prática um rigoroso racionamento de água.
A rigor, a suspensão no fornecimento de água para
algumas regiões da capital já vem acontecendo há algum tempo e tem se agravado
nas últimas semanas. A conta com a irresponsabilidade política de distribuição
farta e de ocupação irregular de terras em troca de votos começa a chegar, e os
valores serão altíssimos, inclusive, com a ameaça de inviabilizar a própria
capital dos brasileiros.
Caos
Racionamento de água e luz no DF
acontece porque a Caesb e a CEB sempre chegam em terras invadidas prontas para
oferecer o serviço e cobrar. Se o governo proíbe a invasão, seria coerente que
não fornecesse água e luz. Sem planejamento, o que acontece é o que vamos ver
nos próximos dez anos nessa cidade.
Por: Circe Cunha – Coluna “Visto,
lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog -
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