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#História: A partir de uma miragem no deserto, Brasília se tornou realidade


Por: Conceição Freitas,
Só um louco acreditaria que, em menos de quatro anos, a capital do Brasil deixaria o Rio de Janeiro e seria instalada em Goiás. Contudo, em fins de 1959, os brasileiros não tinham mais nenhuma dúvida: Brasília estaria pronta para sediar o poder público federal
Era como se a capital do país fosse ser transferida do Rio de Janeiro para uma miragem no deserto. Uma esplanada singrava a vegetação rala e nas bordas da avenida pontuavam predinhos dispostos como pedras de dominó. Na extremidade leste, duas torres gêmeas surgiam dentro de formas de madeira e aos pés delas havia duas bolas de concreto partidas ao meio, uma convexa e outra côncava. Atrás das torres, dois palácios de mármore branco emergiam do silêncio eterno do cerrado. Torres e palácios formavam um triângulo cuja área seria definida com miúdas pedras portuguesas, incrustradas uma a uma no terreno.

Na outra extremidade da Esplanada, uma plataforma em obras se insinuava no cruzamento de dois eixos. Ao sul de um desses eixos, o Rodoviário, blocos retangulares se alinhavam como se um deus do urbanismo tivesse brincando de inventar uma cidade com pedrinhas de brilhante. Bem no meio do eixo sul, uma construção em forma de chapéu de freira dominicana se sustentava em alicerces triangulares e, dentro dele, uma pequena nave já acolhia celebrações religiosas. O eixo rodoviário também se estendia ao norte — solitário.

Faltavam quatro meses para que esse conjunto esparso de formas inesperadas fosse inaugurado como sendo a nova capital do Brasil. Havia outras obras pontilhando o chão cor de ferrugem. As estruturas de um grande hospital apontavam no centro da cidade. Ao sul, numa via que viria a se chamar Avenida W-3, 500 casinhas cor de algodão já abrigavam candangos anônimos e ilustres. Um dos mais eminentes moradores do lugar era o arquiteto Oscar Niemeyer, o autor de todas as obras de arquitetura que estavam sendo construídas na inaudita cidade, exceto a Plataforma Rodoviária, que pertencia ao urbanista Lucio Costa, o vencedor do concurso que escolheu o projeto de Plano Piloto da capital do Brasil.

Era à noite que a futura cidade parecia verdadeiramente existir. As luzes penduradas em postes mambembes reduziam a imensidão do cerrado às obras em andamento. O barulho de martelos, serras, motores se expandia na escuridão avisando que algo grandioso estava sendo preparado para muito breve. Quando amanhecia, a cidade voltava a se esvanecer no terreno monumental.



(*) Conceição Freitas – Jornalista, Repórter - Foto: Arquivo- Gabriel Gondin

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