Por Monica de Bolle,
Economia brasileira não crescerá
mais do que 2% ao ano até 2021, abaixo dos 3,5% necessários para redistribuir
renda - Os brasileiros terão de se
contentar com mais cinco anos de desalento. Em 2017, começará uma retomada do
crescimento econômico a ritmo de lesma. A recuperação será tão demorada que
somente em 2022 o Produto Interno Bruto (PIB) por pessoa atingirá os US$ 6.070
de 2014, quando se iniciou nosso ciclo de decadência, em meio às eleições e ao
adiamento de ajustes necessários.
Pelas estimativas do Fundo Monetário Internacional
(FMI), a economia brasileira não conseguirá crescer acima de 2% até 2021. É uma
situação alarmante quando se leva em conta que são necessários ao menos 3,5% de
alta da produção no país para que se comece a promover distribuição de renda,
uma das maiores necessidades do Brasil. Por algum tempo, ainda continuaremos
ladeira abaixo: o desemprego seguirá crescendo ao longo da maior parte de 2017
— o mercado de trabalho demora a reagir, já que os empresários precisam ter
certeza quanto ao processo de recuperação para começar a contratar.
Especialistas advertem que, no ano que vem, o PIB
tende a crescer 0,5%, no máximo, ou mesmo encolher mais um pouco, depois do
tombo de 3,8% registrado em 2015 e da queda de 3,5% estimada para 2016. Com
isso, a taxa de desocupação pode encostar ou ultrapassar os 13%. Um dos poucos
alentos nesse quadro assustador é a inflação, que vem caindo devido à recessão
na qual o país está mergulhado. As projeções para o custo de vida, porém, mostram
que o centro da meta, de 4,5%, uma das mais altas do mundo, só deverá ser
alcançado em 2018. Com perspectivas tão desanimadoras, o país continuará
apresentando desempenho econômico abaixo da média mundial (veja arte).
A economista Monica de Bolle, pesquisadora do
Peterson Institute for International Economics, em Washington, aposta em um
terceiro ano de PIB negativo em 2017. Ela acredita que, diante do quadro
interno cada vez mais instável, com a enxurrada de delações da Operação
Lava-Jato envolvendo o núcleo do governo Temer, será difícil para o país
retomar o crescimento. E o cenário externo adverso, a partir da posse do
republicano Donald Trump nos Estados Unidos em 20 de janeiro, só agrava a
situação. “Houve uma destruição de riqueza tão grande nos últimos anos que,
agora, o governo não tem margem de manobra. Na melhor das hipóteses, a economia
ficará estagnada, mas a tendência é ter alguma contração do PIB no ano que
vem”, diz.
Sócia da Tendências Consultoria, a economista
Alessandra Ribeiro afirma que é difícil fazer projeções devido às incertezas
provocadas diariamente pela crise política. Ela reduziu de 1,5% para 0,7% a
expectativa de alta do PIB no próximo ano, mas, nem mesmo essa projeção é
segura, porque a queda de 3,5% prevista para este ano já carrega para 2017 um
efeito negativo de 0,7 ponto percentual. “Para crescer no ano que vem, será
preciso que a economia tenha expansão trimestral de pelo menos 0,6%”, explica.
“A Lava-Jato poderá trazer novas surpresas, e um risco evidente, que pode
começar a ser precificado em breve, é a possibilidade de Temer não concluir o
mandato, dependendo do que virá nas denúncias”, aponta.
Com o horizonte nebuloso, os empresários
continuarão mantendo na gaveta projetos que poderiam fazer a economia reagir, diz
Alessandra. Para Sílvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de
Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), o afastamento da ex-presidente
Dilma Rousseff, identificada como maior responsável pelos equívocos cometidos
nos últimos anos na política econômica, provocou expectativa exagerada no
mercado. “Houve excesso de otimismo após o impeachment ”, destaca. “O fato,
porém, é que a situação da economia está pior que se esperava.”
Sílvia cortou de 0,6% para 0,3% a projeção
de alta do PIB em 2017, e teme que nem essa previsão possa se concretizar. “Meu
medo é que o governo fique desesperado com a frustração do crescimento e queira
adotar medidas que deram errado no passado para tentar estimular a economia”,
afirma.
"Na melhor das hipóteses, a economia ficará estagnada,
mas a tendência é ter alguma contração no ano que vem”
(Monica de Bolle, pesquisadora do Peterson
Institute for International Economic)
Por: Rosana Hessel – Fonte: Correio
Braziliense